Em Louvor da Miniblusa

Hoje vai a antiga musa
celebrar a nova blusa
que de Norte a Sul se usa
como graça de verão.
Graça que mostra o que esconde
a blusa comum, mas onde
um velho da era do bonde
encontrará mais mensagem
do que na bossa estival
da rola que ao natural
mostra seu colo fatal,
ou quase, pois tanto faz,
se a anatomia me ensina
a tocar a concertina
em busca ao mapa da mina
que ora muda de lugar?
Já nem sei mais o que digo
ao divisar certo umbigo:
penso em flor, cereja, figo,
penso em deixar de pensar,
e em louvar o costureiro
ou costureira — joalheiro
que expõe a qualquer soleiro
esse profundo diamante
exclusivo antes das praias
(Copas, Leblons, Marambaias
e suas areias gaias).
Salve, moda, salve, sol
de sal, de alegre inventiva,
que traz à matéria viva
a prova figurativa!
Pode a indústria de fiação
carpir-se do pouco pano
que o figurino magano
reduz a zero, cada ano.
Que importa? A melhor fazenda
o mais cetĂ­nio tecido,
que me bota comovido
e bole em cada sentido,
ainda Ă© a doce pele,
de original padronagem,
pois adere a cada imagem
qual sua prĂłpria tatuagem
que ninguém copiará.
Miniblusa, miniblusa,
garanto que quem te acusa
a cuca há de ter confusa.
És pano de boca? O palco
tĂŁo redondo quĂŁo seleto
que abres ao avĂ´ e ao neto
(Ă  vista, apenas), objeto
Ă© de puro encantamento.
No cenário em suave curva
nosso olhar jamais se turva,
falte embora rima em urva,
pois Ă© pelĂşcia-piscina
onde a ilha umbilical
vale a urna de SĂŁo Gral,
o Tesouro Nacional,
vale tudo… e lembra a drĂłsera,
flor carnĂ­vora exigente
que pra devorar a gente
nĂŁo cochila certamente.
DrĂłsera? Drupa, talvez,
carnoso fruto de vida,
drusa tĂŁo bem inserida
na superfĂ­cie polida
que a blusa desvesteveste.
Ai, blublu de semiblusa,
de Ipanema ou Siracusa,
que me perco na fiĂşza
de capturar o mistério
— Quid mulieris… ? — do corpĂłreo.
Mas chega de latinĂłrio,
vanĂ­loquo verbolĂłrio
e versiconversa obtusa
de tudo que a musa canta,
pois mais alto se alevanta
o sem-véu da miniblusa.