Inominado Nome
Persigo-o no ininteligĂvel arbĂtrio
dos astros, na clandestina linfa
que percorre os tĂșrgidos corredores
do indecifrĂĄvel, nos falsos indĂcios
que, de fogos fĂĄtuos, escurecema persistente incĂłgnita do nome.
Em persegui-lo persisto onde, bem
sei, nĂŁo lograrei achĂĄ-lo, que nunca
achado serå em tempo ou espaço
que excedam meu limite e dimensĂŁo.Um nome, ainda obscuro, pressinto
no sal da boca amarga, Conheço-lhe
o rosto familiar, desfocado embora,
no halo do tempo e da distĂąncia.
Ă, creio, a face indefectĂvel de tudoquanto tenho de calar. Este nome
(este rosto) habita-me silente, contra
a recusa, a mentira, ou a calĂșnia.
Na epiderme, nos nervos e na carne,
sobre a lĂngua e o palato, adivinho-lheforma, sabor e propĂłsito. Ouço-o
dentro de mim, mau grado
o queira ou nĂŁo, que em mim
sĂł estĂĄ sofrĂȘ-lo porque em mim
vive e dura, enquanto eu dure e viva.E nĂŁo por meu mal, que meu
mal seria, mais que perdĂȘ-lo,
sem ele viver.
Um rosto persigo,
um nome guardo no sal da bocaamarga, na pedra ĂĄrdua da memĂłria,
no discurso penosamente reiterado
do sangue. Nenhum silĂȘncio
lhe darĂĄ cobro, nem fim que
nĂŁo sejam meu fim e meu silĂȘncio.