A Justa Medida no ConvĂvio
NĂŁo Ă© necessário esforçar-se demasiado pela abundância quando se tem apenas a intenção de agradar, o valor e a raridade sĂŁo bem mais consideráveis, a abundânÂcia cansa, a menos que seja extremamente diversificada. Pode atĂ© mesmo ocorrer, pelo demasiado nĂşmero de belas coisas, que nĂŁo se goste tanto, e mesmo que se estime menos aqueles que as fazem ou que as dizem; pois a abundância atrai a inveja que arruĂna sempre a amizade. Essa abundância faz tambĂ©m com que nĂŁo se admire mais aquilo que se achava, de inĂcio, tĂŁo surpreendente, pois fica-se acostumado, e aquilo nĂŁo parece mais tĂŁo difĂcil.
Em todos os exercĂcios como a dança, o manejo das armas, voltear ou montar a cavalo, conhecem-se os exceÂlentes mestres do ofĂcio por um nĂŁo sei quĂŞ de livre e desenvolto que agrada sempre, mas que nĂŁo pode ser muito adquirido sem uma grande prática; nĂŁo basta ainda ter-se exercitado assim por longo tempo, a menos que tenham sido tomados os melhores caminhos. As graças amam a justeza em tudo o que acabo de dizer; mas de um modo tĂŁo ingĂ©nuo, que dá a pensar que Ă© um presente da natureza. Isto mostra-se tambĂ©m verdadeiro nos exerÂcĂcios do espĂrito e na conversação, em que Ă© necessário ter esta liberdade para se tornar agradável. Nada faz noÂtar tanto a ignorância, e o pouco progresso, que maneiras forçadas, nas quais se percebe muito trabalho.