Cerimonial do Amor
Se nĂŁo houver esperanças de que o teu amor seja recebido, o que tens a fazer Ă© nĂŁo o declarar. PoderĂĄ desenvolver-se em ti, num ambiente de silĂȘncio. Esse amor proporciona-te entĂŁo uma direcção que permite aproximares-te, afastares-te, entrares, saĂres, encontrares, perderes. Porque tu Ă©s aquele que tem de viver. E nĂŁo hĂĄ vida se nenhum deus te criou linhas de força.
Se o teu amor nĂŁo Ă© recebido, se ele se transforma em sĂșplica vĂŁ como recompensa da tua fidelidade, se nĂŁo tens coração para te calares, nessa altura vai ter com um mĂ©dico para ele te curar. Ă bom nĂŁo confundir o amor com a escravatura do coração. O amor que pede Ă© belo, mas aquele que suplica Ă© amor de criado.
Se o teu amor esbarra com o absoluto das coisas, se por exemplo tem de franquear a impenetrĂĄvel parede de um mosteiro ou do exĂlio, agradece a Deus que ela por hipĂłtese retribua o teu amor, embora na aparĂȘncia se mostre surda e cega. HĂĄ uma lamparina acesa para ti neste mundo. Pouco me importa que tu nĂŁo possas servir-te dela. Aquele que morre no deserto tem a riqueza de uma casa longĂnqua, embora morra.
Se eu construir almas grandes e escolher a mais perfeita para a rodear de silĂȘncio, ficarĂĄs com a impressĂŁo de que ninguĂ©m recebe nada com isso. E, no entanto, ela enobrece todo o meu impĂ©rio. Quem quer que passa ao longe, prosterna-se. E nascem os sinais e os milagres.
NĂŁo importa que o amor que alguĂ©m nutre por ti seja um amor inĂștil. Desde que tu lhe correspondas, caminharĂĄs na luz. Grande Ă© a oração Ă qual sĂł responde o silĂȘncio; basta que o deus exista.
Se o teu amor é aceite e hå braços que se abrem para ti, então pede a Deus que salve esse amor de apodrecer. Eu temo pelos coraçÔes cumulados.