Extrair Muito do Pouco
Aprendemos a matemática numérica, mas não aprendemos a matemática da emoção. Aprendemos a língua, mas não aprendemos a linguagem da emoção. Por isso, aprendemos a explorar o mundo de fora, mas não aprendemos a explorar o mundo de dentro.
Centenas de milhões de alunos frequentam a escola clássica, mas não se preparam para a escola de vida. As ofensas derrotam-nos, as frustrações abatem-nos, as perdas traumatizam-nos. Quem não se prepara para ser ofendido e frustrado e para sofrer algumas perdas, não aprendeu as lições básicas da escola da vida. Quem não aprendeu a proteger a sua emoção dos focos de tensão faz dela um balde de lixo.
A educação clássica está a séculos de distância da educação da emoção. Não por culpa dos professores. Esses são heróis anónimos, pois as salas de aula deixaram de ser um jardim e transformaram-se num árido solo. A culpa está no sistema de educação que se arrasta por séculos, que raramente conhece e discute temas fundamentais, como gerir os pensamentos e navegar nas águas da emoção.
Infelizmente a nossa espécie está a adoecer coletivamente. Está a adoecer nem sempre por causa de doenças clássicas, como a depressão, a síndrome do pânico, as fobias, mas pela solidão, pela falta de solidariedade, pela crise de diálogo, pela incapacidade de contemplação do belo, pela vida stressante, pelo individualismo.O homem moderno nunca foi tão capaz para atuar no mundo exterior e nunca foi tão frágil para atuar no mundo das suas emoções e dos seus pensamentos. A ciência produziu gigantes no mundo físico e meninos no território da emoção. Eles são eloquentes para falar do mundo que os rodeia, mas ficam mudos diante dos seus sentimentos. São competentes para realizar tarefas objetivas, mas não sabem lidar com as suas perdas e frustrações.
Se é preciso que tudo esteja bem ao nosso redor para termos um pouco de alegria, então somos escravos das circunstâncias. Uma pessoa tem mais autoestima quando aprende a tirar o máximo de conforto de dentro dos sapatos que calça. Ela é mais feliz quando extrai muito do pouco.
Se aprendeu a extrair muito do pouco, está preparado para ter muito. Se não aprendeu essa lição, o seu muito será sempre pouco. Será sempre vítima da maré da insatisfação.