Virtudes Inconscientes
Todas as qualidades pessoais de que um homem tem consciĂȘncia – sobretudo quando supĂ”e que os que o rodeiam as vĂȘem, que saltam aos olhos dos outros -, estĂŁo submetidas a leis da evolução completamente diferentes daquelas que regem as qualidades que ele conhece mal ou nĂŁo conhece, as qualidades que a sua finura dissimula ao observador mais subtil e que parecem entrincheirar-se atrĂĄs da cortina do nada. Assim como a delicada gravura que esculpe a escama da serpente: seria um erro ver nela ou uma arma ou um ornamento, porque sĂł Ă© possĂvel descobri-la ao microscĂłpio, por consequĂȘncia com um olho cuja potĂȘncia Ă© devida a tais artifĂcios que os animais para os quais ela teria por sua vez servido de arma ou de ornamento nĂŁo possuem semelhante!
As nossas qualidade morais visĂveis e, nomeadamente, aquelas que nĂłs acreditamos serem tais, seguem o seu caminho; e as do mesmo nome que se nĂŁo vĂȘem, que nĂŁo podem portanto servir-nos de arma ou de ornamento, seguem assim o seu caminho, provavelmente completamente diferente, decoradas de linhas, de finuras e de esculturas que poderiam talvez dar prazer a um deus munido com um microscĂłpio divino. Eis por exemplo o nosso zelo, a nossa ambição, a nossa perspicĂĄcia: temo-los, toda a gente os conhece; mas nĂŁo possuĂmos alĂ©m disso o nosso zelo, a nossa ambição, a nossa perspicĂĄcia, escamas de rĂ©ptil para as quais ainda se nĂŁo encontrou nenhum microscĂłpio? E eis os amigos da moralidade instintiva a gritar: «Bravo! Ao menos admite a possibilidade de virtudes instintivas!…