Nós, as mulheres, o que nos faz amar um homem é aparentá-lo com tudo o que amamos – o tempo da crise, da puberdade, da gestação, do enigma; os primeiros rostos, as primeiras carícias, os primeiros medos.
Frases de Agustina Bessa-Luís
110 resultadosA intimidade excessiva desencadeia a hostilidade.
A sabedoria seduz mais do que a mulher; até porque mais depressa se atinge a sabedoria, do que se encontra uma mulher perfeita.
Só se pode sentir a evidência das coisas até um certo ponto: além disso, ou nos rebaixamos ou nos aproximamos do sentimento superior que nos liberta. De facto, o verdadeiro estado de liberdade é o de ultrapassar a imaginação.
Como artista, tenho que crer que não há ideias irrefutáveis. A Inteligência sempre se contradiz. O homem de espírito é um eterno devir, a negação das ideias irremovíveis. Se eu julgasse as minhas ideias nítidas e categóricas, faria testamento delas, e, depois, deitar-me-ia entre círios, para morrer.
Quando alguém se entrega ao ofício de ensinar, com uma fé conspícua e soberana, acreditem que a desilusão vive nele, como as ondinas num lago, como no elemento que as criou.
A essência das coisas não está na filosofia, nem na política, nem em qualquer função intelectual. Está na reciprocidade do inconsciente que não encadeia só o que é humano, mas até o que é apenas vegetal ou inerte.
Nada se aprende das recordações; são um manjar frio que só os gulosos devoram.
É extraordinário como nos tornamos violentos quando queremos agradar ao mundo. Agradar ao mundo resume o comportamento da sociedade nos seus aspectos mais retóricos.
Se há alguém que não se interessa pelos poetas, são as mulheres. As paixões que as palavras desencadeiam, isso as mulheres recebem no código que a poesia contém.
O prazer da reflexão deriva duma condição que se presume essencialmente masculina, a da interrogação. O homem interroga, a mulher escolhe. Isto estabelece a mútua dependência dos sexos.
O que é um poeta, afinal? Uma intacta opressão da alma.
O humor ilude-nos como uma faísca num campo escuro. A verve um tanto imoderada, uma corrupção do sentimento que se faz galhofa, um medo de ganhar nome de suspeita virilidade. Quem não troça é beato ou é eunuco.
A frivolidade é também uma forma de hipocrisia porque as pessoas não são aquilo. A pessoa, quanto mais frívola nos parece, mais esconde a sua natureza profunda.
O mundo não precisa de originais, mas de criaturas livres para além de todas as possibilidades humanas.
Os escritores para crianças ou são chatos ou corruptores. De resto, só escreve expressamente para crianças quem não sabe fazer outra coisa.
Escrever é isto: comover para desconvocar a angústia e aligeirar o medo, que é sempre experimentado nos povos como uma infusão de laboratório, cada vez mais sofisticada. Eu penso que o escritor com maior sucesso é aquele que protege os homens do medo: por audácia, delírio, fantasia, piedade ou desfiguração.
Se não há homens insubstituíveis, há palavras que são insubstituíveis. Elas, de resto, não exprimem nunca o conflito, mas o seu fantasma; e o fantasma duma realidade está subordinado à escolha estrita das palavras. Aí repousa o estrato da confiança humana.
As coisas simples são indissolúveis. Não havendo nelas contradição, a tendência é para serem duráveis.
O viver multipolar entre o que se ama e o que nos comove, alimenta a vontade de sermos nós próprios sem afectar o amor do próximo.