Escreve-me! Ainda que seja só Uma palavra, uma palavra apenas, Suave como o teu nome e casta Como um perfume casto d’açucenas!
Frases de Florbela Espanca
261 resultadosEu julgo que a mulher verdadeiramente digna é aquela a quem repugna uma traição, seja ela de que natureza for.
Os meus males ninguém mos adivinha… A minha Dor não fala, anda sozinha… Dissesse ela o que sente! Ai quem me dera!… Os males de Anto toda a gente sabe! Os meus… ninguém… A minha Dor não cabe nos cem milhões de versos que eu fizera!…
Quem me dera um coração
Que por mim bata somente.
Dai-me essa esmola, Senhor,
Para que eu morra contente!
Eu tecerei uns sonhos irreais… Como essa mãe que viu o filho partir; como esse filho que não voltou mais!
Lembra-te que o tempo tudo consome. E se assim não fosse, o que seria a nossa vida!? Um ermo cemitério em que cada cruz representaria um morto sempre vivo! Completamente impossível! Se o tempo consome o corpo dos que morrem, como não consumir a lembrança deles? E se assim não fosse, que vida seria a nossa!? Deus, dando-nos a dor, deu-nos também o esquecimento…
Julguei gostar dum homem em toda a minha vida e afinal nem desse gostei porque o esqueci em menos tempo do que uma criança leva a esquecer uma boneca partida.
Se as minhas mãos em garra se cravassem sobre um amor em sangue a palpitar… Quantas panteras bárbaras mataram só pelo raro gosto de matar!
Abaixo sempre os meus olhos
Quando encontro o teu olhar;
De ver o sol de frente
Ninguém se pode gabar!
São sempre os que eu recordo que me esquecem… Mas digo para mim: «não me merecem». E já não fico tão abandonada! Sinto que valho mais, mais pobrezinha: que também é orgulho ser sozinha, e também é nobreza não ter nada!
Sou eu! Sou eu! A que nas mãos ansiosas prendeu da vida, assim como ninguém, os maus espinhos sem tocar nas rosas.
Se eu tivesse saúde e dinheiro e andasse, como elas andam, a aparecer em toda a parte e a receber em suas casas toda a gente de influência nos jornais, já falavam de mim porque isto é assim: quem não aparece, esquece.
Tu julgas então que eu ambiciono alguma coisa no mundo? Ainda me conheces pouco! Eu fatigo-me até de desejar; nada há neste mundo que me não tenha cansado! Eu mais que ninguém compreendo o poeta: «Tout passe, tout lasse». E ainda tu julgas que eu me preocupo a desejar sucesso aos meus versos patetas!?… Se eu desejasse alguma coisa que deles me viesse, não trabalhava!
O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais, há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesmo compreendo, pois estou longe de ser uma pessimista; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que se não sente bem onde está, que tem saudades… sei lá de quê!
Ó pavoroso mal de ser sozinha!
Ó pavoroso e atroz mal de trazer
Tantas almas a rir dentro da minha!
Estou tão magrita! A lâmina vai corroendo a bainha, a pouco e pouco, mas implacavelmente, com segurança. Devo ter por alma um diamante ou uma labareda e sinto nela a beleza inquietante e misteriosa das obras incompletas ou mutiladas.
Olha para mim, amor, olha para mim; Meus olhos andam doidos por te olhar! Cega-me com o brilho de teus olhos Que cega ando eu há muito por te amar.
É nas almas simples que o amor é mais puro e mais forte. O manancial de águas claras que na planície vai matar sedes e reverdecer os campos, jorra do seio das duras pedras das montanhas em sítios agrestes, longe e alto!
Eu tudo compreendo, tudo sei; tenho passado a vida a arrancar-me espinhos, que não há nada que não tenha passado em mim; e a ronda trágica desta vida tem dançado comigo todas as suas danças. E para tudo tenho encontrado remédio, e tenho-me arrastado sempre; embora cansada e esfarrapada, tenho-me deixado viver.
Deixe-me dizer-lhe pela última vez que eu não tenho recordações. Ninguém guarda lembranças do que profundamente despreza.