Frases sobre Homens de Miguel Torga

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Frases de homens de Miguel Torga. As mais belas frases e mensagens de Miguel Torga para ler e compartilhar.

Muito grande e muito belo é um homem quando se despe e se mostra todo! O que nos degrada, diminui e apouca, não é sermos pequenos; é não termos dos nossos defeitos a consciência inteira. Sermos somíticos e não nos apercebermos disso; sermos burros, e não darmos conta; gostarmos da «Viúva Alegre», e andarmos convencidos de que gostamos de Stravinski.

Em termos absolutos, o homem é um valor imponderável, inteiro e perfeito como um dogma. Mas em termos relativos, sociais, o homem é o que vale para os seus semelhantes. E é na contradição de medida que vai de próximo a próximo que consiste o drama de ninguém conseguir ser ao mesmo tempo amado em Tebas e Atenas.

Que belo é ter um amigo! Ontem eram ideias contra ideias. Hoje é este fraterno abraço a afirmar que acima das ideias estão os homens. Um sol tépido a iluminar a paisagem de paz onde esse abraço se deu, forte e repousante. Que belo e que natural é ter um amigo!

Quando um homem tem dentro de si uma verdade que quer ouvidos, até peixes lhe servem para auditório. Santo António que o diga…

O homem só peca contra o homem e contra as suas criações. Só para olhos verdadeiramente impuros é que a nudez de Miguel Ângelo precisava de camisas.

O artista de agora, se quiser persistir, tem de ser um homem de acção. — Mas que acção? Ajudar a construir um mundo que o nega? Ajudar a destruir um mundo onde ele próprio já não vive? A acção dum artista é fazer a sua obra.

Não há céu que me queira depois disto,
Nem deus capaz de ouvir-me.
Um homem firme
É firme até no céu,
E até diante
Do Criador!
É o que eu diria se, ressuscitado,
Fosse chamado
A depor!

Uma arte para todos, ou uma arte para cada homem? Quem é o artista verdadeiro capaz de arcar com a responsabilidade de ficar à altura de todos?

O existencialismo é o faro de uma humanidade que pressente desgraça. É uma reacção instintiva e alógica, mas precavida contra a perspectiva do anonimato que a espera. Não há salvação fora do homem, diz Sartre. E o homem, que sente debaixo dos pés o abismo da sua destruição como indivíduo, agarra-se à própria raiz.

O homem ou é um indivíduo, ou não é nada. Tudo, menos perder a confiança que é preciso ter no semelhante, base de todo o convívio e de toda a colaboração.

Ou a nossa amizade é realmente muito forte, ou isto é um deserto tão deserto que um homem quando agarra uma palmeira não a larga mais.

É escusado: não há, de facto, progresso moral. Eu arda, se este meu amigo, sob o ponto de vista do respeito que se deve ao semelhante como homem, não está exactamente ao nível do mais reles e sinistro habitante das cavernas!

Até que ponto é o artista um anormal, não sei nem quero saber. A anormalidade nunca me meteu medo, se é criadora. Agora até que ponto o homem normal combate o artista e o quer destruir, já me interessa. A normalidade causou-me sempre um grande pavor, exactamente porque é destruidora.

Que no mundo seja possível um homem fazer uma pintura na China e no tempo de qualquer Ming, e essa mesma pintura, mil anos depois, esteja no outro polo a comover os olhos de alguém — é de a gente se ajoelhar e beijar de gratidão a terra que nos pariu.

Porque não tentava eu dar forma capaz a tudo quanto dizia, que era realmente belo? Porque não. Porque um homem não se escreve.

Sobretudo, não desesperar. Não cair no ódio, nem na renúncia. Ser homem no meio de carneiros, ter lógica no meio de sofismas, amar o povo no meio da retórica.

Os deuses teimam em fazer-me sentir que sou homem.O erro deles é cuidarem que eu quero ser outra coisa.