Quantas vezes? Amor, já te esqueci, para mais doidamente me lembrar.. mais doidamente me lembrar de ti…
Frases Interrogativas de Florbela Espanca
37 resultadosA dor dos pobres é resignada e calma; traz às vezes consigo as aparências da revolta, mas, no fundo, é cheia dum imenso, dum infinito desapego por tudo. Os pobres vêm ao mundo já sem nada; o pouco que a vida lhes deixa é emprestado. Que lhes hão-de tirar que seja deles?! Aos pobres toda a gente chama desgraçados.
Queria tanto saber porque sou Eu! Quem me enjeitou neste caminho escuro? Queria tanto saber porque seguro nas minhas mãos o bem que não é meu!
Estou cansada, cada vez mais incompreendida e insatisfeita comigo, com a vida e com os outros. Diz-me, porque não nasci igual aos outros, sem dúvidas, sem desejos de impossível? E é isto que me traz sempre desvairada, incompatível com a vida que toda a gente vive…
Um livro é uma vaidade! Que importa ao mundo a côr da nossa imaginação, e as formas do nosso pensamento?
Lembra-te que o tempo tudo consome. E se assim não fosse, o que seria a nossa vida!? Um ermo cemitério em que cada cruz representaria um morto sempre vivo! Completamente impossível! Se o tempo consome o corpo dos que morrem, como não consumir a lembrança deles? E se assim não fosse, que vida seria a nossa!? Deus, dando-nos a dor, deu-nos também o esquecimento…
Tu julgas então que eu ambiciono alguma coisa no mundo? Ainda me conheces pouco! Eu fatigo-me até de desejar; nada há neste mundo que me não tenha cansado! Eu mais que ninguém compreendo o poeta: «Tout passe, tout lasse». E ainda tu julgas que eu me preocupo a desejar sucesso aos meus versos patetas!?… Se eu desejasse alguma coisa que deles me viesse, não trabalhava!
O meu talento!… De que me tem servido? Não trouxe nunca às minhas mãos vazias a mais pequenina esmola do destino.
Na estrada da vida os caminhantes passam de olhos vendados. Onde vamos?
Para mim? Para ti? Para ninguém. Quero atirar para aqui, negligentemente, sem pretensões de estilo, sem análises filosóficas, o que os ouvidos dos outros não recolhem: reflexões, impressões, ideias, maneiras de ver, de sentir — todo o meu espírito paradoxal, talvez frívolo, talvez profundo.
Guardar-me intacta, como um cristal transparente, para quê? Mas não imitemos Jeremias… só na alma é que a lama se não apaga; aquela com que nos salpicam, sai com água limpa.
Diz-me, porque não nasci igual aos outros, sem dúvidas, sem desejos de impossível? E é isso que me traz sempre desvairada, incompatível com a vida que toda a gente vive.
Quem me dirá se, lá no alto, o céu também é para o mau, para o perjuro? Para onde vai a alma que morreu? Queria encontrar Deus! Tanto o procuro!
Onde está ela, Amor, a nossa casa, o bem que neste mundo mais invejo?
A morte definitiva ou a morte transfiguradora? Mas que importa o que está para além? Seja o que for, será melhor que o mundo! Tudo será melhor do que esta vida!
Eu de tudo me aborreço, não te confessei já? Entusiasmo-me às vezes, mas dura pouco o entusiasmo; isto quanto a sensações e pensamentos, porque com os sentimentos é o contrário, infelizmente para mim.
Nasci sensitiva e assim hei-de morrer, muito provavelmente… nós somos o que somos e não o que quereríamos ser; não te parece? Tens que me aceitar como eu sou visto que só assim eu creio que me possam ter amor.
O amor dum homem? – Terra tão pisada!
Gota de chuva ao vento baloiçada…
Um homem? – Quando eu sonho o amor dum deus!…
Os mortos não voltam, e é melhor que assim seja… Que vergonha se voltassem! Onde há por aí uma alma de vivo que se tivesse mantido digna de semelhante prodígio?… Eles vão, e a gente fica, e ri, e canta, e deseja, e continua a viver! Mutilados, amputados, às vezes do melhor de nós mesmos, a gente é como estes vermes repugnantes que, cortados aos pedaços, criam novas células, completam-se e continuam a rastejar e a viver! É uma miséria, é, mas é assim!
Até hoje, todas as minhas cartas de amor não são mais que a realização da minha necessidade de fazer frases. Se o Prince Charmant vier, que lhe direi eu de novo, de sincero, de verdadeiramente sentido? Tão pobres somos que as mesmas palavras nos servem para exprimir a mentira e a verdade!