Somos ruĂnas. Somos o que foi uma casa com gente viva e crianças a crescer, fumo na chaminĂ©, janelas abertas nas noites de verĂŁo, e hoje Ă© tijolos espalhados na terra e arredondados pela chuva, telhas partidas na terra, caliça e terra espalhados no soalho podre de madeira, e ervas a crescer entre as tábuas do soalho. Alguma vez teremos sido uma coisa sĂłlida, uma casa viva?
Frases Interrogativas de JosĂ© LuĂs Peixoto
7 resultadosAs certezas são sempre uma vantagem. Há razões contra tudo e a favor de tudo. Qualquer ponto de vista pode ser justificado ou condenado. Além disso, há possibilidades infinitas entre o sim e o não. Pouco importa as respostas que escolhas, quem terá suficiente autoridade para as julgar? Quem se achará com suficiente lucidez para te contradizer? Alguém cheio de certezas, não te parece?
Envelheces um dia por dia, cada dia a mais Ă© um dia a menos. Eu sei que há isto e aquilo, há as outras pessoas e a grande quantidade de coisas que pensas que elas pensam, mas queres uma novidade? As outras pessoas estĂŁo-se lixando. Se fizeres aquilo que Ă© imperativo que faças, a respiração das outras pessoas nĂŁo se perturbará mais do que um nada invisĂvel. Estás Ă espera de quĂŞ?
As canções e os poemas ignoram tanto acerca do amor. Como se explica, por exemplo, que não falem dos serões a ver televisão no sofá? Não há explicação. O amor também é estar no sofá, tapados pela mesma manta, a ver séries más ou filmes maus. Talvez chova lá fora, talvez faça frio, não importa. O sofá é quentinho e fica mesmo à frente de um aparelho onde passam as séries e os filmes mais parvos que já se fizeram. Daqui a pouco começam as televendas, também servem.
O que será daquele que come e pensa se não tiver esperança? Viver é acreditar que se vive.
Dar um passo pode ser fruto de uma decisĂŁo complexa. Há a possibilidade de seguir para a direita ou para a esquerda, posso continuar em frente ou voltar para trás, desfazer. Cada escolha lançará uma cadeia de resultados. Mal comparado, Ă© como acordar na estação Sèvres-Lecourbe e nĂŁo ter mapa do metro, nunca ter estado ali, nĂŁo saber sequer onde se está, nĂŁo saber sequer o que Ă© o metro. Ter de aprender tudo. Ao fim de um tempo, com sorte, conversando com pedintes cegos, tocadores de concertina, talvez se consiga chegar Ă conclusĂŁo que se quer ir para a estação Ourcq, esse Ă© o lugar onde se poderá ser feliz, mas como encontrar o caminho sem mapa, sem conhecer linhas e ligações? É possĂvel arrastar a vida inteira no metro de Paris e nunca passar por Ourcq. É tambĂ©m possĂvel passar por lá e nĂŁo reconhecer que Ă© ali que se quer sair.
Mas o que Ă© a felicidade? Se a alcançássemos, serĂamos capazes de possuĂ-la?