Quando finalmente acabou de chorar, notou que as lágrimas haviam formado à sua volta uma bonita e triste lagoa. E, ao dar-se conta de que era funda o bastante para um homem se afogar, deixou-se afundar nela.
Frases de Joel Neto
84 resultadosEu presto mais respeito a quem escreve um livro, qualquer que ele seja, do que a quem de repente se julga importante por não fazer absolutamente nada.
A condescendência, com o que tinha de indiferença e de mentira, era a grande inimiga da intimidade. A verdade podia fazer muita mossa. Estava longe de ser um valor absoluto. Mas, se ruía a intimidade, restava o quê? Sustinha-se de pé o quê? Sustinha-nos de pé o quê?
Uma mulher sexy será sempre uma mulher sexy, mesmo que vestida de esquimó – e uma mulher a fingir que é sexy será sempre uma mulher a fingir que é sexy, mesmo que (ou sobretudo se) vestida com sapatos altos, meias de renda e mais nada.
Dizia D. H. Lawrence que a pornografia é “a tentativa de insultar o sexo” – e eu não estou de acordo. A pornografia é, antes, a aceitação da desesperança sem cair no desespero, atitude que sobre todas as outras me parece adequada aos tempos.
A culpa é uma coisa extraordinária. No limite, até somos capazes de confundi-la com amor.
Quando um homem decide fazer de uma determinada coisa a sua vida toda, ou se empenha em alargar os limites dessa coisa, ou essa coisa é apenas a lama que o engolirá.
A culpa pode ser a pior conselheira. (…) A culpa tolda até as imagens mais nítidas.
Se muitos casais perdem o desejo ao fim de alguns anos, é porque o mistério desapareceu. Se outros tantos o mantêm latejante ao fim de várias décadas, é porque encontraram uma forma de reinventar o mistério. Feitas as contas, tem de haver sempre alguma espontaneidade – até alguma pressa, alguma urgência.
Se há uma coisa comum a qualquer ser humano, é o impulso de sobrepor-se ao ser humano em frente, quer seja pondo-lhe o pé no pescoço, quer seja passando-lhe a mão na cabeça.
Mas a vida não tinha recomeços, o que era, aliás, a maior das suas tragédias.
Filhos de pais cuja memória alcança para além do dia do primeiro parto resultam sempre em adultos mais saudáveis, desempoeirados e independentes.
O homem de bom senso jamais cometerá uma loucura de pouca importância.
As mentiras que as pessoas contavam a si próprias pareciam-lhe o mais delicado e fundamental equilíbrio em que assentava a ordem do mundo.
Apaixonaram-se como as pessoas se apaixonam na adolescência, avassaladoramente e também por acaso.
“O inferno são os outros”, dizia Sartre, o supremo filósofo pós-freudiano. O inferno são os outros, tanto quanto nós próprios – e em nós habitam tanto o Inferno como o Céu. Todo o Bem, como de resto todo o Mal, está no Homem – e permanecerão ambos no Homem quando um dia, como é inevitável, ele for contagiado.
Nunca a gratidão se isentou da sua parte de remorso.
Parecia saber quando protegê-lo e quando educá-lo, e em momentos de fraqueza chegava a ponderar se, havendo podido ser dono de um cão antes de ser pai de uma criança, não teria afinal conseguido corresponder a pelo menos uma parte daquilo que se espera de um homem.
Talvez nem ela própria se apercebesse do mal que uma beleza como a que possuía podia deixar atrás de si.
A História enferma com demasiada frequência do impulso de transformar em números e tendências as rugosidades, as assimetrias e os paladares.