Da glória, que não é romper muralhas,
Tragar a natureza,
Ou nutrir ilusões, dar vulto ao nada,
Mas em jugo macio
Docemente prender geral vontade.
Frases de Manuel Maria Barbosa du Bocage
30 resultadosO vento não se mexe, nem respira ;
Deixam de namorar-se os passarinhos,
Para me ouvir chorar ao som da lira.
Ó serena amizade!
Tu prestas mais que Amor: seus vãos favores
São caros, são custosos.
Amor em sendo ditoso
Costuma ser imprudente,
E nos gestos de quem ama
Logo o vê quem o não sente.
Aquele canta e ri; não se embaraça
Com essas coisas vãs que o mundo adora
Este (oh, cega ambição!) mil vezes chora
Porque não acha bem que o satisfaça.
Por entre a chuva de mortais peloiros
A nua fronte enriquecer de loiros
Eu procuro, eu desejo,
Para teus mimos desfrutar sem pejo,
Pois quem deste esplendor se não guarnece,
Não é digno de ti, não te merece.
Meus pensamentos se apuram,
Apuram-se os meus desejos
No ténue filtro celeste
De teus espontâneos beijos.
Virtude os meios ama, odeia extremos;
Extremos são no mundo ou erro ou culpa.
Do mesmo que abrilhanta a Humanidade
Longe, longe, ó mortais, o injusto excesso!
Rasga meus versos. Crê na eternidade.
Ingénuo, tem conta de ti!
No mundo há muitos enganos
(Eu o sei, porque os sofri);
Os bons padecem mil danos
Julgando os outros por si.
Vós suspirais pela posse
Das externas perfeições;
Vós cobiçais os deleites,
Eu cobiço os corações.
Faço a paz, sustento a guerra,
Agrado a doutos e a rudes,
Gero vícios e virtudes,
Torço as leis, domino a Terra.
A frouxidão no amor é uma ofensa,
Ofensa que se eleva a grau supremo;
Paixão requer paixão; fervor e extremo
Com extremo e fervor se recompensa.
Um tímido pudor activos fogos
Contrariava em vão, em vão retinha
Ignotos medos, sôfregos desejos.
Suspensa e curiosa, eu esperava
Gostosa cena, em que prolixas noites
Pensando o que seria, despendera.
Céus! Amar sem ser amado!
Ah! Se a vossa liberdade
Zelosamente guardais,
Como sois usurpadores
Da liberdade dos mais?
Política feroz, que sempre armada
De bárbaros pretextos,
À morte horrenda em lúgubre teatro
Dás vítimas sem conto,
Apoucas e destróis a Humanidade,
Afectando mantê-la.
Só tu, meu bem, me arrebatas
A vontade, o pensamento;
Vivo de ver-te e de amar-te,
E detesto o fingimento.
Mas, ah tirano Amor! Ou cedo ou tarde
É forçoso aos mortais sofrer teu jugo;
Amor, tu és um mal que fere a todos:
Longa experiência contra ti não vale,
Ou Virtude, ou Razão, só vale a Morte.
Triste quem ama, cego quem se fia.