Frases de Mia Couto

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Frases de Mia Couto. Conheça este e outros autores famosos em Poetris.

Faça como o galo que mostra as penas do rabo. Quanto mais belas as penas, menos você cai na panela.

Os europeus, quando caminham, parecem pedir licença ao mundo. Pisam o chão com delicadeza mas, estranhamente, produzem muito barulho.

Um homem salva-se se é vontade da sua vida. Os outros são só o alimento dessa vontade.

A fortuna dela estava espalhada pelo chão: tigelas, cestas, pilão. Em volta era o nada, mesmo o vento estava sozinho.

De facto, nenhum sonho pode ser reescrito, um sonho pede uma linguagem que não há, que é a linguagem dos sonhos, e para se ter acesso a essa linguagem só há uma via, uma porta, que é a porta da poesia.

Eu me abria e confessava antigas lembranças ao estrangeiro. Vantagem de um estranho é que confiamos essa mentira de termos uma só alma.

O segredo é demorar o sofrimento, cozinhá-lo em lentíssimo fogo, até que ele se espalhe, diluto, no infinito do tempo.

Cada coisa tem direito a ser uma palavra. Cada palavra tem o dever de não ser nenhuma coisa.

Por estranho complexo de inferioridade, estamos sempre receosos de que os outros nos venham influenciar. E não reparamos no movimento inverso. Hoje, os maiores escritores ingleses são oriundos da Ásia, a maior fadista portuguesa vem de Moçambique e uma das maiores cantoras de flamengo espanhol é uma negra da Guiné Equatorial.

Uns sabem e não acreditam. Esses não chegam nunca a ver. Outros não sabem e acreditam. Esses não vêem mais que um cego.

Só quem reza, em total entrega da alma, sabe desse acender e tombar da palavra nos abismos.

O que dói na morte é a falsidade. A morte apenas existe por uma brevíssima troca de ausências. Em outro ser, o morto irá renascer. A nossa dor é a de não sabermos ser imortais.

Quero morar numa cidade onde se sonha com chuva. Num mundo onde chover é a maior felicidade. E onde todos chovemos.

As ideias funcionam como esposas ciumentas que fecham as cortinas e trancam o marido à chave. E essas ideias parecem entidades cansadas que dormem na cama da memória. E sucede connosco uma coisa dramática que é: cada vez mais somos quem já fomos.