Frases sobre Sentidos de Miguel Esteves Cardoso

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Frases de sentidos de Miguel Esteves Cardoso. As mais belas frases e mensagens de Miguel Esteves Cardoso para ler e compartilhar.

Bendito o dia. Bendita a hora. Bem digo eu, com o mais doce amor, que a hora em que a conheci e me apaixonei por ela foi a hora da minha glória, o momento mais sentido, aberto e despreocupado da minha vida. Ela não é como o calor. Ela é rara ser como ele, embora possa. Ela é como o clima; ela é como Portugal, de norte a sul e de litoral a interior. O meu amor nasceu ontem. Eu nasci um segundo depois.

Querer estar bem com todos é, quanto a mim, mais odioso que ter ódio a toda a humanidade. O amigalhaço é aquele que acaba por ser inimigo de todos, na maneira como se comporta, para ser amigo só de si mesmo, no resultado desse comportamento. A amizade só faz sentido quando traduz claramente uma escolha.

Quando se usam palavrões sem ser com o sentido concreto que têm, é como se estivéssemos a desinfectá-los, a torná-los decentes, a recuperá-los para o convívio familiar.

Os portugueses não são assim muito fiéis. E não se julgue que são só os homens. Essa teoria nunca fez muito sentido. Se as mulheres são todas mais fiéis, com quem é que os homens estão a ser infiéis?

Hoje em dia as pessoas apaixonam-se por uma questão prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão mesmo ali ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato. Por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.

A glória do império português está na maneira como soube preservar-se e misturar as raças, culturas e nacionalidades. No seu sentido mais profundo, significou respeitar a diferença, sem no entanto deixar que se tornasse sacrossanta.

O humor é um sentido como o olfacto. Assim como quase tudo tem um cheiro, quase tudo tem a sua graça. Mesmo as maiores desgraças. Pode dizer-se que a graça que elas têm é cruel ou de mau gosto ou – pior ainda – que não têm piada nenhuma. Mas não há desgraça que não tenha a sua graça.

O sentido de humor dos Portugueses não tem graça nenhuma. Nunca é só para fazer rir. Visa sempre um objectivo. É apenas uma maneira diferente de dizer uma coisa.

Portugal é um luxo. Sai caro. Quem é que está disposto a pagar o preço. O preço da independência política de Portugal não podia ser maior: é a pobreza. Acrescida de uma taxa: a solidão. As recompensas são menos concretas: a dignidade, o sentido do dever cumprido, a liberdade nacional.

Estar bem disposto é usar o sentido de humor que Deus nos deu, é ter as narinas abertas, é estar disposto a achar graça no que não deveria ter graça nenhuma.

Estar bem disposto é uma mistura de sentido de proporção, sentido de humor, capacidade de disfarce, e vontade de agradar. É raro ver um português bem disposto. O melhorzinho que se arranja hoje em dia é a nossa versão anos 90 da sociabilidade, que não consiste em estar bem disposto mas em estar «disponível». Como quem diz: «Eu por mim não me vou dispor bem, mas se houver aí alguém que se queira aventurar, estou disposta a deixá-lo mexer na minhas peças a ver se acerta e me põe bem…».