Quem não sabe introduzir a sua vontade nas coisas, introduz nelas pelo menos um «sentido»: quer dizer, acredita que existe já ali dentro uma vontade (princípio da «fé»).
Passagens de Friedrich Nietzsche
871 resultadosÉ mais difícil ferir a nossa vaidade justamente quando foi ferido o nosso orgulho.
O Sentimento de Poder
Ao fazer o bem e mal, exercemos o nosso poder sobre aqueles a quem se é forçado a fazê-lo sentir; porque o sofrimento é um meio muito mais sensível, para esse fim, do que o prazer: o sofrimento procura sempre a sua causa enquanto o prazer mostra inclinação para se bastar a si próprio e a não olhar para trás. Ao fazer bem ou ao desejarmos o bem exercemos o nosso poder sobre aqueles que, de uma maneira ou de outra, estão já na nossa dependência (quer dizer que se habituaram a pensar em nós como nas suas causas); queremos aumentar o seu poder porque assim aumentamos o nosso, ou queremos mostrar-lhes a vantagem que há em estar em nosso poder; ficarão mais satisfeitos com a sua situação e mais hostis aos inimigos do nosso poder, mais prontos a combatê-los. O facto de fazermos sacrifícios para fazer o bem ou o mal não altera em nada o valor definitivo dos nossos actos; mesmo se arriscarmos a nossa vida, como o mártir pela sua igreja, é um sacrifício que fazemos à nossa necessidade de poder, ou a fim de conservar o nosso sentimento de poder.
A vontade é impotente perante o que está para trás dela. Não poder destruir o tempo, nem a avidez transbordante do tempo, é a angústia mais solitária da vontade.
Escreve com sangue e aprenderás que sangue é espírito.
A moralidade é a melhor de todas as regras para orientar a humanidade.
Eu tenho o meu caminho. Você tem o seu caminho. Portanto, quanto ao caminho direito, o caminho correto, e o único caminho, isso não existe.
O riso é um prazer com a miséria alheia, mas que se toma com uma boa consciência.
O Ponto da Sinceridade no Embuste
Em todos os grandes embusteiros há um fenómeno digno de nota, ao qual eles devem o seu poder. No próprio acto do embuste, entre todos os preparativos, com o horripilante na voz, na expressão, nos gestos, no meio da eficiente encenação, acomete-os a crença em si próprios: é esta que, tão milagrosa e fascinante, fala então aos circunstantes. Os fundadores das religiões distinguem-se desses grandes embusteiros por não sairem deste estado de auto-ilusão: ou, muito raramente, lá têm aqueles momentos mais lúcidos, em que a dúvida os subjuga; mas, habitualmente, consolam-se, atribuindo esses momentos mais lúcidos ao maligno Satanás. O engano de si próprio tem de estar presente, para que estes como aqueles façam um efeito grandioso. Pois as pessoas acreditam na verdade daquilo que, visivelmente, é crido com veemência.
Todos vós, que amais o trabalho desenfreado (…), o vosso labor é maldição e desejo de esquecerdes quem sois.
Com a virtude, nunca se fundaria o reino da virtude! É que a virtude consiste na renúncia ao poder, à perda da vontade de dominar.
Eu não refuto os ideais, apenas ponho luvas diante deles…
Toma cuidado com os que se mostram pequenos. Em tua presença se sentem pequenos e sua baixeza arde e alimenta invisível vingança contra ti.
Quando deixamos de encontrar em Deus a grandeza, também não a encontramos em parte alguma. Então, ou a negamos, ou temos que criá-la.
O tique-taque de seu coração marca o tempo que se esvai.
Onde acaba o Estado começa o homem que não é supérfluo.
O homem superior, em cada uma das suas acções, viola um sem-número de vezes a vossa lei moral.
Um facto é sempre absurdo e sempre se pareceu mais com um bezerro do que com um deus.
O Homem Age Sempre Bem
Não acusamos a Natureza de imoral, se ela nos manda uma trovoada e nos molha: porque chamamos imoral à pessoa que prejudica? Porque, aqui, admitimos uma vontade livre exercendo-se arbitrariamente; ali, uma necessidade. Mas essa distinção é um erro. E mais: nem em todas as circunstâncias chamamos «imoral» mesmo ao acto de lesar com intenção; por exemplo, mata-se deliberadamente um mosquito, sem hesitação, apenas porque o seu zumbido nos desagrada, castiga-se com intenção o criminoso e inflige-se-Ihe sofrimento, para nos protegermos a nós e à sociedade. No primeiro caso, é o indivíduo que, para se manter ou até para não se expor a um desagrado, faz sofrer intencionalmente; no segundo, é o Estado. Toda a moral aceita que se faça mal de propósito, em legítima defesa: ou seja, quando se trata da conservação de si próprio! Mas estes dois pontos de vista bastam para explicar todas as más acções cometidas por seres humanos contra seres humanos: ou se quer prazer para si ou se quer evitar desprazer; em qualquer dos sentidos, trata-se sempre da conservação de si próprio. Sócrates e Platão também têm razão: seja o que for que o homem faça, ele faz sempre o bem, isto é, aquilo que lhe parece bom (útil),
A grandeza do homem consiste em que ele é uma ponte e não um fim; o que nos pode agradar no homem é ele ser transição e queda.