Passagens sobre Gatos

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Frases sobre gatos, poemas sobre gatos e outras passagens sobre gatos para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

A força do gato estar nas unhas, a força do cachorro estar nos dentes. Gato que não arranha, cachorro que não morde, não faz mal a gente.

A Subfelicidade

O que mais dói não é – desengana-te – a infelicidade. A infelicidade dói. Magoa. Martiriza. É intensa; faz gritar, sofrer, saltar, chorar. Mas a infelicidade não é o que mais dói. A infelicidade é infeliz – mas não é o que mais dói.

O que mais dói é a subfelicidade. A felicidade mais ou menos, a felicidade que não se faz felicidade, que fica sempre a meio de se ser. A quase felicidade. A subfelicidade não magoa – vai magoando; a subfelicidade não martiriza – vai martirizando. Não é intensa – mas é imensa; faz gritar, sofrer, saltar, chorar – mas em silêncio, em surdina, em anonimato. Como se não fosse. Mas é: a subfelicidade é. A subfelicidade faz-te ficar refém do que tens – mas nem assim te impede de te sentires apeado do que não tens e gostarias de ter. Do que está ali, sempre ali, sempre à mão de semear – e que, mesmo assim, nunca consegues tocar. A subfelicidade é o piso -1 da felicidade. E não há elevador algum que te leve a subir de piso. Tens de ser tu a pegar nas tuas perninhas e a subir as escadas. Anda daí.

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Gatos podem ser engraçados, mas têm os modos mais estranhos de mostrar sua alegria. O nosso sempre urinou em nossos sapatos.

SĂŁo Mais as Vozes que as Nozes

Mais sĂŁo as vozes que as nozes
p’ra mim nesta ocasião,
e para vós nesta acção
mais as nozes que as vozes:
vĂłs jogais os arriozes
com elas muito contentes;
e, sendo as nozes tĂŁo quentes,
eu fico d’elas mui frio;
vĂłs com calor e com brio,
com elas ficais valentes.

Assim que a guerra será
nĂŁo guerra de cĂŁo com gato,
senĂŁo de gato com rato
que é para vós guerra má:
que eu não posso sofrer já
tanta perda, nem tal dano,
nem que um ratinho tirano
me dĂŞ uma e outra vez
más horas em português,
maus «ratos» em castelhano.

A Meus Filhos

A meus filhos
desejo a curva do horizonte.

E todavia deles tudo em mim desejo:
o felino gosto de ver,
o brilho chuvoso da pele,
as mĂŁos que desvendam e amam.

Marga,
meu fermento,
neles caminho e me procuro,
a corpo igual regresso:

ao rápido besouro das lágrimas,
ao calor da boca dos cĂŁes,
Ă  sua lĂ­ngua de faca afectuosa;

Ă  seta que disparam os ibiscos,
Ă  partida solene da cama de grades,
ao encontro, na praia, com as algas;

Ă  alegria de dormir com um gato,
de ver sair das vacas o leite fumegante,
Ă  chegada do amor aos quatro anos.

Sou afeiçoado aos porcos. Os cães olham-nos submissamente, os gatos com desprezo. Os porcos tratam-nos como iguais.

As Amadas Passam como o Vento

Um dia percebemos que as amadas se evaporam
no ar como se nunca tivessem existido.
Sombras de pássaros na água

elas emigram para lugares distantes
ou talvez para alguma estrela
dessas que flamejam nos trapézios do céu.

As amadas passam como o vento
sĂŁo inconstantes como as brisas que derrubam
as folhas mortas de um pomar.

Semelhantes a esses gatos de pelĂşcia
que nos arranham com seus bigodes de mercĂşrio
e vĂŁo-se lambuzar no pires de leite.

As amadas, quando vĂŁo embora,
deixam apenas a memĂłria do perfume
como um punhal cravado em nosso peito.

[Argila ErĂłtica: 8]

Queima a ponte que acabaste de atravessar. Para quem não pode recuar só resta avançar. Até o rato quando encurralado ataca o gato.

Sete Haicais – um Poema

Este vale canta
– um pássaro fez morada
em sua garganta.

O inverno me achou
lavrando a terra. Havia paz
no canto das pás.

Botas de soldado
frente ao mar. – Vindes matar
até as gaivotas?

Partes para a guerra.
Sim, nada digas. Ouçamos
o rio de formigas.

A ideia da morte
vem-me ao colo e pede afagos
como um gato (abstracto).

Ah! amigo, amigo
– alĂ©m da morte, que posso
repartir contigo?

Porque tudo já
foi dito, destravo a lĂ­ngua
no vazio, aos gritos!

O Natal de Minha MĂŁe

A abstracção não precisa de mãe nem pai
nem tĂŁo pouco de tĂŁo tolo infante

mas o natal de minha mĂŁe Ă© ainda o meu natal
com restos de Beira Alta

ano apĂłs ano via surgir figura nova nesse
presépio de vaca burro banda de música

ribeiro com patos farrapos de algodĂŁo muito
musgo percorrido por ovelhas e pastores

multidĂŁo de gente judaizante estremenha pela
mĂŁo de meu pai descendo de montes contando

moedas azenhas movendo água levada pela estrela
de Belém

um galo bate as asas um frade está de acordo
com a nossa circuncisĂŁo galinhas debicam milho

de mistura com um porco a que minha avĂł juntava
sempre um gato para dar sorte era preto

assim íamos todos naquela figuração animada
até ao dia de Reis aí estão

um de joelhos outro em pé
e o rei preto vinha sentado no

camelo. Era o mais bonito.
depois eram filhoses o acordar de prenda no

sapato tudo tĂŁo real como o abrir das lojas no dia
de feira

e eu ia ao Sanguinhal visitar a minha prima que
tinha um cavalo debaixo do quarto

subindo de vales descendo de montes
acompanhando a banda do carvalhal com ferrinhos

e roucas trompas o meu Natal Ă© ainda o Natal de
minha mĂŁe com uns restos de canela e Beira Alta.

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Na Arca Aberta, o Justo Peca

Na arca aberta o justo peca,
nĂŁo em canastra fechada;
mas vĂłs da minha coitada
fechada a fazeis caneca:
vindes lá de seca e meca
com tal pressa e furor tal,
que fazeis, para meu mal,
com mau termo e ruim modo,
do meu queijo lama e lodo,
e do meu pĂŁo cinza e sal.

Quando as peras me levais,
entĂŁo para peras levo,
pois vos pago o que nĂŁo devo,
e vĂłs rindo vos ficais:
se pĂŞra flamenga achais
a comeis em portuguĂŞs,
e me fazeis d’essa vez,
com estrondo e com arenga,
os narizes á flamenga
muito mal em que me pez.

Não vos escapam por pés
minhas cerejas bicais,
nem as ginjas garrafais,
se as tenho alguma vez:
porque mal, em que me pez,
como cerejas se vĂŁo
pelos pés á vossa mão
e da vossa mão á minha,
a cereja Ă© marouvinha
as ginjas galegas sĂŁo.

Passa hoje por lebre o gato,
por perdiz passa o francelho
por capĂŁo o galo velho,

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Do Mal Guardado Come o Gato

Dizem que o gato e o ladrĂŁo
leva o mal arrecadado;
mas vĂłs do melhor guardado
na canastra lançais mão.
Porque vossos dentes sĂŁo
umas mui agudas puas,
e vossas unhas gazuas,
e vĂłs uns salteadores;
e assim vos fazeis senhores
de minhas cousas e suas.