Pelo medo de ter de se contentar com pouco, a maioria dos homens se deixa levar a actos que aumentam mais ainda esse medo.
Passagens sobre Homens
7018 resultadosO mundo tornou-se perigoso, porque os homens aprenderam a dominar a natureza antes de se dominarem a si mesmos.
A palavra foi dada ao homem para esconder o seu pensamento.
O homem honesto mente dez vezes por dia; a mulher honesta, vinte vezes; o homem do mundo, cem vezes. Nunca se pôde saber quantas vezes, por dia, mente uma mundana.
Não é pelo dinheiro em si que os homens o desejam; é pelo que podem comprar com ele.
A Força e a Moral
O homem constata o facto natural de um lobo poder devorar uma ovelha, pois que o lobo obedece ao seu apetite e é dotado da força necessária para satisfazê-lo. Mas o homem não se limita a essa constatação elementar, ao alcance de qualquer animal inferior. Ele reconhece também que está no seu poder impedir que a ovelha seja devorada pelo lobo. A moral é, justamente, a soma de conquistas obtidas pelo homem sobre a tirania dos seus instintos. Se a força constituísse para o homem um imperativo categórico, não haveria tentativas de resistência contra a força.
A Débil
Eu, que sou feio, sólido, leal,
A ti, que és bela, frágil, assustada,
Quero estimar-te sempre, recatada
Numa existência honesta, de cristal.Sentado à mesa dum café devasso,
Ao avistar-te, há pouco, fraca e loura,
Nesta Babel tão velha e corruptora,
Tive tenções de oferecer-te o braço.E, quando socorreste um miserável,
Eu, que bebia cálices de absinto,
Mandei ir a garrafa, porque sinto
Que me tornas prestante, bom, saudável.“Ela aí vem!” disse eu para os demais;
E pus-me a olhar, vexado e suspirando,
O teu corpo que pulsa, alegre e brando,
Na frescura dos linhos matinais.Via-te pela porta envidraçada;
E invejava, — talvez que não o suspeites! –
Esse vestido simples, sem enfeites,
Nessa cintura tenra, imaculada.Ia passando, a quatro, o patriarca.
Triste eu saí. Doía-me a cabeça.
Uma turba ruidosa, negra, espessa,
Voltava das exéquias dum monarca.Adorável! Tu, muito natural,
Seguias a pensar no teu bordado;
Avultava, num largo arborizado,
Uma estátua de rei num pedestal.Sorriam, nos seus trens,
A história não é mecânica, porque os homens são livres para a transformar.
O que faz que os homens formem um povo é a lembrança das grandes coisas que fizeram juntos e a vontade de realizar outras.
A Monotonia
Nos grandes momentos todos são heróis; tem-se sempre a ideia, embora vaga, de que se está representando e que o papel se deverá desempenhar com perfeição; de outro modo não aplaude o público. Depois as epopeias duram pouco; todas as forças se podem concentrar, faz-se um apelo supremo à suprema energia; em seguida permite-se o descanso, a mediocridade que apazigua e repousa; nada mais vulgar do que um herói fora do seu teatro.
Não é, pois, necessário que te prepares para as crises; são horas em que sempre – se não és totalmente apagado – te encontrarás acima de ti próprio; mil elementos te farão pedestal; tão alto subirás que só te será difícil, passada a exaltação, não te admirares do que fizeste; vês-te incapaz de repetir o golpe; e para a fama do herói certamente contribui este espanto que o toma de se não ter sempre igual, de em determinada conjuntura ter passado sobre ele o apelo dos deuses.
É para todos os dias que precisas de educar e afinar a alma; é para te sentires o mesmo em todos os minutos que deves dominar os impulsos e ser obstinadamente calmo ante as dificuldades e os perigos,
Aparecem de tempos a tempos sobre a superfície da terra homens raros, extraordinários, que brilham pela sua virtude, e cujas qualidades eminentes lançam um brilho prodigioso. Semelhante às estrelas cujas causas se ignoram, e de que se não sabe em que se tornaram depois de desaparecidas, não têm antepassados nem descendentes: só eles compõem toda a sua raça.
A bomba atômica mudou tudo exceto a natureza do homem.
Rei: um homem que tem o direito divino de governar mal.
O castigo entra no coração do homem desde o momento em que comete o crime.
Entre um homem e outro homem há barreiras que nunca se transpõem. Só sabemos, seguramente, de uma amizade ou de um amor: o que temos pelos outros. De que os outros nos amem nunca poderemos estar certos. E é por isso talvez que a grande amizade e o grande amor são aqueles que dão sem pedir, que fazem e não esperam ser feitos; que são sempre voz activa, não passiva.
O homem sagaz prefere quem precisa dele aos que lhe são gratos.
Insiste no Benefício
Queixas-te de teres dado com um ingrato! Se é a primeira vez que isso te sucede bem podes agradecer à tua sorte… ou à tua prudência. Mas esta é uma questão em que a prudência apenas fará de ti um homem azedo, pois se pretenderes evitar o perigo da ingratidão nunca mais farás benefícios a ninguém. Quer dizer, para que os teus benefícios não sejam em vão, privas-te de fazê-los. A verdade é que é preferível proporcionar benefícios mesmo sem contrapartida do que renunciar a beneficiar os outros: há que voltar a semear, mesmo depois de uma má colheita! As sementeiras perdidas por uma prolongada estirilidade de um terreno pouco fértil podem ser compensadas pela abundância de uma única messe. Para encontrarmos um só homem grato vale bem a pena sujeitarmo-nos à ingratidão de muitos.
Ao distribuir benefícios ninguém tem a mão tão certeira que não se possa com frequência enganar: pois sejam em vão esses benefícios, desde que uma ou outra vez sejam bem aplicados! Não é um naufrágio que põe termo à navegação, como não é a presença de um falido que impede o usurário de montar banca no foro. Em breve a nossa vida se transformará num torpor inutilmente ocioso se pretendermos eximir-nos à mínima contrariedade.
Um homem sábio pode considerar a vida uma comédia, uma tragédia ou uma farsa, e ainda assim gozá-la.
A lei jamais tornou os homens mais justos, e, por meio de seu respeito por ela, mesmo os mais bem intencionados, transformam-se diariamente em agentes da injustiça.
Um homem decente envergonha-se do governo sob o qual vive.