Passagens sobre Indiferentes

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Frases sobre indiferentes, poemas sobre indiferentes e outras passagens sobre indiferentes para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

Razões

“Razões…”
II
Quando passas por mim depressa, indiferente,
e não me dás sequer, um sorriso… um olhar…
– como um vulto qualquer, em meio a tanta gente
que costuma nos ver sem nunca nos notar…

Quando passa assim, distraída, nesse ar
de quem só sabe andar olhando para frente,
e finges não me ver, e avanças sem voltar
o rosto… e vais seguindo displicentemente…

– eu penso com tristeza em tua hipocrisia…
Ninguém sabe que a tive ao meu amor vencida
e que um dia choraste… e que choraste um dia…

Mas para que contar? Que sejas sempre assim,
e que ninguém descubra nunca em tua vida
as razões por que passas sem olhar pra mim!…

A Independência do Homem

Mal podemos acreditar no filósofo a quem tudo deixa indiferente; não acreditamos na tranquilidade do estóico, não desejamos sequer a impavidez, porque a própria condição humana nos lança na paixão e no medo, e são as lágrimas e o júbilo que nos permitem conhecer o que é. Eis por que somente o impulso ascendente nos liberta das perturbações anímicas e não é pela supressão que nos encontramos.
Temos, pois, que nos arriscar a ser homens e, enquanto homens, fazermos o que pudermos para alcançar a independência conquistada. Sofreremos então sem queixume, desesperar-nos-emos sem nos afundarmos, abalados mas nunca completamente derrubados quando suspensos à íntima independência que em nós se gera.
A filosofia, porém, é a escola dessa independência, não a sua posse.

Uma interpretação irónica da vida, uma aceitação indiferente das cousas, são o melhor remédio para o sofrimento, posto que o não sejam para as razões que há para sofrer.

O Mundo Nunca Se Vê de Modo Objectivo

O que a arte nos ensina não é puro discernimento, é a relação mais profunda de nós próprios com o mundo, é verdadeiramente o «ver». Se dizemos que um Eça nos reinventou tal mundo, dizemos que outros artistas eram antes dele responsáveis pelo modo como o víamos. E há sempre um modo de ver, que é sempre um mundo estético. Porque o mundo se não vê numa estrita e impossível dimensão «objectiva»: um objecto não nos é nunca neutro, puramente indiferente. O «novo realismo» francês (de um Butor, Robbe-Grillet, de outros) por mais que se pretenda confinado ao «objecto» (como em Robbe-Grillet) não anula a presença do «sujeito». Uma visão estritamente «objectiva» seria ainda sentida como tal… Mas acontece que uma forma «nova» de ver acaba por assimilar-se àquilo mesmo que somos, tendendo a identificar-se com o que julgamos a nossa «natureza».
A presença do artista esquece-se, como se o artista fôssemos nós – e um artista inconsciente. E é só ao choque de uma visão original que nós despertamos para uma visão diferente e sentimos que é diferente essa visão: consubstanciada connosco, ela será de novo nossa.
A mesma recuperação de uma visão original se opera na própria recuperação de uma obra de arte: a visão do mundo realizada pode passar-nos despercebida.

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Ausente o encanto antes cultivado, percebo o mecanismo indiferente, que teima em resgatar sem confiança a essência do delito então sagrado.

O que mata um jardim não é o abandono. O que mata um jardim é esse olhar de quem por ele passa indiferente. E assim é com a vida, você mata os sonhos que finge não ver.

Sou egoísta? Serei, mas como eu sou sincera! No Mundo, passo por todos, vendo alguns; na vida, esqueço-me de quase todos, esquecendo-me de mim. Quase tudo me é indiferente. Aqueles com quem lido dão-me às vezes a ideia de sombras, de fantasmas, de manequins, não me parecem iguais a mim, e tenho às vezes a impressão de que toda essa gente que passa por mim nas ruas, vai desaparecer como figurantes de mágicas.

Com os Costumes andam os Aforismos

Com os costumes andam os aforismos. Assim, eis que eles tomam um carácter mais criticador e vibrante, isto na linguagem de Karl Kraus, homem sagaz e ventríloquo de certas causas que a sociedade não confia à voz pública.
Ele diz, por exemplo: «As mulheres, no Oriente, têm maior liberdade. Podem ser amadas». Ou então: «A vida de família é um ataque à vida privada». Ou ainda: «A democracia divide os homens em trabalhadores e preguiçosos. Não está destinada para aqueles que não têm tempo para trabalhar». Tudo isto, como axioma, lembra Bernard Shaw, esse inglês azedo e endiabrado cujo Manual do Revolucionário fez o encanto da nossa adolescência.
Todavia, o aforimo do homem de letras, se impressiona, quase nunca comove ninguém. O autêntico aforismo não é uma arte – é uma espécie de pastorícia cultural. Não está destinado a divertir nem a chocar as pessoas, mas, acima de tudo, propõe-se transmitir uma orientação. É uma lição, e não o pretexto para uma pirueta.
Os aforismos e paradoxos de Karl Kraus têm esse sabor irreverente que se diferencia da sabedoria, porque há algo de precipitado na sua confissão. Precisam de ser situados num estado de espírito, para serem aceites e compreendidos;

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As Razões

Quando passas por mim depressa, indiferente,
e não me dás sequer, um sorriso… um olhar…
– como um vulto qualquer, em meio a tanta gente
que costuma nos ver sem nunca nos notar…

Quando passa assim, distraída, nesse ar
de quem só sabe andar olhando para frente,
e finges não me ver, e avanças sem voltar
o rosto… e vais seguindo displicentemente…

– eu penso com tristeza em tua hipocrisia…
Ninguém sabe que a tive ao meu amor vencida
e que um dia choraste… e que choraste um dia…

Mas para que contar? Que sejas sempre assim,
e que ninguém descubra nunca em tua vida
as razões por que passas sem olhar pra mim!…