Passagens sobre Infâmia

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Frases sobre infâmia, poemas sobre infâmia e outras passagens sobre infâmia para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

Aberração

Na velhice automática e na infância,
(Hoje, ontem, amanhĂŁ e em qualquer era)
Minha hibridez Ă© a sĂşmula sincera
Das defectividades da Substância.

Criando na alma a estesia abstrusa da ânsia,
Como Belerofonte com a Quimera
Mato o ideal; cresto o sonho; achato a esfera
E acho odor de cadáver na fragrância!

Chamo-me Aberração. Minha alma é um misto
De anomalias lĂşgubres. Existo
Como o cancro, a exigir que os sĂŁos enfermem…

Teço a infâmia; urdo o crime; engendro o iodo
E nas mudanças do Universo todo
Deixo inscrita a memória do meu gérmen!

Ninguém se pode Encarar a si Próprio até ao Fundo

NinguĂ©m pode com isto, ninguĂ©m pode encarar-se a si prĂłprio e ver-se atĂ© ao fundo. A tua meticulosidade Ă© de ferro, a tua meticulosidade está de tal maneira entranhada no teu ser que sem ela nĂŁo existes. Pois atĂ© a tua meticulosidade se há-de dissolver! E tu sem o hábito nĂŁo existes, nem tu sem o dever, nem tu sem a consciĂŞncia. Sem estas palavras a vida nĂŁo existe para ti, e sem escrĂşpulos que te resta? O que aĂ­ está Ă© temeroso, seres estranhos, seres que, se dĂŁo mais um passo, nem eu nem tu podemos encarar com eles. Andam aqui interesses – e outra coisa. Com mil palavras diversas e ignĂłbeis, mil bocas que te empurram para a infâmia – outra coisa. Tens de confessá-lo. NĂŁo Ă© a consciĂŞncia – nĂŁo Ă© o remorso – nĂŁo Ă© o medo. É uma coisa inexplicável e imensa, profunda e imensa, que assiste a este espectáculo sem dizer palavra – e espera… És imundo, Ă©s a vida.

A Imortalidade

Ser imortal é coisa sem importância. Excepto o homem, todas as criaturas o são, porque ignoram a morte. O divino, o terrível, o incompreensível, é considerar-se imortal. Já notei que, embora desagrade às religiões, essa convicção é raríssima. Israelitas, cristãos e muçulmanos professam a imortalidade, mas a veneração que dedicam ao primeiro século prova que apenas crêem nele, e destinam todos os outros, em número infinito, para o premiar ou para o castigar.

Mais razoável me parece o cĂ­rculo descrito por certas religiões do IndostĂŁo. Nesse cĂ­rculo, que nĂŁo tem princĂ­pio nem fim, cada vida Ă© uma consequĂŞncia da anterior e engendra a seguinte, mas nenhuma determina o conjunto… Doutrinada por um exercĂ­cio de sĂ©culos, a repĂşblica dos homens imortais tinha conseguido a perfeição da tolerância e quase do desdĂ©m. Sabia que num prazo infinito ocorrem a qualquer homem todas as coisas. Pelas suas passadas ou futuras virtudes, qualquer homem Ă© credor de toda a bondade, mas tambĂ©m de toda a traição pelas suas infâmias do passado ou do futuro. Assim como nos jogos de azar as cifras pares e Ă­mpares permitem o equilĂ­brio, assim tambĂ©m se anulam e se corrigem o engenho e a estupidez.

(…) NinguĂ©m Ă© alguĂ©m,

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Um Povo Resignado e Dois Partidos sem Ideias

Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta. [.]

Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provem que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro. Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.

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Considera como maior infâmia preferir a vida à honra
e por amor Ă quela, perder a razĂŁo de viver.

A Inevitabilidade das Revoluções

As revoluções não são factos que se aplaudam ou que se condenem. Havia nisso o mesmo absurdo que em aplaudir ou condenar as evoluções do Sol. São factos fatais. Têm de vir. De cada vez que vêm é sinal de que o homem vai alcançar mais uma liberdade, mais um direito, mais uma felicidade. Decerto que os horrores da revolução são medonhos, decerto que tudo o que é vital nas sociedades, a família, o trabalho, a educação, sofrem dolorosamente com a passagem dessa trovoada humana. Mas as misérias que se sofrem com as opressões, com os maus regímens, com as tiranias, são maiores ainda. As mulheres assassinadas no estado de prenhez e esmagadas com pedras, quando foi da revolução de 93, é uma coisa horrível; mas as mulheres, as crianças, os velhos morrendo de frio e de fome, aos milhares nas ruas, nos Invernos de 80 a 86, por culpa do Estado, e dos tributos e das finanças perdidas, e da fome e da morte da agricultura, é pior ainda. As desgraças das revoluções são dolorosas fatalidades, as desgraças dos maus governos são dolorosas infâmias.