Passagens sobre InocĂȘncia

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Peso do Mundo

A poesia nĂŁo Ă©, nunca foi
uma enumeração ou composto
de exuberĂąncia, bondade,
altitude, nem arado
ou dĂĄdiva sobre chĂŁo
prenhe de mortos.

Nem o arrependimento
de Deus por ter criado o homem
com o rosto da sua memĂłria,
ao lado dos seus vermes.

TĂŁo-pouco fĂŽlego dos que amam
abrindo a porta lĂ­mpida
do corpo e chovendo sobre a terra,
ou carregam como tartarugas
o peso do mundo.

Nem reverĂȘncia por um tigre,
pela leveza maligna de todas as patas,
pela sonolĂȘncia junto Ă  estirpe
aprisionada também
na dureza de ser tigre.

É o milagre de uma arma
total, de uma sĂł palavra
reduzindo o ĂĄtomo Ă  completa inocĂȘncia.

A inocĂȘncia confere poder, mas a inocĂȘncia Ă© destruĂ­da, e Ă© isso que estou a tentar devolver-vos para que possam ser novamente inocentes.

E quando um bom em tudo Ă© justo e santo,
Em negĂłcio do mundo pouco acerta,
Que mal co’eles poderĂĄ ter conta
A quieta inocĂȘncia, em sĂł Deus pronta.

A idĂ©ia mais natural para o homem, a que lhe surge ingenuamente, como no fundo da sua natureza, Ă© a idĂ©ia da sua inocĂȘncia. Sob esse aspecto, somos todos como aquele francesinho que, em Buchenwald, teimava em querer apresentar um reclamação ao escrivĂŁo, prisoneiro como ele, que registrava sua chegada. Uma reclamação? O escrivĂŁo e os seus colegas riam: ‘InĂștil, meu velho. Aqui, nĂŁo se reclama.’ ‘Mas, veja bem, meu senhor’, dizia o francesinho, ‘o meu caso Ă© excepcional. Sou inocente!

O Futuro Perfeito

À minha neta Anica

A neta explora-me os dentes,
Penteia-me como quem carda.
Terra da sua experiĂȘncia,
Meu rosto diverte-a, parda
Imagem dada Ă  inocĂȘncia.

Finjo que lhe como os dedos,
Fura-me os olhos cansados,
Intima aos meus prĂłprios medos
Deixa-mos sossegados.

E tira, tira puxando
Coisas de mim, divertida.
Assim me vai transformando
Em tempo da sua vida.

MarĂ­lia De Dirceu

Soneto 3

Enganei-me, enganei-me – paciĂȘncia!
Acreditei Ă s vezes, cri, Ormia,
Que a tua singeleza igualaria
A tua mais que angĂ©lica aparĂȘncia.

Enganei-me, enganei-me – paciĂȘncia!
Ao menos conheci que nĂŁo devia
PĂŽr nas mĂŁos de uma externa galhardia
O prazer, o sossego e a inocĂȘncia.

Enganei-me, cruel, com teu semblante,
E nada me admiro de faltares,
Que esse teu sexo nunca foi constante.

Mas tu perdeste mais em me enganares:
Que tu nĂŁo acharĂĄs um firme amante,
E eu posso de traidoras ter milhares.

O mundo dĂĄ a inocĂȘncia por momentos. O mundo leva a inocĂȘncia consigo, como um barco que se afasta cada vez mais do sĂ­tio de onde partiu. A inocĂȘncia fica lĂĄ longe.

A Morte e o Sexo

A vida då-nos indicaçÔes sob vårias formas de que a morte não deveria assustar-nos, pelo contrårio, que é agradåvel. O sono é-nos dado como um protótipo da morte, e lutamos por ele todas as noites, que nos då o maior esquecimento da vida. Não tememos o esquecimento; desejamo-lo porque nos då paz.
O sexo também nos sugere como serå agradåvel a morte, mas não prestamos atenção. Se pudéssemos morrer duas vezes, então talvez não receåssemos a segunda vez. Tal como uma virgem receia a dor causada pela introdução do pénis, mas sente prazer da segunda vez e fica cheia de vontade de sexo e ansiosa por isso, não prestando atenção à insignificùncia da dor comparada com o prazer que recebe.
Por isso sĂł temos uma morte, para que ao percebermos o seu encanto da primeira vez, nĂŁo nos sentĂ­ssemos mais poderosamente atraĂ­dos por ela do que pela vida. Deus nĂŁo seria capaz de nos manter vivos, como nĂŁo foi capaz de nos manter na inocĂȘncia, e estarĂ­amos continuamente a lutar por nos sucidarmos.
O sexo Ă©-nos dado como uma substituição para a morte mĂșltipla. Depois de nos restabelecermos de uma morte doce, ficamos cheios de vontade de a experimentar outra vez.

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Da Natureza do Mistério

As coisas misteriosas sĂŁo o que hĂĄ de mais belo, grandioso, e doce na existĂȘncia. Os mais maravilhosos sentimentos sĂŁo os que nos agitam com certa confusĂŁo: pudor, amor casto, amizade virtuosa, rescendem misterioso perfume. Dirieis que os coraçÔes amantes com meias palavras se compreendem e se franqueiam. A inocĂȘncia, santa ignorĂąncia, nĂŁo Ă© per si o mais inefĂĄvel dos mistĂ©rios? Exulta a infĂąncia porque tudo ignora; amisera-se a velhice porque tudo sabe: felizmente para ela, principiam os mistĂ©rios da morte onde fenecem os da vida. DĂĄ-se nos afectos o que se dĂĄ nas virtudes: as mais angĂ©licas sĂŁo as que, derivadas imediatamente de Deus, Ă  maneira da caridade, folgam de esconder-se Ă  vista, como a origem delas.

Adoração

Eu nĂŁo te tenho amor simplesmente. A paixĂŁo
Em mim não é amor; filha, é adoração!
Nem se fala em voz baixa Ă  imagem que se adora.
Quando da minha noite eu te contemplo, aurora,
E, estrela da manhĂŁ, um beijo teu perpassa
Em meus låbios, oh! quando essa infinita graça
do teu piedoso olhar me inunda, nesse instante
Eu sinto – virgem linda, inefável, radiante,
Envolta num clarĂŁo balsĂąmico da lua,
A minh’alma ajoelha, trĂ©mula, aos pĂ©s da tua!
Adoro-te!… NĂŁo Ă©s sĂł graciosa, Ă©s bondosa:
Além de bela és santa; além de estrela és rosa.
Bendito seja o deus, bendita a ProvidĂȘncia
Que deu o lĂ­rio ao monte e Ă  tua alma a inocĂȘncia,
O deus que te criou, anjo, para eu te amar,
E fez do mesmo azul o cĂ©u e o teu olhar!…

NĂŁo tinha exactamente saudades deles: tinha talvez saudades do que eu prĂłprio era na presença deles, desse miĂșdo rebelde e terno que o tempo e a AmĂ©rica e a morte e a perda da inocĂȘncia e o tĂ©dio, no seu sempre infernal encolher de ombros, se haviam encarregado de adestrar.

NĂŁo Deixeis um Grande Amor

Aos poucos apercebi-me do modo
desolado incerto quase eventual
com que morava em minha casa

assim ele habitou cidades
desprovidas
ou os portos levantinos a que
se ligava apenas por saber
que nada ali o esperava

assim se reteve nos campos
dos ciganos sem nunca conseguir
ser um deles:
nas suas rixas insanas
nas danças de navalhas
na arte de domar a dor

chegou a ser o melhor
mas era ainda a criança perdida
que protesta inocĂȘncia
dentro do escuro

nĂŁo serĂĄ por muito tempo
assim eu pensava
e pelas falésias jå a solidão
dele vinha

nĂŁo serĂĄ por muito tempo
assim eu pensava
mas ele sorria e uma a uma
as evidencias negava

por isso vos digo
nĂŁo deixeis o vosso grande amor
refém dos mal-entendidos
do mundo