Passagens sobre InocĂȘncia

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O arrependimento inventa carinhos novos, e a inocĂȘncia parece vingar-se, perdoando, e sorrindo ao algoz, que exora o perdĂŁo com lĂĄgrimas.

A inocĂȘncia ignorante da unidade aparentemente natural entre conhecimento empĂ­rico e juĂ­zo de valor Ă© uma falha de tomada de consciĂȘncia, falha, por assim dizer, auto-infligida: podemos dela nos desvencilhar.

O Dinheiro Tem uma Qualidade Detergente

O dinheiro tem, entre outras incontĂĄveis virtudes, uma qualidade detergente. E mĂșltiplas qualidades nutricionais. Alegra-te os belos olhos, engorda-te as bochechas, permite-te esse modo de ocupares uma poltrona, de pernas bem esticadas e jornal nas mĂŁos. DĂĄ-te essas mĂŁos impolutas que emergem dos punhos de algodĂŁo branco da camisa. JĂĄ nĂŁo Ă©s tu quem vagueia Ă  noite. Podes contratar quem capture, degole e esfole as presas que constituem os ingredientes indispensĂĄveis do cozido ou da paella dos domingos. Assim se fez sempre nas casas das boas famĂ­lias.

NĂŁo Ă© o senhor da casa que desfere o golpe fatal ao coelho, nĂŁo Ă© a senhora que crava a faca no pescoço da galinha e a depena, com o pote de barro entre as pernas, cheio de pĂŁo migado que o sangue hĂĄ de empapar como deve ser, para o rico ensopado. Aos senhores os animais chegam sempre jĂĄ cozinhados, servidos numa bandeja coberta por uma reluzente campĂąnula de prata, ou na caçarola, guarnecidos, irreconhecĂ­veis de tĂŁo desfigurados e, por isso mesmo, apetitosos na sua aparente inocĂȘncia. Assim se fez sempre, assim se continua a fazer; nĂłs prĂłprios adquirimos em poucos anos esse privilegiado estatuto, a ilusĂŁo de sermos todos senhores: em remotos pavilhĂ”es industriais,

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SugestĂŁo

Sede assim — qualquer coisa
serena, isenta, fiel.

Flor que se cumpre,
sem pergunta.

Onda que se esforça,
por exercĂ­cio desinteressado.

Lua que envolve igualmente
os noivos abraçados
e os soldados jĂĄ frios.

Também como este ar da noite:
sussurrante de silĂȘncios,
cheio de nascimentos e pétalas.

Igual Ă  pedra detida,
sustentando seu demorado destino.
E Ă  nuvem, leve e bela,
vivendo de nunca chegar a ser.

À cigarra, queimando-se em mĂșsica,
ao camelo que mastiga sua longa solidĂŁo,
ao pĂĄssaro que procura o fim do mundo,
ao boi que vai com inocĂȘncia para a morte.

Sede assim qualquer coisa
serena, isenta, fiel.

NĂŁo como o resto dos homens.

No Amor Começa-se Sempre a Zero

Fazer um registo de propriedade Ă© chato e difĂ­cil mas fazer uma declaração de amor ainda Ă© pior. NinguĂ©m sabe como. NĂŁo hĂĄ minuta. NĂŁo hĂĄ sequer um despachante ao qual o premente assunto se possa entregar. As declaraçÔes de amor tĂȘm de ser feitas pelo prĂłprio. A experiĂȘncia nĂŁo serve de nada — por muitas declaraçÔes que jĂĄ se tenham feito, cada uma Ă© completamente diferente das anteriores. No amor, aliĂĄs, a experiĂȘncia sĂł demonstra uma coisa: que nĂŁo tem nada que estar a demonstrar coisĂ­ssima nenhuma. É verdade — começa-se sempre do zero. Cada vez que uma pessoa se apaixona, regressa Ă  suprema inocĂȘncia, inĂ©pcia e barbĂĄrie da puberdade. Sobem-nos as bainhas das calças nas pernas e quando damos por nĂłs estamos de calçÔes. A experiĂȘncia nĂŁo serve de nada na luta contra o fogo do amor. Imaginem-se duas pessoas apanhadas no meio de um incĂȘndio, sem poderem fugir, e veja-se o sentido que faria uma delas virar-se para a outra e dizer: «Ouve lĂĄ, tu que tens experiĂȘncia de queimaduras do primeiro grau…»

Pode ter-se sessenta anos. Mas no dia em que o peito sacode com as aurĂ­culas a brincar aos carrinhos-de-choque com os ventrĂ­culos,

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A inocĂȘncia Ă© uma coisa admirĂĄvel; mas Ă© por outro lado muito triste que ela se possa preservar tĂŁo mal e se deixe tĂŁo facilmente seduzir.

Amor

A jovem deusa passa
Com véus discretos sobre a virgindade;
Olha e nĂŁo olha, como a mocidade;
E um jovem deus pressente aquela graça.

Depois, a vide do desejo enlaça
Numa sĂł volta a dupla divindade;
E os jovens deuses abrem-se Ă  verdade,
Sedentos de beber na mesma taça.

É um vinho amargo que lhes cresta a boca;
Um condĂŁo vago que os desperta e toca
De humana e dolorosa consciĂȘncia.

E abraçam-se de novo, jå sem asas.
Homens apenas. Vivos como brasas,
A queimar o que resta da inocĂȘncia.

O Amor em Visita

Dai-me uma jovem mulher com sua harpa de sombra
e seu arbusto de sangue. Com ela
encantarei a noite.
Dai-me uma folha viva de erva, uma mulher.
Seus ombros beijarei, a pedra pequena
do sorriso de um momento.
Mulher quase incriada, mas com a gravidade
de dois seios, com o peso lĂșbrico e triste
da boca. Seus ombros beijarei.

Cantar? Longamente cantar.
Uma mulher com quem beber e morrer.
Quando fora se abrir o instinto da noite e uma ave
o atravessar trespassada por um grito marĂ­timo
e o pĂŁo for invadido pelas ondas –
seu corpo arderĂĄ mansamente sob os meus olhos palpitantes.
Ele – imagem vertiginosa e alta de um certo pensamento
de alegria e de impudor.
Seu corpo arderĂĄ para mim
sobre um lençol mordido por flores com ågua.

Em cada mulher existe uma morte silenciosa.
E enquanto o dorso imagina, sob os dedos,
os bordÔes da melodia,
a morte sobe pelos dedos, navega o sangue,
desfaz-se em embriaguez dentro do coração faminto.
– Oh cabra no vento e na urze,

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Se estiver pronto a entrar na intimidade, encorajarĂĄ a outra pessoa a entrar igualmente na intimidade. TambĂ©m a sua franqueza ajudarĂĄ o outro a abrir-se consigo. TambĂ©m a sua simplicidade despretensiosa permitirĂĄ que o outro sinta prazer na simplicidade, na inocĂȘncia, na confiança, no amor, na franqueza.