O arrependimento inventa carinhos novos, e a inocĂȘncia parece vingar-se, perdoando, e sorrindo ao algoz, que exora o perdĂŁo com lĂĄgrimas.
Passagens sobre InocĂȘncia
134 resultadosA inocĂȘncia ignorante da unidade aparentemente natural entre conhecimento empĂrico e juĂzo de valor Ă© uma falha de tomada de consciĂȘncia, falha, por assim dizer, auto-infligida: podemos dela nos desvencilhar.
O arrependimento Ă© quase inocĂȘncia.
A felicidade Ă© antes de tudo, o sentimento tranquilo, contente e seguro da inocĂȘncia.
O Dinheiro Tem uma Qualidade Detergente
O dinheiro tem, entre outras incontĂĄveis virtudes, uma qualidade detergente. E mĂșltiplas qualidades nutricionais. Alegra-te os belos olhos, engorda-te as bochechas, permite-te esse modo de ocupares uma poltrona, de pernas bem esticadas e jornal nas mĂŁos. DĂĄ-te essas mĂŁos impolutas que emergem dos punhos de algodĂŁo branco da camisa. JĂĄ nĂŁo Ă©s tu quem vagueia Ă noite. Podes contratar quem capture, degole e esfole as presas que constituem os ingredientes indispensĂĄveis do cozido ou da paella dos domingos. Assim se fez sempre nas casas das boas famĂlias.
NĂŁo Ă© o senhor da casa que desfere o golpe fatal ao coelho, nĂŁo Ă© a senhora que crava a faca no pescoço da galinha e a depena, com o pote de barro entre as pernas, cheio de pĂŁo migado que o sangue hĂĄ de empapar como deve ser, para o rico ensopado. Aos senhores os animais chegam sempre jĂĄ cozinhados, servidos numa bandeja coberta por uma reluzente campĂąnula de prata, ou na caçarola, guarnecidos, irreconhecĂveis de tĂŁo desfigurados e, por isso mesmo, apetitosos na sua aparente inocĂȘncia. Assim se fez sempre, assim se continua a fazer; nĂłs prĂłprios adquirimos em poucos anos esse privilegiado estatuto, a ilusĂŁo de sermos todos senhores: em remotos pavilhĂ”es industriais,
NĂŁo hĂĄ inocĂȘncia que esteja segura de um falso testemunho.
SugestĂŁo
Sede assim â qualquer coisa
serena, isenta, fiel.Flor que se cumpre,
sem pergunta.Onda que se esforça,
por exercĂcio desinteressado.Lua que envolve igualmente
os noivos abraçados
e os soldados jå frios.Também como este ar da noite:
sussurrante de silĂȘncios,
cheio de nascimentos e pétalas.Igual à pedra detida,
sustentando seu demorado destino.
E Ă nuvem, leve e bela,
vivendo de nunca chegar a ser.Ă cigarra, queimando-se em mĂșsica,
ao camelo que mastiga sua longa solidĂŁo,
ao pĂĄssaro que procura o fim do mundo,
ao boi que vai com inocĂȘncia para a morte.Sede assim qualquer coisa
serena, isenta, fiel.NĂŁo como o resto dos homens.
A justiça deveria tratar de descobrir a inocĂȘncia e nĂŁo a culpa.
No Amor Começa-se Sempre a Zero
Fazer um registo de propriedade Ă© chato e difĂcil mas fazer uma declaração de amor ainda Ă© pior. NinguĂ©m sabe como. NĂŁo hĂĄ minuta. NĂŁo hĂĄ sequer um despachante ao qual o premente assunto se possa entregar. As declaraçÔes de amor tĂȘm de ser feitas pelo prĂłprio. A experiĂȘncia nĂŁo serve de nada â por muitas declaraçÔes que jĂĄ se tenham feito, cada uma Ă© completamente diferente das anteriores. No amor, aliĂĄs, a experiĂȘncia sĂł demonstra uma coisa: que nĂŁo tem nada que estar a demonstrar coisĂssima nenhuma. Ă verdade â começa-se sempre do zero. Cada vez que uma pessoa se apaixona, regressa Ă suprema inocĂȘncia, inĂ©pcia e barbĂĄrie da puberdade. Sobem-nos as bainhas das calças nas pernas e quando damos por nĂłs estamos de calçÔes. A experiĂȘncia nĂŁo serve de nada na luta contra o fogo do amor. Imaginem-se duas pessoas apanhadas no meio de um incĂȘndio, sem poderem fugir, e veja-se o sentido que faria uma delas virar-se para a outra e dizer: «Ouve lĂĄ, tu que tens experiĂȘncia de queimaduras do primeiro grau…»
Pode ter-se sessenta anos. Mas no dia em que o peito sacode com as aurĂculas a brincar aos carrinhos-de-choque com os ventrĂculos,
A inocĂȘncia Ă© uma coisa admirĂĄvel; mas Ă© por outro lado muito triste que ela se possa preservar tĂŁo mal e se deixe tĂŁo facilmente seduzir.
Amor
A jovem deusa passa
Com véus discretos sobre a virgindade;
Olha e nĂŁo olha, como a mocidade;
E um jovem deus pressente aquela graça.Depois, a vide do desejo enlaça
Numa sĂł volta a dupla divindade;
E os jovens deuses abrem-se Ă verdade,
Sedentos de beber na mesma taça.à um vinho amargo que lhes cresta a boca;
Um condĂŁo vago que os desperta e toca
De humana e dolorosa consciĂȘncia.E abraçam-se de novo, jĂĄ sem asas.
Homens apenas. Vivos como brasas,
A queimar o que resta da inocĂȘncia.
O Amor em Visita
Dai-me uma jovem mulher com sua harpa de sombra
e seu arbusto de sangue. Com ela
encantarei a noite.
Dai-me uma folha viva de erva, uma mulher.
Seus ombros beijarei, a pedra pequena
do sorriso de um momento.
Mulher quase incriada, mas com a gravidade
de dois seios, com o peso lĂșbrico e triste
da boca. Seus ombros beijarei.Cantar? Longamente cantar.
Uma mulher com quem beber e morrer.
Quando fora se abrir o instinto da noite e uma ave
o atravessar trespassada por um grito marĂtimo
e o pĂŁo for invadido pelas ondas –
seu corpo arderĂĄ mansamente sob os meus olhos palpitantes.
Ele – imagem vertiginosa e alta de um certo pensamento
de alegria e de impudor.
Seu corpo arderĂĄ para mim
sobre um lençol mordido por flores com ågua.Em cada mulher existe uma morte silenciosa.
E enquanto o dorso imagina, sob os dedos,
os bordÔes da melodia,
a morte sobe pelos dedos, navega o sangue,
desfaz-se em embriaguez dentro do coração faminto.
– Oh cabra no vento e na urze,
Do fundo do coração, sei que nunca mais terei minha inocĂȘncia outra vez.
Se estiver pronto a entrar na intimidade, encorajarĂĄ a outra pessoa a entrar igualmente na intimidade. TambĂ©m a sua franqueza ajudarĂĄ o outro a abrir-se consigo. TambĂ©m a sua simplicidade despretensiosa permitirĂĄ que o outro sinta prazer na simplicidade, na inocĂȘncia, na confiança, no amor, na franqueza.