Passagens de José Saramago

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Frases, pensamentos e outras passagens de José Saramago para ler e compartilhar. Os melhores escritores estão em Poetris.

Já não adianta nada dizer que matar em nome de Deus é fazer de Deus um assassino. Para os que matam em nome de Deus, Deus é o Pai poderoso que juntou antes a lenha para o auto-de-fé e agora prepara e coloca a bomba.

Na minha opinião, ser escritor não é apenas escrever livros, é muito mais uma atitude perante a vida, uma exigência e uma intervenção.

Se não formos capazes de viver inteiramente como pessoas, ao menos façamos tudo para não viver inteiramente como animais.

Fomos Vítimas de uma Ilusão

Não creio que tenhamos falhado. Fomos vítimas de uma ilusão que não foi só nossa, a de que Portugal fosse capaz de arrancar-se à «tristeza vil e apagada» em que mais ou menos sempre tem vivido. Imaginámos que seria possível tornarmo-nos melhores do que éramos, e foi tanto maior o tamanho da decepção quanto era imensa a esperança. Ficou a democracia, dizem-nos. A democracia pode ser muito, pouco ou quase nada. Escolha cada qual o que lhe pareça corresponder melhor à situação do país…

Foi-me perguntado (nunca falha) que conselho daria eu a um jovem aspirante a escritor, e eu respondi como sempre: não ter pressa (como se eu não a tivesse tido nunca) e não perder tempo (como se eu não o tivesse perdido jamais). E ler, ler, ler…

O tempo das verdades plurais acabou. Vivemos no tempo da mentira universal. Nunca se mentiu tanto. Vivemos na mentira, todos os dias.

Creio que o escritor escreve para si mesmo. Não existe para salvar o mundo. Quando muito, o escritor estabelece pontes com os seus leitores.

A verdade só pede olhos que a vejam. O pior é quando as pessoas teimam em olhar para o outro lado…

Só escrevo sobre aquilo que não sabia antes de o ter escrito. Deve ser por isso que os meus livros não se repetem. Vou-me repetindo eu neles, porque, ainda assim, do pouco que continuo a saber, o que melhor conheço é este que sou.

Acho que a sabedoria consiste em saber renunciar e ter consciência disso, de que é impossível conhecer o nosso próprio nome.

O poeta não será mais que memória fundida nas memórias, para que um adolescente possa dizer-nos que tem em si todos os sonhos do mundo, como se ter sonhos e declará-lo fosse primeira invenção sua. Há razões para pensar que a língua é, toda ela, obra de poesia.

A intuição não é mais do que uma ferramenta não consciente da razão, e as contradições e oposições entre a razão e a intuição, sempre beligerantemente proclamadas, não passam de uma falácia.

Estabeleceu-se e orientou-se uma tendência para a preguiça intelectual e nessa tendência os meios de comunicação têm uma responsabilidade.

A Regra Fundamental de Vida

Quando nós dizemos o bem, ou o mal… há uma série de pequenos satélites desses grandes planetas, e que são a pequena bondade, a pequena maldade, a pequena inveja, a pequena dedicação… No fundo é disso que se faz a vida das pessoas, ou seja, de fraquezas, de debilidades… Por outro lado, para as pessoas para quem isto tem alguma importância, é importante ter como regra fundamental de vida não fazer mal a outrem. A partir do momento em que tenhamos a preocupação de respeitar esta simples regra de convivência humana, não vale a pena perdermo-nos em grandes filosofias sobre o bem e sobre o mal. «Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti» parece um ponto de vista egoísta, mas é o único do género por onde se chega não ao egoísmo mas à relação humana.

Fizemos dos olhos uma espécie de espelhos virados para dentro, com o resultado, muitas vezes, de mostrarem eles sem reserva o que estávamos tratando de negar com a boca.