Perdi os Meus Fantásticos Castelos
Perdi meus fantásticos castelos
Como nĂ©voa distante que se esfuma…
Quis vencer, quis lutar, quis defendĂŞ-los:
Quebrei as minhas lanças uma a uma!Perdi minhas galeras entre os gelos
Que se afundaram sobre um mar de bruma…
– Tantos escolhos! Quem podia vĂŞ-los? –
Deitei-me ao mar e não salvei nenhuma!Perdi a minha taça, o meu anel,
A minha cota de aço, o meu corcel,
Perdi meu elmo de ouro e pedrarias…Sobem-me aos lábios sĂşplicas estranhas…
Sobre o meu coração pesam montanhas…
Olho assombrada as minhas mĂŁos vazias…
Passagens sobre Lábios
306 resultadosVolta até Mim no Silêncio da Noite
Volta até mim no silêncio da noite
a tua voz que eu amo, e as tuas palavras
que eu não esqueço. Volta até mim
para que a tua ausĂŞncia nĂŁo embacie
o vidro da memĂłria, nem o transforme
no espelho baço dos meus olhos. Volta
com os teus lábios cujo beijo sonhei num estuário
vestido com a mortalha da névoa; e traz
contigo a maré cheia da manhã com que
todos os náufragos sonharam.
2A Sombra – Bárbara
Erguendo o cálix que o Xerez perfuma.
Loura a trança alastrando-lhe os joelhos,
Dentes nĂveos em lábios tĂŁo vermelhos,
Como boiando em purpurina escuma;Um dorso de ValquĂria… alvo de bruma,
Pequenos pés sob infantis artelhos,
Olhos vivos, tĂŁo vivos, como espelhos,
Mas como eles também sem chama alguma;Garganta de um palor alabastrino,
Que harmonias e mĂşsicas respira…
No lábio – um beijo… no beijar – um hino;Harpa eĂłlia a esperar que o vento a fira,
– Um pedaço de mármore divino…
– É o retrato de Bárbara – a Hetaira.
A ociosidade Ă© a mĂŁe da maledicĂŞncia, da calĂşnia e da intriga, coisas a que eu já nĂŁo sei se hei-de chamar vĂcios se virtudes, tĂŁo habituada estou a vĂŞ-los morar em lábios tidos como santos por este mundo que Ă© com certeza o melhor dos mundos possĂveis e imagináveis.
A Tua Alma de Ouro
Meu querido rapaz,
O teu soneto é deveras bonito, e é uma maravilha que esses teus lábios da cor de rosas encarnadas tenham sido feitos tanto para a loucura da música e das canções como para a loucura do beijar. A tua alma de ouro caminha entre a paixão e a poesia. Eu sei que Hyacinthus, que Apollo amou tão perdidamente, eras tu nos tempos Gregos. Porque estás sozinho em Londres, e quando irás para Salisbury? Vai até lá para refrescar as tuas mãos no crepúsculo cinzento das coisas góticas, e vem aqui sempre que quiseres. É um lugar adorável, e falta-lhe apenas a tua pessoa; mais vai primeiro a Salisbury.
Sempre teu, com amor eterno,
Oscar
3A Sombra – Ester
Vem! no teu peito cálido e brilhante
O nardo oriental melhor transpira!
Enrola-te na longa cachemira,
Como as judias moles do Levante,Alva a clâmide aos ventos – roçagante…
TĂşmido o lábio, onde o saltĂ©rio gira…
Ă“ musa de Israel! pega da lira…
Canta os martĂrios de teu povo errante!Mas nĂŁo… brisa da pátria alĂ©m revoa,
E ao delamber-lhe o braço de alabastro,
Falou-lhe de partir… e parte… e voa. . .Qual nas algas marinhas desce um astro…
Linda Ester! teu perfil se esvai… s’escoa…
SĂł me resta um perfume… um canto… um rastro…
NĂŁo Sei Dizer quem Sou
É curioso como nĂŁo sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas nĂŁo posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer, porque no momento em que tento falar nĂŁo sĂł nĂŁo exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo. Ou pelo menos o que me faz agir nĂŁo Ă© o que eu sinto mas o que eu digo. Sinto quem sou e a impressĂŁo está alojada na parte alta do cĂ©rebro, nos lábios — na lĂngua principalmente —, na superfĂcie dos braços e tambĂ©m correndo dentro, bem dentro do meu corpo, mas onde, onde mesmo, eu nĂŁo sei dizer. O gosto Ă© cinzento, um pouco avermelhado, nos pedaços velhos um pouco azulado, e move–se como gelatina, vagarosamente. As vezes torna-se agudo e me fere, chocando-se comigo. Muito bem, agora pensar em cĂ©u azul, por exemplo. Mas sobretudo donde vem essa certeza de estar vivendo? NĂŁo, nĂŁo passo bem. Pois ninguĂ©m se faz essas perguntas e eu… Mas Ă© que basta silenciar para sĂł enxergar, abaixo de todas as realidades, a Ăşnica irredutĂvel, a da existĂŞncia. E abaixo de todas as dĂşvidas — o estudo cromático — sei que tudo Ă© perfeito, porque seguiu de escala a escala o caminho fatal em relação a si mesmo.
Porque Te Devo Amar
Porque te devo amar,
perguntas,
e eu falo-te no barulho do vento na janela quando me apertas, a tua cabeça no mistério que fica entre os braços e os ombros, escondo os dedos no interior do teu cabelo e ouço-te respirar, pessoas como nós não procuram explicações mas sobrevivências,
DevĂamos aprender a querer devagar,
arriscas,
mas entretanto já pousei os meus lábios nos teus, Ă© insuportável o teu cheiro se nĂŁo puder tocar-te, ficarĂamos completos se apenas houvesse palavras, e o mais absurdo Ă© que nem precisamos de falar, pessoas como nĂłs nĂŁo procuram a eternidade mas os sentidos,
Cada instante merece um orgasmo,
invento,
tento provar-te que os poemas são feitos de carne, nunca de versos, estranhamente não ripostas e deixas-te olhar, fico mais de uma hora só a ver-te e é tudo, peço-te que te coloques nas mais diversas posições, há-de haver um ângulo qualquer em que não seja completamente teu e o teu sorriso o quase céu, mas não o encontro, pessoas como nós não procuram a pele mas a faca,
Há uma certa dignidade na maneira como nos abandonamos,
despeço-me,
visto-me com lentidĂŁo enquanto te amo finalmente,
Como Nossos Pais
NĂŁo quero lhe falar, meu grande amor
Das coisas que aprendi nos discos
Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo
Viver Ă© melhor que sonhar
E eu sei que o amor Ă© uma coisa boa
Mas também sei que qualquer canto
É menor do que a vida
De qualquer pessoa
Por isso cuidado, meu bem, há perigo na esquina!
Eles venceram e o sinal está fechado pra nós
Que somos jovens
Para abraçar seu irmão e beijar sua menina na rua
É que se fez o seu braço, o seu lábio e a sua voz
VocĂŞ me pergunta pela minha paixĂŁo
Digo que estou encantada como uma nova invenção
Eu vou ficar nesta cidade
NĂŁo vou voltar pro sertĂŁo
Pois vejo vir vindo no vento
O cheiro da nova estação
Eu sei de tudo na ferida viva do meu coração
Já faz tempo eu vi você na rua cabelo ao vento gente jovem reunida
Na parede da memória essa lembrança é o quadro que dói mais
Minha dor Ă© perceber que apesar de termos feito tudo que fizemos
Ainda somos os mesmos e vivemos
Como nossos pais
Nossos Ădolos ainda sĂŁo os mesmos e as aparĂŞncias nĂŁo enganam,
Véspera
Amor: em teu regaço as formas sonham
o instante de existir: ainda Ă© bem cedo
para acordar, sofrer. Nem se conhecem
os que se destruirĂŁo em teu bruxedo.Nem tu sabes, amor, que te aproximas
a passo de veludo. És tão secreto,
reticente e ardiloso, que semelhas
uma casa fugindo ao arquitecto.Que presságios circulam pelo éter,
que signos de paixão, que suspirália
hesita em consumar-se, como flĂşor,
se não a roça enfim tua sandália?Não queres morder célere nem forte.
Evitas o clarĂŁo aberto em susto.
Examinas cada alma. É fogo inerte?
O sacrifĂcio há de ser lento e augusto.EntĂŁo, amor, escolhes o disfarce.
Como brincas (e és sério) em cabriolas,
em risadas sem modo, pés descalços,
no cĂrculo de luz que desenrolas!Contempla este jardim: os namorados,
dois a dois, lábio a lábio, vão seguindo
de teu capricho o hermético astrolábio,
e perseguem o sol no dia findo.E se deitam na relva; e se enlaçando
num desejo menor, ou na indecisa
procura de si mesmos,
Quando uma mulher nova tem uma fraqueza que se torna pública, toda a gente tem o perdão no coração e a condenação nos lábios.
Ă€ Espera do Amado
Disse-me baixinho:
— Meu amor, olha-me nos olhos.
Ralhei-lhe, duramente, e disse-lhe:
— Vai-te embora.
Mas ele nĂŁo foi.
Chegou ao pĂ© de mim e agarrou-me as mĂŁos…
Eu disse-lhe:
— Deixa-me.
Mas ele nĂŁo deixou.Encostou a cara ao meu ouvido.
Afastei-me um pouco,
fiquei a olhá-lo e disse-lhe:
— Não tens vergonha? Nem se moveu.
Os seus lábios roçaram a minha face.
Estremeci e disse-lhe:
— Como te atreves?
Mas ele nĂŁo se envergonhou.Prendeu-me uma flor no cabelo.
Eu disse-lhe:
— É inútil.
Mas ele nĂŁo fez caso.
Tirou-me a grinalda do pescoço
e abalou.
Continuo a chorar,
e pergunto ao meu coração:
Porque é que ele não volta?Tradução de Manuel Simões
A Flor Do Cárcere
Nascera ali – no limo viridente
Dos muros da prisĂŁo – como uma esmola
Da natureza a um coração que estiola –
Aquela flor imaculada e olente…E ele que fĂ´ra um bruto, e vil descrente,
Quanta vez, numa prece, ungido, cola
O lábio seco, na úmida corola
Daquela flor alvĂssima e silente!…E – ele – que sofre e para a dor existe –
Quantas vezes no peito o pranto estanca!..
Quantas vezes na veia a febre acalma,Fitando aquela flor tĂŁo pura e triste!…
– Aquela estrela perfumada e branca,
Que cintila na noite de sua alma…
A Minha Tragédia
Tenho Ăłdio Ă luz e raiva Ă claridade
Do sol, alegre, quente, na subida.
Parece que a minh’alma é perseguida
Por um carrasco cheio de maldade!Ă“ minha vĂŁ, inĂştil mocidade,
Trazes-me embriagada, entontecida! …
Duns beijos que me deste noutra vida,
Trago em meus lábios roxos, a saudade! …Eu nĂŁo gosto do sol, eu tenho medo
Que me leiam nos olhos o segredo
De não amar ninguém, de ser assim!Gosto da Noite imensa, triste, preta,
Como esta estranha e doida borboleta
Que eu sinto sempre a voltejar em mim! …
A Gentil Camponesa
MOTE
Tu és pura e imaculada,
Cheia de graça e beleza;
Tu és a flor minha amada,
És a gentil camponesa.GLOSAS
És tu que não tens maldade,
És tu que tudo mereces,
És, sim, porque desconheces
As podridões da cidade.
Vives aĂ nessa herdade,
Onde tu foste criada,
AĂ vives desviada
Deste viver de ilusĂŁo:
És como a rosa em botão,
Tu és pura e imaculada.És tu que ao romper da aurora
Ouves o cantor alado…
Vestes-te, tratas do gado
Que há-de ir tirar água à nora;
Depois, pelos campos fora,
É grande a tua pureza,
Cantando com singeleza,
O que ainda mais te realça,
Exposta ao sol e descalça,
Cheia de graça e beleza.Teus lábios nunca pintaste,
És linda sem tal veneno;
Toda tu cheiras a feno
Do campo onde trabalhaste;
És verdadeiro contraste
Com a tal flor delicada
Que sĂł por muito pintada
Nos poderá parecer bela;
Mas tu brilhas mais do que ela,
Tu és a flor minha amada.
Gloriosa
A AraĂşjo Figueredo
Pomba! dos céus me dizes que vieste,
Toda c’roada de astros e de rosas,
Mas há regiões mais que essas luminosas.
Não, tu não vens da região celesteHá um outro esplendor em tua veste,
Uma outra luz nas tranças primorosas,
Outra harmonia em teu olhar — maviosas
Cousas em ti que tu nunca tiveste.Não, tu não vens das célicas planuras,
Do Éden que ri e canta nas alturas
Como essa voz que dos teus lábios tomba.Vens de mais longe, vens doutras paragens,
Vens doutros cĂ©us de mĂsticas celagens,
Sim, vens de sĂłis e das auroras, pomba.
É Delicada, Suave, Vaporosa
É delicada, suave, vaporosa,
A grande atriz, a singular feitura…
É linda e alva como a neve pura,
DĂ©bil, franzina, divinal, nervosa!…E d’entre os lábios setinais, de rosa
Libram-se pĂ©rolas de nitente alvura…
E doce aroma de sutil frescura
Sai-lhe da leve compleição mimosa!…Quando aparece no febril proscĂŞnio
Bem como os mitos do passado, ingentes,
Bem como um astro majestoso, helĂŞnio…Sente-se n’alma as atrações potentes
Que sĂł se operam ao fulgor do gĂŞnio,
As rubras chispas ideais, ferventes!…
O Instante Antes do Beijo
NĂŁo quero o primeiro beijo:
basta-me
O instante antes do beijo.Quero-me
corpo ante o abismo,
terra no rasgão do sismo.O lábio ardendo
entre tremor e temor,
o escurecer da luz
no desaguar dos corpos:
o amor
nĂŁo tem depois.Quero o vulcĂŁo
que na terra nĂŁo toca:
o beijo antes de ser boca.
Você pode fazer um sermão melhor com sua vida do que com os seus lábios.
Desespero
NĂŁo eram meus os olhos que te olharam
Nem este corpo exausto que despi
Nem os lábios sedentos que poisaram
No mais secreto do que existe em ti.NĂŁo eram meus os dedos que tocaram
Tua falsa beleza, em que nĂŁo vi
Mais que os vĂcios que um dia me geraram
E me perseguem desde que nasci.NĂŁo fui eu que te quis. E nĂŁo sou eu
Que hoje te aspiro e embalo e gemo e canto,
Possesso desta raiva que me deuA grande solidĂŁo que de ti espero.
A voz com que te chamo Ă© o desencanto
E o espermen que te dou, o desespero.