Passagens sobre Liberdade

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A Face Oculta dos Progressos Técnicos

Os progressos técnicos, que toda a gente está confundindo cada vez mais com progresso humano, vão criar cada vez mais também um suplemento de ócio que, excelente em si próprio, porque nos aproxima exactamente daquele contemplar dos lírios e das aves que deve ser nosso ideal, vai criar, olhado à nossa escala, uma força de ataque e de triunfo; mais gente vai ter cada vez mais tempo para ouvir rádio e para ir ao cinema, para frequentar museus, para ler revistas ou para discutir política, e sem que preparo algum lhe possa ter sido dado para utilizar tais meios de cultura: a consequência vai ser a de que a qualidade do que for fornecido vai descer cada vez mais e a de que tudo o que não for compreendido será destruído; raros novos beneditinos salvarão da pilhagem geral a sempre reduzida antologia que em tais coisas é possível salvar-se.
O choque mais violento vai dar-se exactamente, como era natural, nos países em que existir uma liberdade maior; nos outros, as formas autoritárias de regime de certo modo poderão canalizar mais facilmente a Humanidade para a utilização desse ócio; sucederá, porém, o seguinte: nos países não-livres, porque nenhum há livre,

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Um povo que julga garantir a liberdade exilando sucessivamente os cidadãos mais idóneos e que melhor o serviram, prova por isto só que é indigno da liberdade.

Estado e Cultura

A cultura é uma das formas de libertação do homem. Por isso, perante a política, a cultura deve sempre ter a possibilidade de funcionar como antipoder. E se é evidente que o Estado deve à cultura o apoio que deve à identidade de um povo, esse apoio deve ser equacionado de forma a defender a autonomia e a liberdade da cultura para que nunca a acção do Estado se transforme em dirigismo.

Assim, meus caros Americanos: Não exijam o que o vosso país pode fazer por vós – exijam o que vocês podem fazer pelo vosso país. Meus caros cidadãos do mundo: não exijam o que a América irá fazer por vós, mas sim o que, juntos, poderemos fazer pela liberdade do homem.

Limitadores do Espírito

Cada vez que se liberta o espírito humano de uma hipótese que o limitava de modo desnecessário, que o forçava a ver errada ou parcialmente, a efectuar combinações erróneas, a enveredar por sofismas em vez de articular juízos rigorosos, presta-se-lhe já um importante serviço. Porque o espírito humano passa então a ver os fenómenos com maior liberdade, passa a encará-los noutras combinações, em diferentes relações, ordena-os a seu modo, e recupera a possibilidade de errar por si próprio e à sua maneira. Coisa que é inestimável, porque não tardará que, na sequência, o espírito humano consiga descobrir os seus próprios erros.

A liberdade não tem verdadeiros direitos fora dos que emanam da justiça; o seu dever principal é servir-lhe de salvaguarda.

A Identidade é o Fundamental

Sempre pensei que a identidade é o fundamental. (…) Sem identidade não se é. E a gente tem que ser, isso é que é importante. Mas a identidade obriga depois à dignidade. Sem identidade não há dignidade, sem dignidade não há identidade, sem estas duas não há liberdade. A liberdade impõe, logo de começo, o respeito pelo próximo. Isto pode explicar um pouco os limites da própria vida. Quer dizer, é preferível morrer a perverter a dignidade.

A democracia constitui necessariamente um despotismo, porquanto estabelece um poder executivo contrário à vontade geral. Sendo possível que todos decidam contra um cuja opinião possa diferir, a vontade de todos não é por tanto a de todos, o qual é contraditório e oposto à liberdade.

Quem, em nome da liberdade, renuncia a ser aquilo que devia ser, já se matou em vida: é um suicida de pé. A sua existência consistirá numa perpétua fuga da única realidade que era possível.

Praticamente não existe palavra nos dias de hoje que se tenha usado tão mal como a palavra ”livre” … Não confio nela porque ninguém quer a liberdade para todos; todos a querem para si.