Diferentes Caminhos para uma Felicidade Sempre Insuficiente
O objectivo para o qual o princĂpio do prazer nos impele — o de nos tornarmos felizes — nĂŁo Ă© atingĂvel; contudo, nĂŁo podemos — ou melhor, nĂŁo temos o direito — de desistir do esforço da sua realização de uma maneira ou de outra. Caminhos muito diferentes podem ser seguidos para isso; alguns dedicam-se ao aspecto positivo do objectivo, o atingir do prazer; outros o negativo, o evitar da dor. Por nenhum destes caminhos conseguimos atingir tudo o que desejamos. Naquele sentido modificado em que vimos que era atingĂvel, a felicidade Ă© um problema de gestĂŁo da libido em cada indivĂduo. NĂŁo há uma receita soberana nesta matĂ©ria que sirva para todos; cada um deve descobrir por si qual o mĂ©todo atravĂ©s do qual poderá alcançar a felicidade. Toda a espĂ©cie de factores irá influenciar a sua escolha. Depende da quantidade de satisfação real que ele irá encontrar no mundo externo, e atĂ© onde acha necessário tornar-se independente dele. Por fim, na confiança que tem em si prĂłprio do seu poder de modificar conforme os seus desejos. Mesmo nesta fase, a constituição mental do indivĂduo tem um papel decisivo, para alĂ©m de quaisquer considerações externas. O homem que Ă© predominantemente erĂłtico irá escolher em primeiro lugar relações emocionais com os outros;
Passagens sobre Libido
2 resultadosO Amor como Factor Civilizador
As provas da psicanálise demonstram que quase toda relação emocional Ăntima entre duas pessoas que perdura por certo tempo — casamento, amizade, as relações entre pais e filhos — contĂ©m um sedimento de sentimentos de aversĂŁo e hostilidade, o qual sĂł escapa Ă percepção em consequĂŞncia da repressĂŁo. Isso acha-se menos disfarçado nas altercações comuns entre sĂłcios comerciais ou nos resmungos de um subordinado em relação ao seu superior. A mesma coisa acontece quando os homens se reĂşnem em unidades maiores. Cada vez que duas famĂlias se vinculam por matrimĂłnio, cada uma delas se julga superior ou de melhor nascimento do que a outra. De duas cidades vizinhas, cada uma Ă© a mais ciumenta rival da outra; cada pequeno cantĂŁo encara os outros com desprezo. Raças estreitamente aparentadas mantĂŞm-se a certa distância uma da outra: o alemĂŁo do sul nĂŁo pode suportar o alemĂŁo setentrional, o inglĂŞs lança todo tipo de calĂşnias sobre o escocĂŞs, o espanhol despreza o portuguĂŞs. NĂŁo ficamos mais espantados que diferenças maiores conduzam a uma repugnância quase insuperável, tal como a que o povo gaulĂŞs sente pelo alemĂŁo, o ariano pelo semita.
Quando essa hostilidade se dirige contra pessoas que de outra maneira sĂŁo amadas,