Aquilo que se faz por amor, parece ir sempre além dos limites do bem e do mal.
Passagens sobre Limites
315 resultadosNão sejas o de hoje. Não suspires por ontens. Não queiras ser o amanhã. Faz-te sem limites no tempo.
No homem o poder é pouco e limitado, e o querer, sempre insaciável e sem limite.
O que não tem limites não existe. Existir é haver outra coisa qualquer, e portanto cada coisa ser limitada.
Uma Gravura Fantástica
Um vulto singular, um fantasma faceto,
Ostenta na cabeça horrível de esqueleto
Um diadema de lata, – único enfeite a orná-lo
Sem espora ou ping’lim, monta um pobre cavalo,Um espectro também, rocinante esquelético,
Em baba a desfazer-se como um epitético,
Atravessando o espaço, os dis lá vão levados,
O Infinito a sulcar, como dragões alados.O Cavaleiro brande um gládio chamejante
Por sobre as multidões que pisa rocinante.
E como um gran-senhor, que seus reinos visite,Percorre o cemitério enorme, sem limite,
Onde jazem, no alvor d’uma luz branca e terna,
Os povos da História antiga e da moderna.Tradução de Delfim Guimarães
O amor é um modo de viver e de sentir. É um ponto de vista um pouco mais elevado, um pouco mais largo; nele descobrimos o infinito e horizontes sem limites.
Para Sempre
Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
— mistério profundo —
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
Os Dois Infinitos
Duas coisas enchem a alma de admiração e de respeito sempre renovados e que aumentam à medida que o pensamento mais vezes se concentra nelas: acima de nós, o céu estrelado; no nosso íntimo, a lei moral. Não é necessário buscá-las e adivinhá-las como se estivessem ofuscadas por nuvens ou situadas em região inacessível, para além do meu horizonte; vejo-as ante mim e relaciono-as imediatamente com a consciência da minha existência. A primeira, a partir do lugar que ocupo no mundo exterior, estende a relação do meu ser com as coisas sensíveis a todo esse imenso espaço onde os mundos se sucedem aos mundos e os sistemas aos sistemas e a toda a duração ilimitada dos seus movimentos periódicos. A segunda parte do meu invisível eu, da minha personalidade e do meu posto num mundo que possui a verdadeira infinitude, mas no qual o entendimento mal pode penetrar e ao qual reconheço estar vinculado por uma relação não apenas contingente, mas universal e necessária (relação que também alargo a todos esses mundos visíveis).
Numa, a visão de uma infinidade de mundos quase aniquila a minha importância, na medida em que me considero uma criatura animal que, depois de ter (não se sabe como) gozado a vida durante um breve lapso de tempo,
O Sustentáculo do Amor
A paz é algo que nenhum homem pode dar a outro. Um dos fins mais importantes para quem arrisca ser quem é será o de construir a sua própria paz. Esta resulta de um trabalho duro de equilíbrio das vontades, de uma harmonização árdua das diferentes dimensões interiores, como o pensar e o sentir; é um estado ágil e dinâmico que, ao limite, permite ultrapassar e vencer qualquer adversidade.
A paz não é o estado de quem vive uma ausência de conflitos, é o resultado da conciliação corajosa das diferentes forças que, dentro e fora de cada homem, tentam prevalecer sobre as demais, menosprezando-se mutuamente.Muitos são os que julgam ter encontrado a paz quando se livram do sonho do amor. Estão enganados, o caminho até à felicidade é ainda longo para quem cansado assim se contenta, repousando de uma luta que nem chegou a começar.
A paz é um ponto de passagem de quem ruma à plenitude da vida. A paz é o ponto de partida para o amor, que por sua vez lança o homem para a felicidade. A paz é o ponto de chegada dos que sofrem as dores mais profundas.
A verdade é tranquila.
Os Objectos são Consoladores
Talvez os objectos sejam consoladores. Em especial os antigos, feitos de barro, feitos por homens com outra mentalidade. Os objectos são aquilo que não somos, aquilo que nunca chegaremos a ser. Será que as pessoas fazem as coisas para definir os limites da personalidade? Os objectos são os limites de que necessitamos desesperadamente. Mostram-nos onde terminamos. Dissipam temporariamente a nossa tristeza.
Amor sem Amar
Os amantes arrependem-se do bem que fizeram, quando o seu desejo já se exinguiu, ao passo que aqueles que não têm amor nunca tiveram a oportunidade de se arrepender; pois não é sob o jugo da paixão, mas voluntariamente, e conduzindo bem os seus interesses, sem ultrapassar os limites dos seus próprios recursos, que eles fazem bem ao amigo. Além disso, os amantes repassam na mente os danos que o amor lhes causou nos negócios e as liberalidades que eles fizeram, e, acrescentando a isso a dor que sentiram, julgam que há muito tempo que têm vindo a pagar o preço dos favores obtidos. Já aqueles que não estão apaixonados não podem nem usar como pretexto os seus negócios negligenciados por causa do amor, nem alegar as intrigas dos familiares, de modo que, isentos de todos esses aborrecimentos, eles só têm que se empenhar em fazer tudo o que acham que deve agradar ao seu bem-amado.
Nenhum animal é mais calamitoso do que o homem, pela simples razão de que todos se contentam com os limites da sua natureza, ao passo apenas o homem se obstina em ultrapassar os limites da sua.
A Força de Toda a Decisão Reside no Tempo
A força de toda a decisão reside no tempo; as situações e as matérias rolam e mudam sem cessar. Na minha vida incorri em alguns erros graves e importantes, não por falta de tino mas por falta de sorte. Há nos objectos que manejamos partes secretas e imprevisíveis, principalmente na natureza dos homens; características mudas, não aparentes, às vezes desconhecidas do próprio possuidor, que se manifestam e despertam em circunstâncias imprevistas. Se a minha prudência não as pôde penetrar e profetizar, não a recrimino por isso; a sua tarefa atém-se aos seus limites; o desfecho derrota-me; e se ele favorecer o partido que rejeitei, não há remédio; não me culpo a mim; acuso a minha fortuna, não a minha obra; isso não se chama arrependimento.
Não Passo um Dia sem te Desejar
Não passo um dia sem te desejar, nem uma noite sem te apertar nos meus braços; não tomo uma chávena de chá sem amaldiçoar a glória e a ambição que me mantêm afastado da vida da minha vida. No meio das mais sérias tarefas, enquanto percorro o campo à frente das tropas, só a minha adorada Josefina me ocupa o espírito e o coração, absorvendo-me por completo o pensamento. Se me afasto de ti com a rapidez da torrente do Ródano, é para tornar a ver-te o mais cedo possível. Se me levanto a meio da noite para trabalhar, é no intuito de abreviar a tua vinda. (…) Adeus, mulher, tormento, felicidade, esperança da minha vida, que eu amo, que eu temo, que me inspira os sentimentos mais ternos e naturais, tanto como me provoca ímpetos mais vulcânicos do que o trovão. Não te peço amor eterno nem fidelidade, apenas verdade e uma franqueza sem limites. No dia em que disseres: «quero-te menos», será o último dia do amor. Se o meu coração atingisse a baixeza de poder continuar a amar sem ser amado, trincá-lo-ia com os dentes. Josefina. Lembra-te do que te disse algumas vezes: a natureza fez-me a alma forte e decidida.
O respeito à opinião do outro é um convite para ter sua opinião respeitada. A vida conjugal, quando respeitada seus limites, tende a ter uma cumplicidade próspera de ternura e afeição.