Passagens sobre LĂ­rio

97 resultados
Frases sobre lírio, poemas sobre lírio e outras passagens sobre lírio para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

X

Hirta e branca… Repousa a sua áurea cabeça
Numa almofada de cetim bordada em lĂ­rios.
Ei-la morta afinal como quem adormeça
Aqui para sofrer Além novos martírios.

De mĂŁos postas, num sonho ausente, a sombra espessa
Do seu corpo escurece a luz dos quatro cĂ­rios:
Ela faz-me pensar numa ancestral Condessa
Da Idade Média, morta em sagrados delírios.

Os poentes sepulcrais do extremo desengano
VĂŁo enchendo de luto as paredes vazias,
E velam para sempre o seu olhar humano.

Expira, ao longe, o vento, e o luar, longinquamente,
Alveja, embalsamando as brancas agonias
Na sonolenta paz desta Câmara-ardente…

LĂ­rio Lutuoso

EssĂŞncia das essĂŞncias delicadas,
Meu perfumoso e tenebroso lĂ­rio,
Oh! dá-me a glória de celeste Empíreo
Da tu’alma nas sombras encantadas.

Subindo lento escadas por escadas,
Nas espirais nervosas do MartĂ­rio,
Das Ânsias, da Vertigem, do Delírio,
Vou em busca de mágicas estradas.

Acompanha-me sempre o teu perfume,
LĂ­rio da Dor que o Mal e o Bem resumem,
Estrela negra, tenebroso fruto.

Oh! dá-me a glória do teu ser nevoento
para que eu possa haurir o sentimento
Das lágrimas acerbas do teu luto!.

A Escola Portuguesa

Eis as crianças vermelhas
Na sua hedionda prisĂŁo:
Doirado enxame de abelhas!
O mestre-escola Ă© o zangĂŁo.

Em duros bancos de pinho
Senta-se a turba sonora
Dos corpos feitos de arminho,
Das almas feitas d’aurora.

Soletram versos e prosas
HorrĂ­veis; contudo, ao lĂŞ-las
Daquelas bocas de rosas
Saem murmĂşrios de estrela.

Contemplam de quando em quando,
E com inveja, Senhor!
As andorinhas passando
Do azul no livre esplendor.

Oh, que existĂŞncia doirada
Lá cima, no azul, na glória,
Sem cartilhas, sem tabuada,
Sem mestre e sem palmatĂłria!

E como os dias sĂŁo longos
Nestas prisões sepulcrais!
Abrem a boca os ditongos,
E as cifras tristes dĂŁo ais!

Desgraçadas toutinegras,
Que insuportáveis martírios!
JoĂŁo FĂ©lix co’as unhas negras,
Mostrando as vogais aos lĂ­rios!

Como querem que despontem
Os frutos na escola aldeĂŁ,
Se o nome do mestre é — Ontem
E o do discĂ­p’lo — AmanhĂŁ!

Como é que há-de na campina
Surgir o trigal maduro,
Se Ă© o Passado quem ensina
O b a ba ao Futuro!

Continue lendo…

Digo para mim quando oiço
O teu lindo riso franco,
“SĂŁo seus lábios espalhando,
As folhas dum lĂ­rio branco”.

A Mulher que Passa

Meu Deus, eu quero a mulher que passa.
Seu dorso frio Ă© um campo de lĂ­rios
Tem sete cores nos seus cabelos
Sete esperanças na boca fresca!

Oh! Como és linda, mulher que passas
que me sacias e suplicias
Dentro das noites, dentro dos dias!

Teus sentimentos sĂŁo poesia
Teus sofrimentos, melancolia.
Teus pĂŞlos leves sĂŁo relva boa
Fresca e macia.
Teus belos braços são cisnes mansos
Longe das vozes da ventania.

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!

Como te adoro, mulher que passas
Que vens e passas, que me sacias
Dentro das noites, dentro dos dias!

Porque me faltas, se te procuro?
Por que me odeias quando te juro
Que te perdia se me encontravas
E me encontrava se te perdias?

Por que nĂŁo voltas, mulher que passa?
Por que nĂŁo enches a minha vida?
Por que nĂŁo voltas, mulher querida
Sempre perdida, nunca encontrada?
Por que nĂŁo voltas Ă  minha vida
Para o que sofro não ser desgraça?

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!

Continue lendo…

Junta os Dons do EspĂ­rito Ă s Vantagens do Corpo

Para ser amado, sê amável, para o que não bastará a beleza do rosto ou do corpo. Se pretendes conservar a tua amiga e não teres nunca a surpresa de ser abandonado, mesmo que sejas Nireu, amado pelo velho Homero, ou o Hilas de delicada beleza que as Náiades raptaram por meio de um crime, junta os dons do espírito às vantagens do corpo. A beleza é um bem muito frágil, tudo o que se acrescenta aos anos a diminui, murcha com a própria duração. As violetas e os lírios com as suas corolas abertas não florescem sempre; e na rosa, depois de caída, só o espinho permanece. Também tu, belo adolescente, cedo conhecerás cabelos brancos, cedo conhecerás as rugas que sulcam o teu corpo. Forma desde já um espírito que dure e fortalece a beleza; só ele subsiste até à fogueira fúnebre.

Celeste

A uma criança

Eu fiz do Céu azul minha esperança
E dos astros dourados meu tesouro…
Imagina por que, doce criança,
Nas noites de luar meus sonhos douro!

Adivinha, se podes, quanto Ă© mansa
A luz que bola sob um cĂ­lio de ouro.
E como é lindo um laço azul na trança
Embalsamada de um cabelo louro!

Imagina por que peço, na morte,
– Um esquife todo azul que me transporte,
Longe da terra, longe dos escolhos…

Imagina por que… mas, lĂ­rio santo!
Não digas a ninguém que eu amo tanto
A cor de teu cabelo e dos teus olhos!

A Noite Desce

Como pálpebras roxas que tombassem
Sobre uns olhos cansados, carinhosas,
A noite desce… Ah! doces mĂŁos piedosas
Que os meus olhos tristĂ­ssimos fechassem!

Assim mĂŁos de bondade me beijassem!
Assim me adormecessem! Caridosas
Em braçados de lírios, de mimosas,
No crepĂşsculo que desce me enterrassem!

A noite em sombra e fumo se desfaz…
Perfume de baunilha ou de lilás,
A noite põe embriagada, louca!

E a noite vai descendo, sempre calma…
Meu doce Amor tu beijas a minh’alma
Beijando nesta hora a minha boca!

Velando

Junto dela, velando… E sonho, e afago
Imagens, sonhos, versos comovido…
Vejo-a dormir… O meu olhar Ă© um lago
Em que um lĂ­rio alvorece reflectido…

Vejo-a dormir e sonho… SĂł de vĂŞ-la
Meu olhar se perfuma e em minha vista
Há todo um céu de Amor a estremecê-la
E a devoção ansiosa dum Artista…

– Nuvem poisada, alvente, sobre a neve
Das montanhas do céu, – ó sono leve,
Hálito de jasmim, lĂ­rio, luar…

Respiração de flor, doçura, prece…
-Ă“ rouxinĂłis, calai! Fonte, adormece!…
SenĂŁo o meu Amor pode acordar!…

As Putas da Avenida

Eu vi gelar as putas da Avenida
ao griso de Janeiro e tive pena
do que elas chamam em jargĂŁo a vida
com um requebro triste de açucena

vi-as Ă s duas e Ă s trĂŞs falando
como se fala antes de entrar em cena
o gesto já compondo à voz de mando
do director fatal que lhes ordena

essa pose de flor recém-cortada
que para as mais batidas nĂŁo Ă© nada
senĂŁo fingirem lĂ­rios da Lorena

mas a todas o griso ia aturdindo
e eu que do trabalho vinha vindo
calçando as luvas senti tanta pena

Soneto De Um Casamento

Na sala de luz lĂ­vida, sorriam
Sombras imĂłveis; e outras lacrimosas
Perseguiam lembranças dolorosas
Na exaltação das flores que morriam.

Em vácuos de perfume, descaíam
Diáfanos, de diáfanas mãos piedosas
Fátuos sons de brilhantes que fremiam
Entre a crepitação lenta das rosas.

Nas taças cheias acendiam círios
Votivos, e entre as taças e o lírios
Vozes veladas, nessa mesa posta

Velavam… enquanto plácida e perdida
Irreal e longĂ­nqua como a vida
Toda de branco perpassava a Morta.

Alma Mater

Alma da Dor, do Amor e da Bondade,
Alma purificada no Infinito,
PerdĂŁo santo de tudo o que Ă© maldito,
Harpa consoladora da Saudade!

Das estrelas serena virgindade,
Alma sem um soluço e sem um grito,
Da alta Resignação, da alta Piedade!
Tu, que as profundas lágrimas estancas

E sabes levantar Imagens brancas
No silencio e na sombra mais velada…

Derrama os lĂ­rios, os teus lĂ­rios castos,
Em Jordões imortais, vastos e vastos,
No fundo da minh’alma lacerada!

Ideal

Aquela, que eu adoro, nĂŁo Ă© feita
De lĂ­rios nem de rosas purpurinas,
NĂŁo tem as formas languidas, divinas
Da antiga VĂ©nus de cintura estreita…

NĂŁo Ă© a Circe, cuja mĂŁo suspeita
Compõe filtros mortaes entre ruinas,
Nem a Amazona, que se agarra ás crinas
D’um corcel e combate satisfeita…

A mim mesmo pergunto, e nĂŁo atino
Com o nome que dĂŞ a essa visĂŁo,
Que ora amostra ora esconde o meu destino…

É como uma miragem, que entrevejo,
Ideal, que nasceu na solidĂŁo,
Nuvem, sonho impalpável do Desejo…

O Nosso Livro

Livro do meu amor, do teu amor,
Livro do nosso amor, do nosso peito…
Abre-lhe as folhas devagar, com jeito,
Como se fossem pétalas de flor.

Olha que eu outro já não sei compor
Mais santamente triste, mais perfeito
NĂŁo esfolhes os lĂ­rios com que Ă© feito
Que outros nĂŁo tenho em meu jardim de dor!

Livro de mais ninguém! Só meu! Só teu!
Num sorriso tu dizes e digo eu:
Versos sĂł nossos mas que lindos sois!

Ah, meu Amor! Mas quanta, quanta gente
Dirá, fechando o livro docemente:
“Versos sĂł nossos, sĂł de nĂłs os dois!…”

Precisamos dar um sentido humano às nossas construções. E, quando o amor ao dinheiro, ao sucesso nos estiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios do campo e as aves do céu.

Lembranças Apagadas

Outros, mais do que o meu, finos olfatos,
Sintam aquele aroma estranho e belo
Que tu, ó Lírio lânguido, singelo,
Guardaste nos teus Ă­ntimos recatos.

Que outros se lembrem dos sutis e exatos
Traços, que hoje não lembro e não revelo
E se recordem, com profundo anelo,
Da tua voz de siderais contatos…

Mas eu, para lembrar mortos encantos,
Rosas murchas de graças e quebrantos,
Linhas, perfil e tanta dor saudosa,

Tanto martírio, tanta mágoa e pena,
Precisaria de uma luz serene,
De uma luz imortal maravilhosa!…

Meu coração, inundado
Pela luz do teu olhar,
Dorme quieto como um lĂ­rio,
Banhado pelo luar.

Lembra-te de que as coisas mais belas do mundo são também as mais inúteis: os pavões e os lírios, por exemplo.

FonĂłgrafo

Vai declamando um cĂ´mico defunto.
Uma platéia ri, perdidamente,
Do bom jarreta… E há um odor no ambiente.
A cripta e a pĂł, – do anacrĂ´nico assunto.

Muda o registo, eis uma barcarola:
LĂ­rios, lĂ­rios, águas do rio, a lua…
Ante o Seu corpo o sonho meu flutua
Sobre um paul, – extática corola.

Muda outra vez: gorjeios, estribilhos
Dum clarim de oiro – o cheiro de junquilhos,
VĂ­vido e agro! – tocando a alvorada…

Cessou. E, amorosa, a alma das cornetas
Quebrou-se agora orvalhada e velada.
Primavera. ManhĂŁ. Que eflĂşvio de violetas!

Um Sentido

Porque há um sentido
no lĂ­rio, incensar-se;
e no choupo, erguer-se;
e na urze arborescente,
ampliar-se;
e no cobre, primeira cura,
que dou Ă  vinha,
procriar-se.

E outro, pressago,
sentido há na memória,
explodir-se. E outro, imensurável,
no amor, entregar-se.
E outro, definitivo,
na morte, render-se.