Passagens sobre LĂ­rio

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Frases sobre lírio, poemas sobre lírio e outras passagens sobre lírio para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

DelĂ­rio Do Som

O Boabdil mais doce que um carinho,
O teu piano ebúrneo soluçava,
E cada nota, amor, que ele vibrava,
Era-me n’alma um sol desfeito em vinho.

Me parecia a mĂşsica do arminho,
O perfume do lĂ­rio que cantava,
A estrela-d’alva que nos cĂ©us entoava
Uma canção dulcíssima baixinho.

Incomparável, teu piano — e eu cria
Ver-te no espaço, em fluidos de harmonia,
Bela, serena, vaporosa e nua;

Como as visões olímpicas do Reno,
Cantando ao ar um delicioso treno
Vago e dolente, com uns tons de lua.

Num Jardim Adornado De Verdura

Num jardim adornado de verdura,
a que esmaltam por cima várias flores,
entrou um dia a deusa dos amores,
com a deusa da caça e da espessura.

Diana tomou logo ĂĽa rosa pura,
Vénus um roxo lírio, dos milhores;
mas excediam muito Ă s outras flores
as violas, na graça e fermosura.

Perguntam a Cupido, que ali estava,
qual daquelas trĂŞs flores tomaria,
por mais suave, pura e mais fermosa?

Sorrindo se, o Minino lhe tornava:
todas fermosas sĂŁo, mas eu queria
V i o l ‘a n t e s que lĂ­rio, nem que rosa.

Ela Ia, TranqĂĽila Pastorinha

Ela ia, tranqĂĽila pastorinha,
Pela estrada da minha imperfeição.
Segui-a, como um gesto de perdĂŁo,
O seu rebanho, a saudade minha…

“Em longes terras hás de ser rainha”
Um dia lhe disseram, mas em vĂŁo…
Seu vulto perde-se na escuridĂŁo…
SĂł sua sombra ante meus pĂ©s caminha…

Deus te dĂŞ lĂ­rios em vez desta hora,
E em terras longe do que eu hoje sinto
Serás, rainha não, mas só pastora _

SĂł sempre a mesma pastorinha a ir,
E eu serei teu regresso, esse indistinto
Abismo entre o meu sonho e o meu porvir…

Boca

III

Boca viçosa, de perfume a lírio,
Da lĂ­mpida frescura da nevada,
Boca de pompa grega, purpureada,
Da majestade de um damasco assĂ­rio.

Boca para deleites e delĂ­rio
Da volĂşpia carnal e alucinada,
Boca de Arcanjo, tentadora e arqueada,
Tentando Arcanjos na amplidĂŁo do EmpĂ­rio,

Boca de Ofélia morta sobre o lago,
Dentre a auréola de luz do sonho vago
E os faunos leves do luar inquietos…

Estranha boca virginal, cheirosa,
Boca de mirra e incensos, milagrosa
Nos filtros e nos tĂłxicos secretos…

Era um Pássaro Alto

Era um pássaro alto como um mapa
e que devorava o azul
como nĂłs devoramos o nosso amor.

Era a sombra de uma mĂŁo sozinha
num espaço impossivelmente vasto
perdido na sua prĂłpria extensĂŁo.

Era a chegada de uma muito longa viagem
diante de uma porta de sal
dentro de um pequeno diamante.

Era um arranha-céus
regressado do fundo do mar.

Era um mar em forma de serpente
dentro da sombra de um lĂ­rio.

Era a areia e o vento
como escravos
atados por dentro ao azul do luar.

Consolação

Quando Ă  noite no baile esplendoroso
Vais na onda da valsa arrebatada
Com a serena fronte reclinada
Sobre o peito feliz do par ditoso…

Mal sabes tu que existe um desditoso
Faminto de te ver, oh minha amada!
E que sente a sua alma angustiada
Longe da luz do teu olhar piedoso.

Mas quando a roxa aurora vem nascendo,
E a cotovia acorda o laranjal,
E os astros vĂŁo de todo esmorecendo;

Eu cuido ver-te, oh lĂ­rio divinal,
As minhas cartas ávida relendo
Seminua no leito virginal.

Carta a F.

És tu quem me conduz, és tu quem me alumia,
Para mim nĂŁo desponta a aurora, nĂŁo Ă© dia,
Se nĂŁo vejo os dois sĂłis azuis do teu olhar.
Deixei-te há pouco mais dum mês, – mês secular
E nessa noite imensa, ah, digo-te a verdade,
Iluminou-me sempre o luar da saudade.
E nesses montes nus por onde eu tenho andado,
Trágicos vagalhões dum mar petrificado,
Sempre adiante de mim dentre a aridez selvagem,
Vi como um lĂ­rio branco erguer-se a tua imagem.
Nunca te abandonei! Nunca me abandonaste!
És o sol e eu a sombra. És a flor e eu a haste.
Na hora em que parti meu coração deixei-o
Na urna virginal desse divino seio,
E o teu sinto-o eu aqui a bater de mansinho
Dentro em meu peito, como uma rola em seu ninho!

Elogio da Amada

Ei-la que vem ubérrima numerosa escolhida
secreta cheia de pensamentos isenta de cuidados
Vem sentada na nova primavera
cercada de sorrisos no regaço lírios
olhos feitos de sombra de vento e de momento
alheia a estes dias que eu nunca consigo
Morde-lhe o tempo na face as raĂ­zes do riso
começa para além dela a ser longe
A amada é bem a infância que vem ter comigo
Há pássaros antigos nos límpidos caminhos
e mortes como antes nunca mais
Ei-la já que se estende ampla como uma pátria
no limiar da nossa indiferença
Os nossos átrios são para os seus pés solitários
Já todos nós esquecemos a casa dos pais
ela enche de dias as nossas mĂŁos vazias
A dor é nela até que deus começa
eu bem lhe sinto o calcanhar do amor
Que importa sermos de uma sĂł manhĂŁ e nĂŁo haver
em volta
árvore mais açoitada pelos diversos ventos?
Que importa partirmos num desmoronar de poentes?
Mais triste mesmo a vida onde outros passarĂŁo
multiplicando-lhe a ausĂŞncia que importa
se onde pomos os pés é primavera?

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QuĂŁo Breve Tempo Ă© a Mais Longa Vida

QuĂŁo breve tempo Ă© a mais longa vida
E a juventude nela! Ah!, Cloe, Cloe,
Se nĂŁo amo nem bebo,
Nem sem querer nĂŁo penso,
Pesa-me a lei inimplorável, dói-me
A hora invicta, o tempo que nĂŁo cessa,
E aos ouvidos me sobe
Dos juncos o ruĂ­do
Na oculta margem onde os lĂ­rios frios
Da Ă­nfera leiva crescem, e a corrente
NĂŁo sabe onde Ă© o dia,
Sussurro gemebundo.

Luva Abandonada

Uma só vez calçar-vos me foi dado,
Dedos claros! A escura sorte minha,
O meu destino, como um vento irado,
Levou-vos longe e me deixou sozinha!

Sobre este cofre, desta cama ao lado,
Murcho, como uma flor, triste e mesquinha,
Bebendo ávida o cheiro delicado
Que aquela mĂŁo de dedos claros tinha.

Cálix que a alma de um lírio teve um dia
Em si guardada, antes que ao chĂŁo pendesse,
Breve me hei de esfazer em poeira, em nada…

Oh! em que chaga viva tocaria
Quem nesta vida compreender pudesse
A saudade da luva abandonada!

O Chalé

É um chalé luzido e aristocrático,
De fulgurantes, ricos arabescos,
Janelas livres para os ares frescos,
Galante, raro, encantador, simpático.

O sol que vibra em rubro tom prismático,
No resplendor dos luxos principescos,
Dá-lhe uns alegres tiques romanescos,
Um colorido ideal silforimático.

Há um jardim de rosas singulares,
LĂ­rios joviais e rosas nĂŁo vulgares,
Brancas e azuis e roxas purpĂşreas.

E a luz do luar caindo em brilhos vagos,
Na placidez de adormecidos lagos
Abre esquisitas radiações sulfúreas.

Adeus Tranças Cor de Ouro

Adeus tranças cor de ouro,
Adeus peito cor de neve!
Adeus cofre onde estar deve
Escondido o meu tesouro!

Adeus bonina, adeus lĂ­rio
Do meu exĂ­lio de abrolhos!
Adeus, Ăł luz dos meus olhos
E meu tĂŁo doce martĂ­rio!

Adeus meu amor-perfeito,
Adeus tesouro escondido,
E de guardado, perdido
No mais Ă­ntimo do peito.

Desfeito sonho dourado,
Nuvem desfeita de incenso
Em quem dormindo sĂł penso,
Em quem sĂł penso acordado!

VisĂŁo, sim, mas visĂŁo linda,
Sonho meu desvanecido!
Meu paraĂ­so perdido
Que de longe adoro ainda!

Nuvem que ao sopro da aragem
Voou nas asas de prata,
Mas no lago que a retrata
Deixou esculpida a imagem!

Rosa de amor desfolhada
Que n’alma deixou o aroma,
Como o deixa na redoma
Fina essĂŞncia evaporada!

Gota de orvalho que o vento
Levou do cálix das flores,
Curto abril dos meus amores,
Primavera de um momento!

Adeus Sol, que me alumia
Pelas ondas do oceano
Desta vida, deste engano,

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Misticismo

Há dias, ao passar nas alamedas
Da minha terra, ao darem as trindades,
Pisando folhas, como velhas sedas,
Com os meus olhos cheios de saudades,

Há dias, quando eu fui nem sei por onde,
Entre lírios e tristes açucenas,
Ă€s horas em que o sol de nĂłs se esconde,
E repicam os sinos Ă s novenas,

Há dias, quando eu fui na tarde exangue,
Ouvindo a minha voz interior,
Faziam recordar gotas de sangue
Os derradeiros raios do sol-pĂ´r.

Bendita sejas, tarde harmoniosa,
Tarde da minha fé e do meu desejo,
Branda como uma pétala de rosa,
Ou como o aroma de um antigo beijo.

A Casada Infiel

Levei-a comigo ao rio,
pensando que era donzela,
porém já tinha marido.
Foi na noite de Santiago
e quase por compromisso.
Os lampiões se apagaram
e acenderam-se os grilos.
Nas derradeiras esquinas
toquei seus peitos dormidos
e pra mim logo se abriram
como ramos de jacintos.
A goma de sua anágua
soava no meu ouvido,
como uma peça de seda
lacerada por dez facas.
Sem luz de prata nas copas
as árvores têm crescido,
e um horizonte de cĂŁes
ladra mui longe do rio.

*

Passadas as sarçamoras
os juncos e os espinheiros,
por debaixo da folhagem
fiz um fojo sobre o limo.
Minha gravata tirei.
Tirou ela seu vestido.
Eu, o cinto com revĂłlver.
Ela, seus quatro corpetes.
Nem nardos nem caracĂłis
tĂŞm uma cĂştis tĂŁo fina,
nem os cristais ao luar
resplandecem com tal brilho.
Suas coxas me fugiam
como peixes surpreendidos,
metade cheia de lume,
metade cheia de frio.
Percorri naquela noite
o mais belo dos caminhos,
montado em potra de nácar
sem bridas e sem estribos.

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Cacida da MĂŁo ImpossĂ­vel

NĂŁo quero mais que uma mĂŁo,
mĂŁo ferida, se possĂ­vel.
NĂŁo quero mais que uma mĂŁo,
inda que passe noites mil sem cama.

Seria um lírio pálido de cal,
uma pomba atada ao meu coração,
o guarda que na noite do meu trânsito
de todo vetaria o acesso Ă  lua.

NĂŁo quero mais que essa mĂŁo
para os diários óleos e a mortalha de minha agonia.
NĂŁo quero mais que essa mĂŁo
para de minha morte ter uma asa.

Tudo mais passa.
Rubor sem nome mais, astro perpétuo.
O demais Ă© o outro; vento triste
enquanto as folhas fogem debandadas.

Tradução de Oscar Mendes

Em Viagem

Desde aquela dor tamanha
Do momento em que parti
Um sĂł prazer me acompanha,
Filha, o de pensar em ti:

Por sobre a negra paisagem
Do meu ermo coração
O luar branco da tua imagem
Veste um benigno clarĂŁo.

A tarde, no azul celeste,
Há uma estrela esmorecida,
Que Ă© o beijo que tu me deste
Na hora da despedida.

Beijo tĂŁo longo e dolente,
TĂŁo longo e cortado de ais,
Que o meu coração pressente
Que nĂŁo te torno a ver mais.

Conto no céu estrelado
Lágrimas de oiro sem fim:
É o pranto que tens chorado,
De dia e noite, por mim…

Quando me deito na cama
E vou quase adormecido,
Oiço a tua voz que me chama,
Num suplicante gemido.

Num gemido tĂŁo suave,
TĂŁo triste na noite escura,
Que Ă© como uma queixa d’ave
Presa numa sepultura!…

Em sonho, Ă s vezes, meu Deus,
Cuido que vou expirar,
Sem levar nos olhos meus
O teu derradeiro olhar.

E sem extremo conforto
Que eu ness’hora quero ter:
Beijar a fronte do morto
Aquela que o fez viver.

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IdĂ­lio

Quando nĂłs vamos ambos, de mĂŁos dadas,
Colher nos vales lĂ­rios e boninas,
E galgamos dum fĂ´lego as colinas
Dos rocios da noite inda orvalhadas;

Ou, vendo o mar das ermas cumeadas
Contemplamos as nuvens vespertinas,
Que parecem fantásticas ruínas
Ao longo, no horizonte, amontoadas:

Quantas vezes, de sĂşbito, emudeces!
NĂŁo sei que luz no teu olhar flutua;
Sinto tremer-te a mĂŁo e empalideces

O vento e o mar murmuram orações,
E a poesia das coisas se insinua
Lenta e amorosa em nossos corações.