Aptidão, Vontade, e Acção
No reino da Natureza dominam o movimento e o agir. No reino da liberdade dominam a aptidão e o querer. O movimento é perpétuo e, sendo favoráveis as circunstâncias, manifesta-se necessariamente nos fenómenos. As aptidões, desenvolvendo-se embora em correspondência com a Natureza, têm contudo que ser postas em exercício por parte da vontade para poderem elevar-se gradualmente. É por isso que nunca temos no exercício livre da vontade a mesma certeza que temos na autonomia do agir natural; este último é qualquer coisa que se produz a si mesma enquanto que o primeiro é produzido.
O exercício da vontade, para ser perfeito e eficaz, tem que se adequar: no plano moral, à consciência – a uma consciência sem erro -, e, no domínio das artes, à regra – a uma regra que em nenhum lado está enunciada. A consciência não precisa de nenhum patrocínio, porque tem tudo o que lhe é necessário e porque só tem que ver com o mundo pessoal interior. O génio também não precisaria de nenhuma regra, mas, uma vez que a sua eficácia se dirige para o exterior, está na dependência de múltiplas contingências materiais e temporais, não lhe sendo possível escapar a erros que daí decorrem.
Passagens sobre Livres
684 resultadosO homem é uma obra-prima da criação também pelo facto de que, com todo o determinismo, ele acredita agir como um ser livre.
Você é livre para fazer suas escolhas, mas é prisioneiro das consequências.
Tudo Esqueço
Tudo posso esquecer em minha vida
inquieta e livre como uma enxurrada:
– a ilusão, num segundo, mais querida…
– a mulher, num segundo, mais amada…a visão de algum trecho azul da estrada
entre ternos carinhos percorrida;
– uma história que um dia interrompida
nunca mais afinal foi terminada!Os desejos… os sonhos… os amores…
que julgo eternos, e que por enquanto
despetalam-se e morrem como flores…Esqueço tudo! O que passou, morreu!
Só não consigo me esquecer no entanto
da primeira mulher que me esqueceu…
Indiferença em Política
Um dos piores sintomas de desorganização social, que num povo livre se pode manifestar, é a indiferença da parte dos governados para o que diz respeito aos homens e às cousas do governo, porque, num povo livre, esses homens e essas cousas são os símbolos da actividade, das energias, da vida social, são os depositários da vontade e da soberania nacional.
Que um povo de escravos folgue indiferente ou durma o sono solto enquanto em cima se forjam as algemas servis, enquanto sobre o seu mesmo peito, como em bigorna insensível se bate a espada que lho há-de trespassar, é triste, mas compreende-se porque esse sono é o da abjecção e da ignomínia.
Mas quando é livre esse povo, quando a paz lhe é ainda convalescença para as feridas ganhadas em defesa dessa liberdade, quando começa a ter consciência de si e da sua soberania… que então, como tomado de vertigem, desvie os olhos do norte que tanto lhe custara a avistar e deixe correr indiferente a sabor do vento e da onda o navio que tanto risco lhe dera a lançar do porto; para esse povo é como de morte este sintoma, porque é o olvido da ideia que há pouco ainda lhe custara tanto suor tinto com tanto sangue,
Quanta alegria brotou no coração da adúltera e da pecadora. O perdão fê-las sentirem-se finalmente livres e felizes como nunca antes. As lágrimas da vergonha e da dor transformaram-se no sorriso de quem sabe ser amado.
O homem é livre, enquanto pode pensar.
A Ingaia Ciência
A madureza, essa terrível prenda
que alguém nos dá, raptando-nos, com ela,
todo sabor gratuito de oferenda
sob a glacialidade de uma estela,a madureza vê, posto que a venda
interrompa a surpresa da janela,
o círculo vazio, onde se estenda,
e que o mundo converte noma cela.A madureza sabe o preço exato
dos amores, dos ócios, dos quebrantos,
e nada pode contra sua ciênciae nem contra si mesma. O agudo olfato,
o agudo olhar, a mão, livre de encantos,
se destroem no sonho da existência.
O Segredo do Mar
A “Flor do Mar” avançando
Navegava, navegava,
Lá para onde se via
O vulto que ela buscava.Era tão grande, tão grande
Que a vista toda tapava.E Bartolomeu erguido
Aos marinheiros bradava
Que ninguém tivesse medo
Do gigante que ali estava.E mais perto agora estão
Do que procurando vão!Bartolomeu que viu?
Que descobriu o valente?
– Que o gigante era um penedo
que tinha forma de gente?Que era dantes o mar? Um quarto escuro
Onde os meninos tinham medo de ir.
Agora o mar é livre e é seguro
E foi um português que o foi abrir.
Jesus deu-nos a possibilidade de ser livres, não obstante os limites da doença e das restrições. Ele oferece-nos a liberdade que provém do encontro com Ele e do sentido novo que este encontro traz à nossa condição pessoal.
Desde o livro do Génesis que a Bíblia não se cansa de repetir-nos que no coração do homem, e também do rapaz ou do jovem – pensai no jovem Caim – estão presentes o trigo e o joio, as forças do mal e as energias do bem. Mercê da sua liberdade, o homem é livre de fazer prevalecer a sua parte boa e luminosa ou a que é malvada e sombria.
Rezamos-Te pelos jovens para que, com coragem, tomem a vida nas suas mãos, visem as coisas mais belas e profundas e conservem sempre um coração livre.
A liberdade significa saber refletir sobre aquilo que fazemos, saber avaliar o que está certo e o que está errado, discernir quais são os comportamentos que nos fazem crescer, escolher sempre o bem. Somos livres para o bem.
Sensibilidade
Como os audazes, ruivos argonautas,
Intrépidos, viris e corajosos
Que voltam dos orientes fantasiosos,
Dos países de Núbios e Aranautas.Como esses bravos, que por naus incautas,
Regressam dos oceanos borrascosos,
Indo encontrar nos lares harmoniosos
De luz, vinho e alegria as mesas lautas.Tal o meu coração, quando aparece
A tua imagem, canta e resplandece,
Sem lutas, sem paixões, livre de abrolhos.A meu pesar, louco de ver-te, louco,
As lágrimas me correm pouco a pouco,
Como o champanhe virginal dos olhos…
Mantenha-se forte diante do fracasso e livre diante do sucesso.
O homem livre é senhor da sua vontade e escravo somente da sua consciência.
Alarga os Teus Horizontes
Por que é que combateis? Dir-se-á, ao ver-vos,
Que o Universo acaba aonde chegam
Os muros da cidade, e nem há vida
Além da órbita onde as vossas giram,
E além do Fórum já não há mais mundo!Tal é o vosso ardor! tão cegos tendes
Os olhos de mirar a própria sombra,
Que dir-se-á, vendo a força, as energias
Da vossa vida toda, acumuladasSobre um só ponto, e a ânsia, o ardente vórtice,
Com que girais em torno de vós mesmos,
Que limitais a terra à vossa sombra…
Ou que a sombra vos torna a terra toda!
Dir-se-á que o oceano imenso e fundo e eterno,
Que Deus há dado aos homens, por que banhem
O corpo todo, e nadem à vontade,
E vaguem a sabor, com todo o rumo,
Com todo o norte e vento, vão e percam-se
De vista, no horizonte sem limites…
Dir-se-á que o mar da vida é gota d’água
Escassa, que nas mãos vos há caído,
De avara nuvem que fugiu, largando-a…
Tamanho é o ódio com que a uns e a outros
A disputais,
O homem que é conduzido pela razão é mais livre na cidade onde vive segundo a lei comum do que na solidão, onde só obedece a si mesmo.
A Liberdade e a Justiça
A revolução do século XX separou arbitrariamente, para fins desmesurados de conquista, duas noções inseparáveis. A liberdade absoluta mete a justiça a ridículo. A justiça absoluta nega a liberdade. Para serem fecundas, as duas noções devem descobrir os seus limites uma dentro da outra. Nenhum homem considera livre a sua condição se ela não for ao mesmo tempo justa, nem justa se não for livre. Precisamente, não pode conceber-se a liberdade sem o poder de clarificar o justo e o injusto, de reivindicar todo o ser em nome de uma parcela de ser que se recusa a extinguir-se. Finalmente, tem de haver uma justiça, embora bem diferente, para se restaurar a liberdade, único valor imperecível da história. Os homens só morrem bem quando o fizeram pela liberdade: pois, nessa altura, não acreditavam que morressem por completo.
Só Esta Liberdade nos Concedem os Deuses
Só esta liberdade nos concedem
Os deuses: submetermo-nos
Ao seu domínio por vontade nossa.
Mais vale assim fazermos
Porque só na ilusão da liberdade
A liberdade existe.Nem outro jeito os deuses, sobre quem
O eterno fado pesa,
Usam para seu calmo e possuído
Convencimento antigo
De que é divina e livre a sua vida.Nós, imitando os deuses,
Tão pouco livres como eles no Olimpo,
Como quem pela areia
Ergue castelos para encher os olhos,
Ergamos nossa vida
E os deuses saberão agradecer-nos
O sermos tão como eles.