Boa e Má Literatura
O que acontece na literatura não é diferente do que acontece na vida: para onde quer que se volte, depara-se imediatamente com a incorrigível plebe da humanidade, que se encontra por toda a parte em legiões, preenchendo todos os espaços e sujando tudo, como as moscas no verão.
Eis a razão do número incalculável de livros maus, essa erva daninha da literatura que tudo invade, que tira o alimento do trigo e o sufoca. De facto, eles arrancam tempo, dinheiro e atenção do público – coisas que, por direito, pertencem aos bons livros e aos seus nobres fins – e são escritos com a única intenção de proporcionar algum lucro ou emprego. Portanto, não são apenas inúteis, mas também positivamente prejudiciais. Nove décimos de toda a nossa literatura actual não possui outro objectivo senão o de extrair alguns táleres do bolso do público: para isso, autores, editores e recenseadores conjuraram firmemente.
Um golpe astuto e maldoso, porém notável, é o que teve êxito junto aos literatos, aos escrevinhadores que buscam o pão de cada dia e aos polígrafos de pouca conta, contra o bom gosto e a verdadeira educação da época, uma vez que eles conseguiram dominar todo o mundo elegante,
Passagens sobre Livros
946 resultadosPela grossura da camada de pó que cobre a lombada dos livros de uma biblioteca pública pode medir-se a cultura de um povo.
As literaturas são os registos condensados do pensamento público. Os grandes livros não se produzem senão quando as grandes ideias agitam o mundo, quando os povos praticam os grandes feitos, quando os poetas recebem da sociedade as grandes comoções.
O livro a ler não é aquele que pensa por ti mas aquele que te faz pensar.
Apenas deveríamos ler os livros que nos picam e que nos mordem. Se o livro que lemos não nos desperta como um murro no crânio, para que lê-lo?
Um bom livro é um legado precioso que o autor faz à humanidade.
Por mais que sejam muitos os notadores dos livros, são muito mais os que no mundo vivem notados.
Amor Algébrico
Acabo de estudar – da ciência fria e vã,
O gelo, o gelo atroz me gela ainda a mente,
Acabo de arrancar a fronte minha ardente
Das páginas cruéis de um livro de Bertrand.Bem triste e bem cruel decerto foi o ente
Que este Saara atroz – sem aura, sem manhã,
A Álgebra criou – a mente, a alma mais sã
Nela vacila e cai, sem um sonho virente.Acabo de estudar e pálido, cansado,
Dumas dez equações os véus hei arancado,
Estou cheio de spleen, cheio de tédio e giz.É tempo, é tempo pois de, trêmulo e amoroso,
Ir dela descansar no seio venturoso
E achar do seu olhar o luminoso X.
Manias
O mundo é velha cena ensanguentada.
Coberta de remendos, picaresca;
A vida é chula farsa assobiada,
Ou selvagem tragédia romanesca.Eu sei um bom rapaz, – hoje uma ossada -,
Que amava certa dama pedantesca,
Perversíssima, esquálida e chagada,
Mas cheia de jactância, quixotesca.Aos domingos a déia, já rugosa,
Concedia-lhe o braço, com preguiça,
E o dengue, em atitude receosa,Na sujeição canina mais submissa,
Levava na tremente mão nervosa,
O livro com que a amante ia ouvir missa!
Raramente Lemos um Livro que nos Dão
Raramente lemos um livro que nos dão; e poucos nos são dados. A maneira de espalhar uma obra é vendê-la a um preço baixo. Pois ninguém comprará algo ainda que custe apenas alguns cêntimos, se não tiver a intenção de lê-la.
Chuang Tzu nasceu quatro séculos antes de Cristo; a publicação do seu livro em inglês, dois mil anos depois da sua morte, foi evidentemente prematura.
Quanto mais silêncio houver num livro, melhor ele é. Porque nos permite escrever o livro melhor, como leitor.
Seria melhor aprender a fazer amor correctamente, em vez de nos embrutecermos com um livro de história.
A maior parte dos livros de hoje parece ter sido feita num dia, com livros lidos na véspera.
É a literatura o que, inevitavelmente, faz pensar. É a palavra escrita, a que está no livro, a que faz pensar. E neste momento é a última na escala de valores.
Cristão. Alguém que acredita que o Novo Testamento seja um livro inspirado por Deus, admiravelmente adaptado às necessidades espirituais do seu próximo.
Um livro fechado é apenas um bloco de papel.
O Amor é de outro Reino
O amor é de outro reino. (…) Da amizade, do amor, do encontro de duas pessoas que se sentem bem uma ao lado da outra, fazendo amor, falando de amor, trocando amor, conversando de amor, falando de nada, falando de pequenas histórias código de ministros com aventuras de aventuras sem ministros conversa alta e baixa de livros e de quadros de compras e de ninharias conversas trocadas em miúdos ouvindo música sem escutar música que ajuda o amor o amor precisa de ajudas de ir às cavalitas de andas de muita coisa simples amor é um segredo que deve ser alimentado nas horas vagas alimentado nas horas de trabalho nas horas mais isoladas amor é uma ocupação de vinte e quatro horas com dois turnos pela mesma pessoa com desconfianças e descobertas com cegueiras e lumineiras amor de tocar no mais íntimo na beleza de um encanto escondido recôndito que todos no mundo fizeram pais de padres mães de bispos avós de cardeais amor agarrado intrometido de falus com prazer de alegria amor que não se sabe o que vai dar que nunca se sabe o que vai dar amor tão amor.
Queimar um livro não significa destruí-lo. Um minuto de escuridão não nos tornará cegos.
O autor pode não interpretar. Mas tem que dizer porquê e como é que ele escreveu o seu livro.