De facto, quanto maior for a nossa ciência mais profundo é o mistério.
Passagens sobre Maior
1840 resultadosImparcialidade Inconsciente do Crítico
Quando um crítico deve julgar uma obra pode escolher dois métodos. Ou limitar-se a essa única obra do autor e abstrair das outras; – ou integrar no seu juízo toda a produção do autor. Mas na maior parte das vezes ele emprega um outro método que lhe deveria ser sempre interdito – consiste em integrar no quadro das suas considerações, paralelamente à obra submetida a crítica, outras obras de acordo com o humor da sua escolha, deixando arbitrariamente de lado as outras que, de momento, não servem o objectivo que persegue ou o efeito que pretende obter, outrogando-se assim o direito de fragmentar o autor a seu belo prazer.
Quantas vezes acontece – e não é necessariamente por má vontade – que o crítico projecta na obra de um autor a sua ideia fixa, sem ser já capaz de aí ver outra coisa a não ser essa ideia, que o obceca de modo monomaníaco; – enquanto que para o autor ela é na sua obra apenas um elemento entre dezenas e não necessariamente o mais importante.
Atribui-se ao artista uma intenção artística, ética ou outra que ele nunca teve e critica-se-lhe o facto de não ter atingido aquilo que ele queria.
O maior favor que se pode prestar a uma semente é enterrá-la
O que a si próprio louva, murmura do maior amigo que tem.
Mortos, Ainda Morremos
O rastro breve que das ervas moles
Ergue o pé findo, o eco que oco coa,
A sombra que se adumbra,
O branco que a nau larga —Nem maior nem melhor deixa a alma às almas,
O ido aos indos. A lembrança esquece,
Mortos, inda morremos.
Lídia, somos só nossos.
Acreditamos que vós (Deus) sois algo que nada se pode conceber que vos seja maior.
Não há mais do que uma história: a história do homem. Todas as histórias nacionais não são mais do que capítulos de uma maior.
A Maior Humildade
Não acusar-me. Buscar a base do egoísmo: tudo o que não sou não pode me interessar, há impossibilidade de ser além do que se é — no entanto eu me ultrapasso mesmo sem o delírio, sou mais do que eu quase normalmente —; tenho um corpo e tudo o que eu fizer é continuação de meu começo; se a civilização dos Maias não me interessa é porque nada tenho dentro de mim que se possa unir aos seus baixos-relevos; aceito tudo o que vem de mim porque não tenho conhecimento das causas e é possível que esteja pisando no vital sem saber; é essa a minha maior humildade, adivinhava ela.
O maior truque já realizado pelo diabo foi convencer o mundo de que ele não existe.
Hoje declarei em casa de uns amigos que a maior prova de amor que um poeta pode dar a uma mulher é a sua intimidade. Escrever versos diante dela é qualquer coisa como parir com um Cristo à cabeceira da cama.
Os homems percorrem distâncias muito maiores para evitar aquilo que receiam do que a obter aquilo que desejam.
Existir é Ser Possível Haver Ser
Ah, perante esta única realidade, que é o mistério,
Perante esta única realidade terrível — a de haver uma realidade,
Perante este horrível ser que é haver ser,
Perante este abismo de existir um abismo,
Este abismo de a existência de tudo ser um abismo,
Ser um abismo por simplesmente ser,
Por poder ser,
Por haver ser!
— Perante isto tudo como tudo o que os homens fazem,
Tudo o que os homens dizem,
Tudo quanto constroem, desfazem ou se constrói ou desfaz através deles,
Se empequena!
Não, não se empequena… se transforma em outra coisa —
Numa só coisa tremenda e negra e impossível,
Urna coisa que está para além dos deuses, de Deus, do Destino
—Aquilo que faz que haja deuses e Deus e Destino,
Aquilo que faz que haja ser para que possa haver seres,
Aquilo que subsiste através de todas as formas,
De todas as vidas, abstratas ou concretas,
Eternas ou contingentes,
Verdadeiras ou falsas!
Aquilo que, quando se abrangeu tudo, ainda ficou fora,
Porque quando se abrangeu tudo não se abrangeu explicar por que é um tudo,
A maior das desgraças é não saber sofrer a desgraça.
Não se deve ir atrás de objetivos fáceis. É preciso buscar o que só pode ser alcançado por meio dos maiores esforços.
A maior tarefa nos dada à fazer por Deus é renunciar a si mesmo e isso ninguém quer fazer e quando o faz faz por Deus.
O Terror do Optimismo
A verdadeira razão por que todos nós pensamos tão bem dos outros é que todos temos medo de nós próprios. A base do optimismo é o puro terror. Julgamos que somos generosos porque atribuímos ao nosso vizinho a posse daquelas virtudes que pensamos poderem vir a beneficiar-nos. Louvamos o banqueiro para podermos exceder o nosso crédito, e encontramos bons princípios no assaltante na esperança de que nos poupe as carteiras. Acredito em tudo o que disse. Tenho o maior dos desprezos pelo optimismo.
O egoísmo é esta lei da perspectiva do sentimento, de acordo com a qual as coisas mais próximas são as maiores e as mais pesadas, ao passo que todas as que se afastam diminuem de tamanho e de peso.
Se és artista, não fales em ser maior ou menor, para não confundires a tua obra com uma prova de atletismo.
XII
Fatigado da calma se acolhia
Junto o rebanho à sombra dos salgueiros;
E o sol, queimando os ásperos oiteiros,
Com violência maior no campo ardia.Sufocava se o vento, que gemia
Entre o verde matiz dos sovereiros;
E tanto ao gado, como aos pegureiros
Desmaiava o calor do intenso dia.Nesta ardente estação, de fino amante
Dando mostras Daliso, atravessava
O campo todo em busca de Violante.Seu descuido em seu fogo desculpava;
Que mal feria o sol tão penetrante,
Onde maior incêndio a alma abrasava.
A Causa da Vontade
A nossa vida não passaria de uma série de caprichos, se a nossa vontade se determinasse por si mesma e sem motivos. Não temos vontade que não seja produzida por alguma reflexão ou por alguma paixão. Quando levanto a mão, é para fazer uma experiência com a minha liberdade ou por alguma outra razão. Quando me propõem um jogo de escolha entre par ou ímpar, durante o tempo em que as ideias de um e de outro se sucedem no meu espírito com rapidez, mescladas de esperança e temor, se escolho par, é porque a necessidade de fazer uma escolha se apresenta ao meu pensamento no momento em que par está aí presente. Proponha-se o exemplo que se quiser, demonstrarei a qualquer homem de boa-fé que não temos nenhuma vontade que não seja precedida por algum sentimento ou por algum arrazoado que a faz nascer. É verdade que a vontade tem também o poder de excitar as nossas ideias; mas é necessário que ela própria seja antes determinada por alguma causa.
A vontade não é nunca o primeiro princípio das nossas acções, ela é o seu último móbil; é o ponteiro que marca as horas num relógio e que o leva a dar as pancadas sonoras.