O vicio consistia para mim, no hábito do pecado. ignorava que é mais difícil ceder só uma vez do que não ceder nunca.
Passagens de Marguerite Yourcenar
101 resultadosTentemos, se pudermos, penetrar na morte de olhos abertos.
No conjunto, é somente por orgulho, por ignorância grosseira, por covardia, que nos recusamos a ver, no presente, lineamentos das épocas que virão.
Mas não há ninguém tão tolo que não seja um pouco sábio.
Em todas as épocas há pessoas que não pensam como as outras. Ou seja, que não pensam como os que não pensam.
Tudo não passara de um envolvimento que s poderia classificar como puramente epitelial
A Realidade não Está nos Livros
Como toda a gente, só disponho de três meios para avaliar a existência humana: o estudo de nós próprios, o mais difícil e o mais perigoso, mas também o mais fecundo dos métodos; a observação dos homens, que na maior parte dos casos fazem tudo para nos esconder os seus segredos ou para nos convencer de que os têm; os livros, com os erros particulares de perspectiva que nascem entre as suas linhas. Li quase tudo quanto os nossos historiadores, os nossos poetas e mesmo os nossos narradores escreveram, apesar de estes últimos serem considerados frívolos, e devo-lhes talvez mais informações do que as que recebi das situações bastante variadas da minha própria vida. A palavra escrita ensinou-me a escutar a voz humana, assim como as grandes atitudes imóveis das estátuas me ensinaram a apreciar os gestos. Em contrapartida, e posteriormente, a vida fez-me compreender os livros.
Mas estes mentem, mesmo os mais sinceros. Os menos hábeis, por falta de palavras e de frases onde possam abrangê-la, traçam da vida uma imagem trivial e pobre; alguns, como Lucano, tornam-na mais pesada e obstruída com uma solenidade que ela não tem. Outros, pelo contrário, como Petrónio, aligeiram-na, fazem dela uma bola saltitante e vazia,
A sabedoria é a forma mais dura e mais condensada do ardor, a parcela de ouro nascida do fogo e não da cinza.
A única coisa que me faz prosseguir é a certeza de que não és feliz. Temos mentido tanto, e tanto sofrido por mentir, que não há grande risco em tentar a cura através da sinceridade.
Nada há de mais sujo do que o amor-próprio.
O romance devora hoje todas as formas: estamos quase obrigados a passar por ele.
Há uma espécie de satisfação em saber que somos pobres, que somos sós e que ninguém, absolutamente ninguém, se preocupa conosco.
Quanto amargor fermenta-se no fundo da doçura, quanto desespero esconde-se na abnegação e quanto ódio mistura-se ao amor.
O álcool tira as ilusões. Depois de alguns golos de conhaque já não penso em ti.
Os costumes não admitem a paixão para as mulheres. Permitem-lhes somente o amor. É talvez por essa razão que elas amam tão totalmente.
As Virtudes de Cada Um
Não desprezo os homens. Se o fizesse, não teria direito algum nem razão alguma para tentar governá-los. Sei que são vãos, ignorantes, ávidos, inquietos, capazes de quase tudo para triunfar, para se fazer valer, mesmo aos seus próprios olhos, ou simplesmente para evitar o sofrimento. Sei muito bem: sou como eles, pelo menos momentaneamente, ou poderia tê-lo sido. Entre outrem e eu, as diferenças que distingo são demasiado insignificantes para que a minha atitude se afaste tanto da fria superioridade do filósofo como da arrogância de César. Os mais opacos dos homens também têm os seus clarões: este assassino toca correctamente flauta; este contramestre que dilacera o dorso dos escravos com chicotadas é talvez um bom filho; este idiota partilharia comigo o seu último bocado de pão. Há poucos a quem não possa ensinar-se convenientemente alguma coisa. O nosso grande erro é querer encontrar em cada um, em especial, as virtudes que ele não tem e desinteressarmo-nos de cultivar as que ele possui.
A morte surgia-lhe como uma consagração de que só os mais puros são dignos: muitos homens desfazem-se, poucos morrem.
O passado, é infinitamente mais estável do que o presente. Em consequência os seus efeitos são muito maiores.
Nossos defeitos são, por vezes, os melhores adversários dos nossos vícios.
De todos os jogos, o do amor é o único capaz de transtornar a alma e, ao mesmo tempo, o único no qual o jogador se abandona necessariamente ao delírio do corpo