Só as crianças e os bem velhinhos conhecem a volúpia de viver dia a dia, hora a hora, e suas esperanças são breves.
Passagens de Mário Quintana
363 resultadosO tempo é um ponto de vista. Velho é quem é um dia mais velho que a gente…
Mas que susto não irão levar essas velhas carolas se Deus existe mesmo…
O Auto-Retrato
No retrato que me faço
– traço a traço –
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore…às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança…
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão…e, desta lida, em que busco
– pouco a pouco –
minha eterna semelhança,no final, que restará?
Um desenho de criança…
Corrigido por um louco!
Era um grande nome – ora que dúvida! Uma verdadeira glória. Um dia adoeceu, morreu, virou rua… E continuaram a pisar em cima dele.
O tempo não para! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo…
Só tu soubeste achar-me… e te foste!
Os Poemas
Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti…
Diário de Viagem: O poeta foi visto por um rio, por uma árvore, por uma estrada…
Minha vida é uma colcha de retalhos. Todos da mesma cor.
Escadas de caracol Sempre São misteriosas: conturbam… Quandas as desce, a gente Se desparafusa… Quando a gente as sobe Se parafusa (…)
Todo o bem, todo o mal que eles te dizem, nada seria, se soubessem expressá-lo… O ataque de uma borboleta agrada mais que todos os beijos de um cavalo.
Sentir primeiro, pensar depois Perdoar primeiro, julgar depois Amar primeiro, educar depois Esquecer primeiro, aprender depois.
Quem faz ? em mim ? esta interrogação ?
Um dia descobrimos que beijar uma pessoa para esquecer outra, é bobagem.
Quando fechas o livro, eles alçam voo como de um alçapão.
No céu é sempre domingo. E a gente não tem outra coisa a fazer senão ouvir os chatos. E lá é ainda pior que aqui, pois se trata dos chatos de todas as épocas do mundo.
A Rua Dos Cataventos – XXXV
Quando eu morrer e no frescor de lua
Da casa nova me quedar a sós,
Deixa-me em paz na minha quieta rua…
Nada mais quero com nenhum de vós!Quero é ficar com alguns poemas tortos
Que andei tentando endireitar em vão…
Que lindo a Eternidade, amigos mortos,
Para as torturas lentas da Expressão!…Eu lavarei comigo as madrugadas,
Pôr de sóis, algum luar, asas em bando,
Mais o rir das primeiras namoradas…E um dia a morte há de fitar com espanto
Os fios da vida que eu urdi, cantando,
Na orla negra do seu negro manto…
Quantas vezes a gente, em busca da ventura, Procede tal e qual o avozinho infeliz: Em vão, por toda parte, os óculos procura Tendo-os na ponta do nariz!
Ela era branca, branca. Dessa brancura que não se usa mais. Mas sua alma era furta-cor.