Se só se permitisse o matrimónio aos que são moralmente capazes de contraí-lo, quase toda a humanidade seria família ilegítima.
Passagens sobre Matrimónio
36 resultadosA Única Alegria Neste Mundo é a de Começar
A única alegria neste mundo é a de começar. É belo viver, porque viver é começar, sempre, a cada instante. Quando esta sensação desapaece – prisão, doença, hábito, estupidez – deseja-se morrer.
É por isso que quando uma situação dolorosa se reproduz de modo idêntico – parece idêntica – nada apaga o horror que tal coisa nos provoca.
O princípio acima enunciado não é, portanto, próprio de um viveur. Porque há mais hábito na experiência a todo o custo (cfr, o antipático «viajar a todo o custo») do que na charneira normal aceite com o sentido do dever e vivida com entusiasmo e inteligência. Estou convencido de que há mais hábito nas aventuras de do que num bom casamento.
Porque o próprio da aventura é conservar uma reserva mental de defesa; é por isso que não existem boas aventuras. Só é boa aventura aquela em que nos abandonamos: o matrimónio, em suma, talvez até aqueles que são feitos no céu.
Quem não sente o perene recomeçar que vivifica a existência normal de um casal é, no fundo, um parvo que, por mais que diga, não sente, sequer, um verdadeiro recomeçar em cada aventura.
A lição é sempre a mesma: atirarmo-nos para a frente e saber suportar o castigo.
O sacramento do matrimónio não apaga, como o do baptismo, as manchas originais.
O amor é uma harpa eólia que soa por si; o matrimónio é um harmónio que soa à força de pedaladas.
O matrimónio é o grande dever do homem.
O sexto sentido é vital no matrimónio, particularmente após o quinto divórcio.
O matrimónio só tem quinze dias verdadeiramente felizes: os últimos dias que antecedem o casamento.
Antes do matrimónio ele fala e ela escuta; durante a lua-de-mel ambos falam e escutam; mais tarde ela fala e ele não escuta; finalmente gritam os dois e escutam os vizinhos.
O matrimónio é a cova do amor.
Se os esposos não vivessem juntos, haveria mais matrimónios felizes.
A Desventura Máxima é a Solidão
A desventura máxima é a solidão. É tão verdade que o reconforto supremo – a religião – consiste em encontrar uma companhia que nunca falhe – Deus. A oração é um desabafo, como com um amigo. A obra equivale à oração, porque nos põe em contacto com os que dela tirarão proveito. O problema da vida é, portanto, o seguinte: como romper a nossa solidão, como comunicar com os outros. Assim se explica a existência do matrimónio, da paternidade, das amizades. Mas que a felicidade resida nisto, balelas! Porque se deva estar melhor comunicando com os outros do que só, é estranho. É talvez apenas uma ilusão: a maior parte do tempo, estamos muitíssimo bem sós. É agradável ter, de tempos a tempos, um odre em que nos possamos despejar e, em seguida, bebermo-nos a nós próprios: dado que pedimos aos outros apenas aquilo que já temos em nós. É um mistério o motivo por que não basta perscrutar e beber em nós próprios e seja preciso reavermo-nos por intermédio dos outros. (O sexo é um incidente: o que recebemos é momentâneo e casual; pretendemos algo de mais secreto e misterioso de que o sexo é apenas um sinal, um símbolo).
Noutros tempos houve amores platónicos, hoje há matrimónios platónicos.
Em matéria de amor e matrimónio pode mais que os santos o demónio.
No matrimónio, uma profunda análise mútua conduz a uma infinita querela.
O matrimónio não é a lotaria. Na lotaria algumas vezes ganha-se.
O matrimónio é a única união que o tempo pode fortalecer.