Não inventaram ainda uma pólvora suave, maneirosa, capaz de explodir os homens sem lhes matar. Uma pólvora que, em avessos serviços, gerasse mais vida. E do homem explodido nascessem os infinitos homens que lhes estão por dentro.
Passagens de Mia Couto
388 resultadosO pessimismo é um luxo para os ricos.
Neste lugar, não há pedacitos. Todo o tempo, a partir daqui, são eternidades.
Não são os mortos que ressuscitam, são os vivos.
O silêncio é, tanto quanto a palavra, um momento vital de partilha de entendimento.
De todas as vezes que rezei não foi por devoção. Foi para me lembrar. Porque só rezando me chegavam as lembranças de quem eu fui.
A tristeza é uma janela que se abre nas traseiras do mundo.
Fui Sabendo de Mim
Fui sabendo de mim
por aquilo que perdiapedaços que saíram de mim
com o mistério de serem poucos
e valerem só quando os perdiafui ficando
por umbrais
aquém do passo
que nunca ouseieu vi
a árvore morta
e soube que mentia
A modernidade não é uma porta apenas feita pelos outros. Nós somos também carpinteiros dessa construção e só nos interessa entrar numa modernidade de que sejamos também construtores.
O pranto é o consumar de duas viagens: da lágrima à luz e do homem para uma maior humanidade. Afinal a pessoa não vem à luz logo em pranto? O choro não é a nossa primeira voz?
Horário do Fim
morre-se nada
quando chega a vezé só um solavanco
na estrada por onde já não vamosmorre-se tudo
quando não é o justo momentoe não é nunca
esse momento
Os mais perigosos inimigos não são aqueles que te odiaram desde sempre. Quem mais deves temer são os que, durante um tempo, estiveram próximos e por ti se sentiram fascinados.
Esquecemos que todos os povos do mundo são pacíficos, à partida. Os povos não são um produto genético, imutável. São produto da História. E a História pode facilmente converter os desejos de Paz em violência pessoal e social.
Só temos como nossos os filhos que são infelizes. Os outros, os que gozam de felicidade, acabam se afastando, em suave dança com a Vida.
O problema da solidão é que não temos ninguém a quem mentir.
Identidade
Preciso ser um outro
para ser eu mesmoSou grão de rocha
Sou o vento que a desgastaSou pólen sem insecto
Sou areia sustentando
o sexo das árvoresExisto onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuroNo mundo que combato morro
no mundo por que luto nasço
A minha aprendizagem é não ficar intimidado pelo tempo.
A janela: não é onde a casa sonha ser mundo?
A saudade é um morcego cego que falhou o fruto e mordeu a noite.
Uma terra que não cuida dos seus mortos é porque está sendo governada pela própria Morte.