O presente nada mais é do que o esforço do passado para converter-se no futuro.
Passagens de Miguel de Unamuno
94 resultadosA Posteridade é uma Sobreposição de Minorias
Aquele que despreza o aplauso da multidão de hoje, é o que procura sobreviver em renovadas minorias, durante gerações. «A posteridade é uma sobreposição de minorias», dizia Gounod. Quer-se prolongar mais no tempo do que no espaço. Os ídolos das multidões são derrubados prontamente por elas mesmas, e a sua estátua desfaz-se ao pé do pedestal, sem que ninguém olhe para ela, enquanto que aqueles que conquistam o coração dos escolhidos receberão, por mais tempo, um culto fervoroso numa capela, ainda que recolhida e pequena, mas que salvará as avenidas do esquecimento. O artista sacrifica a grandeza da sua fama à sua duração; anseia mais por durar sempre num recôndito, do que que brilhar um segundo no universo todo; antes quer ser o átomo eterno e consciente de si mesmo, do que a momentânea consciência do universo todo; sacrifica a infinidade à eternidade.
O horror ao trabalho dá trabalhos sem conta.
As línguas, como as religiões, vivem de heresias.
Não sabes qual dos teus próximos influi mais em ti, mas seguramente não é aquele que tens mais perto e vês e ouves amiúde.
A palavra sábia é aquela que, dita a uma criança, é sempre compreendida sem a necessidade de explicações.
Para cada alma há uma ideia que lhe corresponde e que é como a sua fórmula; e andam as almas e as ideias procurando-se umas às outras.
Quase todos os homens vivem inconscientemente no tédio. O tédio é o fundo da vida, foi o tédio que inventou os jogos, as distracções, os romances e o amor.
Cada novo amigo que ganhamos no decorrer da vida aperfeiçoa-nos e enriquece-nos, não tanto pelo que nos dá, mas pelo que nos revela de nós mesmos.
Escreve claro quem concebe ou imagina claro; com vigor, quem com vigor pensa, por ser a língua um vestido transparente do pensamento.
O aborrecimento é o alicerce da vida, foi o aborrecimento que inventou os jogos, as distracções, os romances e o amor.
Querer separar a religião da política é uma loucura tão grande ou maior do que a de querer separar a economia da política.
O silêncio pode ser uma grande mentira
Ler muito é um dos caminhos para a originalidade; uma pessoa é tão mais original e peculiar quanto mais conhecer o que disseram os outros.
A Mudança só se Dá na Continuidade
Dirigirmo-nos a alguém com a missão de que se transforme noutro, é irmos com a embaixada de que ele deixe de ser ele. Cada qual defende a sua personalidade, e só aceita uma mudança na sua maneira de pensar ou de sentir, na medida em que esta alteração possa entrar na unidade do seu espírito e enredar-se na sua continuidade; na medida em que essa mudança se puder harmonizar e se conseguir integrar com tudo o resto da sua maneira de ser, pensar e sentir, e possa, por outro lado, enlaçar-se nas suas recordações. Nem a um homem, nem a um povo – que, em certo sentido, também é um homem – se pode exigir uma mudança, que desfaça a unidade e a continuidade da sua pessoa. Pode-se mudá-lo muito, quase até por completo; mas sempre, dentro da continuidade.
É certo que, em certos indivíduos, acontece aquilo a que se chama mudança de personalidade; mas isso é um caso patológico, e é como tal que os psiquiatras o estudam. Nessas alterações de personalidade, a memória, base da consciência, arruina-se por completo e, ao pobre paciente, só resta, como substracto de continuidade individual – já que não pessoal -, o organismo físico.
O que é o paradoxo? Uma palavra que os tolos inventaram para a aplicar a tudo o que ouvem pela primeira vez. Para Adão, tudo seria paradoxo, ou melhor, nada o seria.
Não seja o teu pesar pelo que fizeste senão o propósito de tua futura melhora; todo outro arrependimento não é senão morte.
A maior parte daqueles que pensam em mudar de ideia nunca teve nenhuma.
Há momentos em que silenciar é mentir.
Não existe pior intolerância do que a da razão.