Tomas repete para si mesmo o provérbio alemão: einmal ist keinmal, uma vez não conta, uma vez é nunca. Não poder viver mais do que uma vida é como não viver nunca.
Passagens de Milan Kundera
109 resultadosA cultura desaparece numa multidão de produções, numa avalanche de frases, na demência da quantidade.
A nossa vida não é como um rascunho, a gente não pode simplesmente amassar o papel e começar tudo novamente.
Tinha uma vontade terrível de lhe dizer como as mais comuns das mulheres: não me deixe, guarde-me perto de você, escravize-me, seja forte! Mas eram palavras que não podia e não sabia pronunciar.
O homem infeliz procura consolo amalgamando as suas penas com as penas de outro.
O Amor Era a Festa do Inimitável
O amor, outrora, era a festa do individual, do inimitável, a glória do que é único, do que não suporta qualquer repetição. Mas o umbigo não só não se revolta contra a repetição, é um apelo às repetições! Vamos viver, no nosso milénio, sob o signo do umbigo. Sob este signo, somos todos, tanto um como outro, soldados do sexo, com o mesmo olhar fixo não sobre a mulher amada mas sobre o mesmo pequeno buraco no meio da barriga que representa o único sentido, o único fim, o único futuro de todo o desejo erótico.
Os cães são o nosso elo com o paraíso. Eles não conhecem a maldade, a inveja ou o descontentamento. Sentar-se com um cão ao pé de uma colina numa linda tarde, é voltar ao Éden onde ficar sem fazer nada não era tédio, era paz.
O Romancista e o Escritor
Releio o curto ensaio de Sartre O Que é Escrever?. Nem uma vez ele utiliza as palavras romance, romancista. Fala apenas do escritor da prosa. Distinção justa. O escritor tem ideias originais e uma voz inimitável. Pode servir-se de qualquer forma (romance incluído) e tudo o que escreve, já que marcado pelo seu pensamento, levado pela sua voz, faz parte da sua obra. Rouseau, Goethe, ChateauBriand, Gide, Malraux, Camus, Montherland.
O romancista não liga muito às suas ideias. É um descobridor que, tacteando, se esforça por desvendar um aspecto desconhecido da existência. Não está fascinado pela sua voz mas por uma forma que persegue, e só as formas que respondem às exigências do seu sonho fazem parte da sua obra. Fielding, Sterne, Flaubert, Proust, Faulkner, Céline, Calvino.
O escritor inscreve-se na carta espiritual do seu tempo, da sua nação, na da história das ideias. O único contexto em que se pode apreender o valor de um romance é o da história do romance europeu. O romancista não tem contas a prestar a ninguém, excepto a Cervantes.
O amor não se manifesta no desejo de dormir com alguém, mas dormir junto à alguém.
Longe de serem mais sensatos depois de mortos, os habitantes do cemitério eram ainda mais extravagantes do que em vida.
Mas o que pode valer a vida, se o primeiro ensaio da vida, já é a própria vida.
Se pode com razão, criticar o homem por ser cego a esses acasos, privando a vida da sua dimensão de beleza.
Atravesso o presente de olhos vendados,mal podendo pressentir aquilo que estou vivendo… Só mais tarde,quando a venda é retirada,percebo o que foi vivido e compreendo o sentido do que se passou…
Não há nada mais forte que a compaixão. Nem a sua própria dor pesa tão fortemente como a dor que se sente por alguém, pela dor de alguém amplificada pela imaginação e prolongada por centenas de ecos.
Um homem possuído pela paz está sempre a sorrir.
O ciúme tem o poder espantoso de iluminar uma única pessoa com um intenso feixe de luz, mantendo a multidão dos outros na escuridão total.
O amor é a ânsia pela metade de nós que perdemos.
Há uma parte de todos nós que vive fora do tempo. Talvez só tomemos consciência da nossa idade em momentos excecionais, na maioria do tempo não temos idade.
A emoção do amor dá-nos a todos nós uma ilusão enganadora de conhecermos o outro.
Mas era justamente o fraco que devia ser forte e partir quando o forte fosse fraco demais para poder ofender o fraco.