Missa sem cevada, nĂŁo estorva jornada.
Passagens sobre Missa
35 resultadosA nĂŁo ser que o identificador de chamada diga que Ă© Deus ligando, vocĂŞ nĂŁo deve atender ao telefone durante a missa.
Quem foi à missa, perdeu a chouriça.
Não há missa sem sacristão.
Missa acabada, partamos a obrada.
O Cerne da Escrita e da Leitura
NĂŁo se Ă© escritor por se ter preferido dizer certas coisas, mas por se ter preferido dizĂŞ-las duma certa maneira. E o estilo faz, evidentemente, o valor da prosa. Mas deve passar despercebido. Uma vez que as palavras sĂŁo transparentes e que o olhar as atravessa, seria absurdo meter entre elas vidros despolidos. Aqui, a beleza Ă© apenas uma força doce e insensĂvel.
Num quadro, brilha antes de mais nada; num livro, esconde-se, age por persuasĂŁo como o encanto duma voz ou dum rosto, nĂŁo obriga, faz curvar sem que se dĂŞ por isso e pensa-se ceder aos argumentos quando afinal se Ă© solicitado por um encanto imperceptĂvel. A cerimĂłnia da missa nĂŁo Ă© a fĂ©, ela dispõe a isso; a harmonia das palavras, a sua beleza, o equilĂbrio das frases, dispõem as paixões do leitor sem que ele dĂŞ por isso, ordenam-nas como a missa, como a mĂşsica, como uma dança; se acaba por as considerar em si mesmas, perde o sentido, apenas restam oscilações aborrecidas.
O melhor da missa Ă© chegar ao fim.
Recordo que, uma vez, quando era pároco, durante a missa das crianças, no dia de Pentecostes, fiz esta pergunta: «Quem sabe quem Ă© o EspĂrito Santo?» E todas as crianças levantaram a mĂŁo. Uma delas respondeu: «O paralĂtico!» Tinha ouvido «Paráclito» e tinha percebido «paralĂtico»! É assim: o EspĂrito Santo Ă© sempre um pouco o desconhecido da nossa fĂ©.
Ă€ Braseira
Saio da tua casa. Escorrega,
do codo, a rua. Alcanço a porta amiga
de teu Tio, que espera a suecada.
Ah! que rica braseira! Levas, pronto,
uma chita, ou lavagem, ou lambida,
ou rapada. Um jagodes, na Emissora,
alude a um trintanário de missas
que impĂ´s um qualquer coiso em testamento.
Eu barafusto. Rica bacorada!
Que viva a bela pândega dos burros!
A braseira consola. Cai folheca
lá fora. Os vidros suam, lagrimejam.
Apanhas, de seguida, trĂŞs capotes.
Alvorecer
A noite empalidece. Alvorecer…
Ouve-se mais o gargalhar da fonte…
Sobre a cidade muda, o horizonte
É uma orquĂdea estranha a florescer.Há andorinhas prontas a dizer
A missa d’alva, mal o sol desponte.
Gritos de galos soam monte em monte
Numa intensa alegria de viver.Passos ao longe… um vulto que se esvai…
Em cada sombra Colombina trai…
Anda o silêncio em volta a q’rer falar…E o luar que desmaia, macerado,
Lembra, pálido, tonto, esfarrapado,
Um Pierrot, todo branco, a soluçar…
A missa se derranca com muito ámen.
Missa e pimento, fraco alimento.
Ilumina-se a Igreja por Dentro da Chuva
Ilumina-se a igreja por dentro da chuva deste dia,
E cada vela que se acende é mais chuva a bater na vidraça…Alegra-me ouvir a chuva porque ela é o templo estar aceso,
E as vidraças da igreja vistas de fora são o som da chuva ouvido por dentro …O esplendor do altar-mor é o eu não poder quase ver os montes
Através da chuva que é ouro tão solene na toalha do altar…Soa o canto do coro, latino e vento a sacudir-me a vidraça
E sente-se chiar a água no fato de haver coro…A missa é um automóvel que passa
Através dos fiéis que se ajoelham em hoje ser um dia triste…
SĂşbito vento sacode em esplendor maior
A festa da catedral e o ruĂdo da chuva absorve tudo
Até só se ouvir a voz do padre água perder-se ao longe
Com o som de rodas de automóvel…E apagam-se as luzes da igreja
Na chuva que cessa …
Manias
O mundo Ă© velha cena ensanguentada.
Coberta de remendos, picaresca;
A vida Ă© chula farsa assobiada,
Ou selvagem tragédia romanesca.Eu sei um bom rapaz, – hoje uma ossada -,
Que amava certa dama pedantesca,
PerversĂssima, esquálida e chagada,
Mas cheia de jactância, quixotesca.Aos domingos a déia, já rugosa,
Concedia-lhe o braço, com preguiça,
E o dengue, em atitude receosa,Na sujeição canina mais submissa,
Levava na tremente mĂŁo nervosa,
O livro com que a amante ia ouvir missa!
NĂŁo DĂŞs Esmola a Santinhos
MOTE
NĂŁo dĂŞs esmola a santinhos,
Se queres ser bom cidadĂŁo;
Dá antes aos pobrezinhos
Uma fatia de pĂŁo.GLOSAS
NĂŁo dĂŞs, porque a padralhada
Pega nas tuas esmolinhas
E compra frangos e galinhas
Para comer de tomatada;
E os santos nĂŁo provam nada,
Nem o cheiro, coitadinhos…
Os padres bebem bons vinhos
Por taças finas, bonitas…
Se elas são p’ra parasitas,
NĂŁo dĂŞs esmola a santinhos.Missas nĂŁo mandes dizer,
Nem lhes faças mais promessas
E nem mandes armar essas
Se um dia alguém te morrer.
NĂŁo dĂŞs nada que fazer
Ao padre e ao sacristĂŁo,
A ver para onde eles vão…
Trabalhar, nĂŁo, com certeza.
Dá sempre esmola à pobreza
Se queres ser bom cidadĂŁo.Tu nĂŁo vĂŞs que aquela gente
Chega até a fingir que chora,
Afirmando o que ignora,
Assim descaradamente!?…
Arranjam voz comovente
Para jludir os parvinhos
E fazem-se muito mansinhos,
Que Ă© o seu modo de mamar;
Portanto, o que lhe hás-de dar,
Dá antes aos pobrezinhos.
Estar na missa e nĂŁo ver o padre.
Cada um vai Ă missa com a roupa que leva.
Há MetafĂsica Bastante em nĂŁo Pensar em Nada
Há metafĂsica bastante em nĂŁo pensar em nada.
O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.Que idéia tenho eu das cousas?
Que opiniĂŁo tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas cousas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vĂŞ o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filĂłsofos e de todos os poetas.
A luz do sol nĂŁo sabe o que faz
E por isso nĂŁo erra e Ă© comum e boa.
O Caminho de um Criador
Creio que tem havido sempre na nossa terra uma descabida preocupação canónica à ilharga de cada artista. Interessa mais ao zelo nacional averiguar se um poeta morreu sacramentado, do que ler os seus versos. Ninguém quer saber se o caminho de um criador o leva à morada das musas e da beleza; espreita-se da janela, mas é para ver se ele vai à missa. Ora isto é de analfabetos, de pessoas que verdadeiramente não sabem nem querem saber do valor de um poema, do mundo de liberdade e de independência que ele encerra. E uma gente assim não me convém, nem tão-pouco o Deus intolerante que servem. Por isso me vou divertindo com as minhas divindades naturais, luciferinamente, certo de que o diabo é ainda uma grande companhia. Foi a ele que Jesus disse que o seu reino não era deste mundo. E o meu, precisamente, é.
Os encontros temperados com um pouco de missa são os melhores. Não há nada mais mimoso do que uma olhadela que passa por cima de Deus.