Passagens sobre Momentos

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Frases sobre momentos, poemas sobre momentos e outras passagens sobre momentos para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

Em Louvor das Crianças

Se há na terra um reino que nos seja familiar e ao mesmo tempo estranho, fechado nos seus limites e simultaneamente sem fronteiras, esse reino é o da infância. A esse país inocente, donde se é expulso sempre demasiado cedo, apenas se regressa em momentos privilegiados — a tais regressos se chama, às vezes, poesia. Essa espécie de terra mítica é habitada por seres de uma tão grande formosura que os anjos tiveram neles o seu modelo, e foi às crianças, como todos sabem pelos evangelhos, que foi prometido o Paraíso.
A sedução das crianças provém, antes de mais, da sua proximidade com os animais — a sua relação com o mundo não é a da utilidade, mas a do prazer. Elas não conhecem ainda os dois grandes inimigos da alma, que são, como disse Saint-Exupéry, o dinheiro e a vaidade. Estas frágeis criaturas, as únicas desde a origem destinadas à imortalidade, são também as mais vulneráveis — elas têm o peito aberto às maravilhas do mundo, mas estão sem defesa para a bestialidade humana que, apesar de tanta tecnologia de ponta, não diminui nem se extingue.
O sofrimento de uma criança é de uma ordem tão monstruosa que,

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Parece, Meu Caro …, que as cabeças dos homens mais notáveis minguam quando se reúnem, e que onde há mais sábios, há também menos sabedoria. Os grandes grupos, prendem-se tanto aos momentos e aos vãos costumes, que o essencial não vem senão depois.

Dualidade

Sei que é Amor, meu amor…porque o desejo
o meu próprio desejo tão violento,
dir-se-ia ter pudor, ter sentimento,
quando estás junto a mim, quando te vejo.

É um clarim a vibrar como um harpejo,
misto de impulso e de deslumbramento.
Sei que é Amor, meu amor…porque o desejo
é desejo e ternura a um só momento.

Beijo-te a boca, as mãos, e hei de beijar-te
nessa dupla emoção, (violento e terno)
em que a minha alma inteira se reparte,

– e a perceber em meu estranho ardor,
que há uma luta entre o efêmero e o eterno,
entre um demônio e um anjo em todo Amor!

Mal chegado já te escrevo para te dizer quanto penso em ti. Quando se está longe é que se vê como se ama. Como é triste não te ver e não ouvir a tua boa vozinha a dizer-me querido marotinho. Maria eu amo-te tanto e tu és tão boa. Quando eu te não tenho junto de mim não encontro prazer em nada. Eu olhava neste momento o teu retrato que me dava tanto gosto antes de te conhecer e que agora só me diz que estou longe de ti. Adeus querido amor. Pensa em mim como eu penso em ti.

Hoje em dia apenas a pessoa que já não acredita num final feliz, apenas aquele que conscientemente renunciou a ele, é capaz de viver. Não existe um século feliz; mas existem momentos de felicidade, e existe felicidade no momento.

Ao Pecado Original

Se sendo, meu Senhor, por vós formado
Adão, antes de ser o mal nascido,
Pecou, que fará quem foi concebido
Nas entranhas, que já tinham pecado?

Comer de um fruito só lhe foi vedado,
Tudo o mais a seu gosto concedido,
E por uma só vez haver caido,
Por muitas ser não posso levantado.

Tão fraca ficou minha natureza,
Que levantar não deixa o pensamento
Da terra, a que está atada e presa,

Tão imiga do meu merecimento,
Que se morder não pode na pureza,
Não deixa de ladrar um só momento.

No momento mais doloroso da tua vida, o teu marido gostaria de estar ao pé de ti para dizer tudo aquilo que ele pensa, mas que é impossível de escrever. (…) Muitos poderão dizer-to ou mostrar-to melhor que eu, mas ninguém te conhece ou te ama mais do que o teu marido devotado.

Faz Acontecer

Mais vale uma única ação rumo ao que desejas do que dez palavras ditas, cem frases escritas ou mil pensamentos iguais.

As coisas não acontecem pelo número de vezes que as dizes, escreves ou pensas nelas; as coisas acontecem por aquilo que tu fazes para elas acontecerem.

Nada acontece porque, e por exemplo, afirmas que amanhã é que vais começar a perder peso ou porque desabafas sistematicamente para o papel todas as tuas tristezas ou porque não paras de pensar naquilo que te faria bem. Nada. Rigorosamente nada. O que dizes é zero se não deres forma às tuas palavras. O que escreves é nulo se não existir compromisso para além das palavras. E o que pensas não vale nada se não deres vida aos pensamentos.

As palavras faladas ou escritas têm uma força poderosíssima, é indesmentível, assim como tudo aquilo que pensamos. No entanto, sem ação, sem criação em movimento, de nada valem. O sumo de todas as conversas que tens, de todos os livros que lês ou de todos os diários que escreves e todas as ideias que te pincelam a cabeça, resume-se a nada se daí não se originar mudança.

E não há mudança sem saíres do conforto.

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Se alguém apontar um defeito teu, deves sentir gratidão. Se alguém ficar zangado contigo, deves arrepender-te por ter tumultuado a mente dele, qualquer que tenha sido a circunstância; reconhece com fraqueza teu erro. No momento em que reconheceres teu erro com sinceridade, revelarás tua sublime natureza divina.

Quando uma Terceira Pessoa fica a par de um Assunto Privado…

É impossível ultrapassar um incidente ocorrido entre duas pessoas a partir do momento em que ele deixa de ser um segredo entre elas. Pois, a partir do momento em que um terceiro, a partir do momento em que outros indivíduos não envolvidos – como não pode deixar de acontecer – são postos a par do segredo, este incidente que até então era apenas uma questão entre duas pessoas, inicia uma nova existência em consciências estranhas; assume uma nova forma, adquire um novo sentido, pode prolongar-se e repercutir-se finalmente de modo misterioso nas duas pessoas entre as quais ocorreu.

A Monotonia

Nos grandes momentos todos são heróis; tem-se sempre a ideia, embora vaga, de que se está representando e que o papel se deverá desempenhar com perfeição; de outro modo não aplaude o público. Depois as epopeias duram pouco; todas as forças se podem concentrar, faz-se um apelo supremo à suprema energia; em seguida permite-se o descanso, a mediocridade que apazigua e repousa; nada mais vulgar do que um herói fora do seu teatro.
Não é, pois, necessário que te prepares para as crises; são horas em que sempre – se não és totalmente apagado – te encontrarás acima de ti próprio; mil elementos te farão pedestal; tão alto subirás que só te será difícil, passada a exaltação, não te admirares do que fizeste; vês-te incapaz de repetir o golpe; e para a fama do herói certamente contribui este espanto que o toma de se não ter sempre igual, de em determinada conjuntura ter passado sobre ele o apelo dos deuses.
É para todos os dias que precisas de educar e afinar a alma; é para te sentires o mesmo em todos os minutos que deves dominar os impulsos e ser obstinadamente calmo ante as dificuldades e os perigos,

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É tão Suave a Fuga deste Dia

É tão suave a fuga deste dia,
Lídia, que não parece, que vivemos.
Sem dúvida que os deuses
Nos são gratos esta hora,

Em paga nobre desta fé que temos
Na exilada verdade dos seus corpos
Nos dão o alto prêmio
De nos deixarem ser

Convivas lúcidos da sua calma,
Herdeiros um momento do seu jeito
De viver toda a vida
Dentro dum só momento,

Dum só momento, Lídia, em que afastados
Das terrenas angústias recebemos
Olímpicas delícias
Dentro das nossas almas.

E um só momento nos sentimos deuses
Imortais pela calma que vestimos
E a altiva indiferença
Às coisas passageiras

Como quem guarda a c’roa da vitória
Estes fanados louros de um só dia
Guardemos para termos,
No futuro enrugado,

Perene à nossa vista a certa prova
De que um momento os deuses nos amaram
E nos deram uma hora
Não nossa, mas do Olimpo.

Uma aliança cujo objectivo não compreenda o propósito de guerra não tem sentido nem valor. Alianças são feitas apenas para combater. E por mais distante no tempo que esteja o conflito no momento de concluir um pacto de aliança, a perspectiva de uma realização armada é, contudo, o íntimo pretexto para que aconteça.

O Peso Bruto da Irritação

Se fôssemos contabilizar as paixões desta vida, os ódios e os amores, os grandes sobressaltos, as comoções, os transtornos, os arrebatamentos e os arroubos, os momentos de terror e de esperança, os ataques de ansiedade e de ternura, a violência dos desejos, os acessos de saudade e as elevações religiosas e se as somássemos todas numa só sensação, não seria nada comparada com o peso bruto da irritação. Passamos mais tempo e gastamos mais coração a sermos irritados do que em qualquer outro estado de espírito.
Apaixonamo-nos uma vez na vida, odiamos duas, sofremos três, mas somos irritados pelo menos vinte vezes por dia. Mais que o divórcio, mais que o despedimento, mais que ser traído por um amigo, a irritação é a principal causa de «stress» — e logo de mortalidade — da nossa existência.
É a torneira que pinga e o colega que funga, a criança que bate com o garfinho no rebordo do prato, a empregada que se esquece sempre de comprar maionnaise, a namorada que não enche o tabuleiro de gelo, o namorado que se esquece de tapar a pasta dentrífica, a nossa própria incompetência ao tentar programar o vídeo, o homem que mete um conto de gasolina e pede para verificar a pressão dos pneus,

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Nessa Sala Perdida Na Inglaterra

Nessa sala perdida na Inglaterra
Vivo entre coisas mortas, vivo e mudo
Poeta louco e triste, eu te saúdo
No teu quarto de século na terra

Não te valha essa máscara de estudo
Nem te sirva essa máscara de guerra
Valha-te essa tristeza que te aterra
E essa loucura que em tua alma é tudo

Mova-te o sangue que em teu ser lateja
Leve-te o estro lúcido e distante
Que consomes nos copos de cerveja

Leve-te a vida ao bem da tua amante
E a mote, que do túmulo te beija
Viva-te como um momento deste instante.

Abraça-me

Abraça-me. Quero ouvir o vento que vem da tua pele, e ver o sol nascer do intenso calor dos nossos corpos. Quando me perfumo assim, em ti, nada existe a não ser este relâmpago feliz, esta maçã azul que foi colhida na palidez de todos os caminhos, e que ambos mordemos para provar o sabor que tem a carne incandescente das estrelas. Abraça-me. Veste o meu corpo de ti, para que em ti eu possa buscar o sentido dos sentidos, o sentido da vida. Procura-me com os teus antigos braços de criança, para desamarrar em mim a eternidade, essa soma formidável de todos os momentos livres que a um e a outro pertenceram. Abraça-me. Quero morrer de ti em mim, espantado de amor. Dá-me a beber, antes, a água dos teus beijos, para que possa levá-la comigo e oferecê-la aos astros pequeninos.
Só essa água fará reconhecer o mais profundo, o mais intenso amor do universo, e eu quero que delem fiquem a saber até as estrelas mais antigas e brilhantes.
Abraça-me. Uma vez só. Uma vez mais.
Uma vez que nem sei se tu existes.

O Primeiro Filho

(Carta ao amigo Bernardo Pindela)

Entre tanta miséria e tantas coisas vis
Deste vil grão de areia,
Ainda tenho o condão de me sentir feliz
Com a ventura alheia.

À minha noite triste, à noite tormentosa,
Onde busco a verdade,
Chegou com asas d’oiro a canção cor-de-rosa
Da tua felicidade.

És pai, viste nascer um fragmento d’aurora
Da tua alma, de ti…
Oh, momento divino em que o sorriso chora,
E em que o pranto sorri!

Que ventura radiante! oh que ventura infinda!
Olímpicos amores
Ter frutos em Abril com o vergel ainda
Carregado de flores!

Deslumbramento!… ver num berço o teu futuro
Sorrindo ao teu presente!…
Ter a mulher e a mãe: juntar o beijo puro
Com o beijo inocente!…

Eu que vou, javali de flanco ensanguentado,
Pelos rudes caminhos
Ajoelho quando escuto à beira dum valado
Os murmúrios dos ninhos!

Em tudo que alvorece há um sorriso d’esperança,
Candura imaculada!…
E quer seja na flor, quer seja na criança
Sente-se a madrugada.

Quando,

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