O Bom Senso
O bom senso não exige um juízo muito profundo; parece antes consistir em só perceber os objectos na proporção exacta que eles têm com a nossa natrueza ou com a nossa condição. O bom senso não consiste então em pensar sobre as coisas com excesso de sagacidade, mas em concebê-las de maneira útil, em tomá-las no bom sentido.
Aquele que vê com um microscópio percebe, certamente, mais qualidade nas coisas; mas não as percebe na sua proporção natural com a natureza do homem, como quem usa apenas os olhos. Imagem dos espíritos subtis, eles às vezes penetram fundo demais; quem olha naturalmente as coisas tem bom senso.
O bom senso forma-se a partir de um gosto natural pela justeza e pelo mediano; é uma qualidade do carácter, mais do que do espírito. Para ter muito bom senso, é preciso ser feito de maneira que a razão predomine sobre o sentimento, a experiência sobre o raciocínio.
Passagens sobre Natureza
1307 resultadosNo meu Prato que Mistura de Natureza!
No meu prato que mistura de Natureza!
As minhas irmãs as plantas,
As companheiras das fontes, as santas
A quem ninguém reza…
E cortam-as e vêm à nossa mesa
E nos hotéis os hóspedes ruidosos,
Que chegam com correias tendo mantas
Pedem “Salada”, descuidosos…,
Sem pensar que exigem à Terra-Mãe
A sua frescura e os seus filhos primeiros,
As primeiras verdes palavras que ela tem,
As primeiras cousas vivas e irisantes
Que Noé viu
Quando as águas desceram e o cimo dos montes
Verde e alagado surgiu
E no ar por onde a pomba apareceu
O arco-íris se esbateu…
Ao Pecado Original
Se sendo, meu Senhor, por vós formado
Adão, antes de ser o mal nascido,
Pecou, que fará quem foi concebido
Nas entranhas, que já tinham pecado?Comer de um fruito só lhe foi vedado,
Tudo o mais a seu gosto concedido,
E por uma só vez haver caido,
Por muitas ser não posso levantado.Tão fraca ficou minha natureza,
Que levantar não deixa o pensamento
Da terra, a que está atada e presa,Tão imiga do meu merecimento,
Que se morder não pode na pureza,
Não deixa de ladrar um só momento.
Talvez seja da minha natureza não me sentir pertencendo totalmente a lugar nenhum, em lugar nenhum.
Estupidamente, agora as governações proíbem o milho e acaba por se passar fome. Aqui há tempos faltava o milho e ficou tudo aflito. Agora já se pode cultivar milho outra vez. É incompreensível este desprezo pela natureza, da qual nós dependemos inteiramente.
A umas Mãos
Senhora, estas vossas mãos
São sobre belas tão lindas,
Que dão de mão aos arminhos
Na candidez, com que brilham.
Formou-as a natureza
De excelências tão subidas,
Que por essas mãos perder-me.
Senhora são mãos perder-me.
A graça tem às mãos cheas
Essas vossas mãos benignas,
Tanto que em mãos de papel
Nunca todas caberiam.
Se alguém tocá-las pertende,
As retirais tão esquiva,
Tão depressa, que de mão
Sempre ganhais na fugida.
Nas mãos vos vi umas letras,
Que dizem serem mui lindas,
E com ter as mãos impressas,
Pareciam manuscritas.
Não quero jogar convosco
As mãos, pois sois tão ladina,
Que como sois mão no jogo,
Temo ter a mão perdida.
Perder a mão pouco temo,
Se nas vossas mãos caíra,
Porque cair-vos nas mãos,
Era bem feliz caída.
Não digo mais destas mãos,
Porque são mãos tão benignas,
Que as trazem todos nas palmas
Das mãos por final de estima.
Somente digo, que basta,
Pra mãos encarecidas,
Dizer um dia um Cigano,
Que eram mãos de buena dicha.
Se alguém apontar um defeito teu, deves sentir gratidão. Se alguém ficar zangado contigo, deves arrepender-te por ter tumultuado a mente dele, qualquer que tenha sido a circunstância; reconhece com fraqueza teu erro. No momento em que reconheceres teu erro com sinceridade, revelarás tua sublime natureza divina.
O mundo tornou-se perigoso, porque os homens aprenderam a dominar a natureza antes de se dominarem a si mesmos.
A bomba atômica mudou tudo exceto a natureza do homem.
Da glória, que não é romper muralhas,
Tragar a natureza,
Ou nutrir ilusões, dar vulto ao nada,
Mas em jugo macio
Docemente prender geral vontade.
Os Prazeres Nunca Parecem Ser Suficientes
Parece-me que a natureza trabalhou para ingratos: somos felizes, mas os nossos discursos são tais que parecemos nem sequer suspeitar disso. No entanto, encontramos prazeres em toda a parte: estão ligados ao nosso ser, e os pesares não passam de acidentes. Os objectos parecem em toda a parte preparados para os nossos prazeres: quando o sono nos chama, as trevas nos aguardam; e, quando acordamos, a luz do dia nos arrebata. A natureza é enfeitada de mil cores; os nossos ouvidos são lisonjeados pelos sons; as iguarias têm gosto agradável; e, como se a felicidade da existência não fosse suficiente, é ainda necessário que a nossa máquina precise de ser incessantemente reparada para os nossos prazeres.
Que Preceitos Ministrar com o Nosso Semelhante?
Passemos a outra questão: o modo de tratarmos com o nosso semelhante. Como devemos agir, que preceitos ministrar? Que não derramemos sangue humano? Ao nosso semelhante devemos fazer o bem: aconselhar a não lhe fazer mal, que ridículo! Até parece que encontrar algum homem que não seja uma fera para os outros já é coisa merecedora de encómios… Vamos aconselhar a que se estenda a mão ao náufrago, se indique o caminho a quem anda perdido, se divida o pão com o esfomeado? Mas para que hei-de eu enumerar todos os actos que devemos ou não devemos praticar quando posso numa só frase resumir todos os nossos deveres para com os outros? Tudo quanto vês, este espaço em que se contém o divino e o humano, é uno, e nós não somos senão os membros de um vasto corpo. A natureza gerou-nos como uma só família, pois nos criou da mesma matéria e nos dará o mesmo destino; a natureza faz-nos sentir amor uns pelos outros, e aponta-nos a vida em sociedade. A natureza determinou tudo quanto é lícito e justo; pela própria lei da natureza, é mais terrível fazer o mal do que sofrê-lo; em obediência à natureza, as nossas mãos devem estar prontas a auxiliar quem delas necessite.
Quando os homens não olham para a natureza, julgam sempre poder melhorá-la.
Por uma necessidade absoluta e incontrolável, a natureza determinou-nos a julgar tanto quanto a respirar e a sentir.
Todas as fontes externas de felicidade e deleite são, segundo a sua natureza, extremamente inseguras, precárias, passageiras e submetidas ao acaso; podem, portanto, estancar com facilidade, mesmo sob as mais favoráveis circunstâncias.
Enquanto a pessoa continuar pensando que o corpo carnal é existência verdadeira, ela ainda não anulou, isto é, não o crucificou. Logo, não nasceu de novo, não renasceu em espírito. Sua vida ainda é de natureza carnal e não de natureza divina. Quem considera o corpo como existência real e fala no dualismo espírito-carne, ainda não despertou para a Verdade.
A Natureza sempre se encaminha com ordem e a bom fim.
É arrogante a classe dos cientistas-naturalistas que querem liquidar Deus completamente, como supérfluo, substituindo-o pelas leis naturais. Substituem uma idéia ininteligível por outra equivalente. Sob a presunção de controle e compreensibilidade bem humanas sobre a natureza.
A natureza faz troça dos indivíduos. Desde que a grande máquina do universo vá girando, os ínfimos seres que a habitam não lhe interessam para nada!
Interpretar o Progresso
Supõe-se que o progresso social consiste na maior e mais variada produção dos objectos necessários à satisfação das nossas necessidades, na crescente segurança pessoal e da propriedade e na amplitude concedida à liberdade de acção. Todavia, o progresso social, rigorosamente entendido, consiste nas transformações de estrutura do organismo social, causa donde derivam as consequências que se observam. A ideia comum é teleológica. Os fenómenos consideram-se apenas na sua relação com a felicidade humana; e pensa-se que só devem reputar-se progressivas aquelas transformações que, directa ou indirectamente, tendem a aumentar esta felicidade, fazendo, por conseguinte, depender o seu carácter, na relação a que nos circunscrevemos, da referida tendência. Não obstante, para bem se compreender o progresso, devemos investigar a natureza de tais transformações, com absoluta independência da nossa individualidade.