Os meus males ninguĂ©m mos adivinha… A minha Dor nĂŁo fala, anda sozinha… Dissesse ela o que sente! Ai quem me dera!… Os males de Anto toda a gente sabe! Os meus… ninguĂ©m… A minha Dor nĂŁo cabe nos cem milhões de versos que eu fizera!…
Passagens sobre Ninguém
1737 resultadosA diferença entre sexo e morte é que com a morte você pode fazê-lo sozinho e ninguém irá rir de você.
A Culpa é uma Doença
A culpa Ă© uma doença que te arrasta e se alastra aos outros. De um momento para o outro, tu prĂłprio, por habituação, culpasse por tudo e por nada, por situações em que podias ter feito melhor e por outras em que nada havia a fazer. Muitos de nĂłs residem no condomĂnio da culpa. É essa a sua zona de conforto, pois foi a ela que se acostumaram e nĂŁo conhecem nada para lá dos limites dessa emoção. Depois Ă© a altura de eles ensinarem aos outros que somos todos culpados Ă vez, passam o testemunho do pecado aos conhecidos, familiares, amigos e filhos e, pronto, cá andamos todos num ciclo penoso de geração em geração.
Há solução? Claro! Há sempre solução para tudo.
É preponderante viver com a convicção de que apenas somos culpados de alguma coisa se agirmos com intenção de magoar, caso contrário somos apenas responsáveis. Não, não é a mesma coisa. A culpa sufoca-nos, a responsabilidade empurra-nos para a ação e promove a mudança.
De que forma, entĂŁo, posso eu parar este ciclo vicioso?
– NĂŁo permitindo que te considerem culpado seja do que for e se insistirem em fazĂŞ-lo expulsa essas pessoas da tua vida.
O Socorro
Ele foi cavando, foi cavando, cavando, pois sua profissĂŁo – coveiro – era cavar. Mas, de repente, na distracção do ofĂcio que amava, percebeu que cavara de mais. Tentou sair da cova e nĂŁo conseguiu. Levantou o olhar para cima e viu que, sozinho, nĂŁo conseguiria sair. Gritou. NinguĂ©m atendeu. Gritou mais forte. NinguĂ©m veio. Enlouqueceu de gritar, cansou de esbravejar, desistiu com a noite. Sentou-se no fundo da cova, desesperado. A noite chegou, subiu, fez-se o silĂŞncio das horas tardas. Bateu o frio da madrugada e, na noite escura, nĂŁo se ouvia mais um som humano, embora o cemitĂ©rio estivesse cheio dos pipilos e coaxares naturais dos matos. SĂł pouco depois da meia-noite Ă© que lá vieram uns passos. Deitado no fundo da cova o coveiro gritou. Os passos se aproximaram. Uma cabeça Ă©bria apareceu lá em cima, perguntou o que havia: «O que Ă© que há?»
O coveiro entĂŁo gritou, desesperado: «Tire-me daqui, por favor. Estou com um frio terrĂvel!». «Mas coitado!» – condoeu-se o bĂŞbado. – «Tem toda razĂŁo de estar com frio.
Alguém tirou a terra toda de cima de você, meu pobre mortinho!». E, pegando na pá, encheu-a de terra e pôs-se a cobri-lo cuidadosamente.
Viverás, que da Pena a Força Emana
Ou pra fazer-te o epitáfio vivo,
ou vives mais e a terra me apodrece.
Tua memĂłria a morte deste arquivo
não tira, mas de mim o resto esquece.Aqui terá o teu nome imortal gala,
indo eu, hei-de ficar do mundo oculto,
sĂł pode dar-me a terra comum vala,
no olhar dos homens tu serás sepulto.Meus versos monumento te serão
que hĂŁo-de ler e reler olhos a vir
e as lĂnguas a haver repetirĂŁoo que Ă©s, quando já ninguĂ©m respire.
Viverás, que da pena a força emana,
onde o sopro mais sopra, em boca humana.
Ninguém guarda melhor um segredo que uma criança.
Canção do Verdadeiro Abandono
Podem todos rir de mim,
podem correr-me Ă pedrada,
podem espreitar-me Ă janela
e ter a porta fechada.Com palavras de ilusĂŁo
não me convence ninguém.
Tudo o que guardo na mĂŁo
não tem vislumbres de além.Não sou irmã das estrelas,
nem das pombas nem dos astros.
Tenho uma dor consciente
de bicho que sofre as pedras
e se desloca de rastos.
Não há ninguém que não se envergonhe de ter amado outro, quando o amor já acabou entre eles.
Fala do Homem Nascido
(Chega Ă boca da cena, e diz:)
Venho da terra assombrada,
do ventre de minha mĂŁe;
nĂŁo pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém.Só quero o que me é devido
por me trazerem aqui,
que eu nem sequer fui ouvido
no acto de que nasci.Trago boca para comer
e olhos para desejar.
Com licença, quero passar,
tenho pressa de viver.
Com licença! Com licença!
Que a vida é água a correr.
Venho do fundo do tempo;
nĂŁo tenho tempo a perder.Minha barca aparelhada
solta o pano rumo ao norte;
meu desejo Ă© passaporte
para a fronteira fechada.
Não há ventos que não prestem
nem marés que não convenham,
nem forças que me molestem,
correntes que me detenham.Quero eu e a Natureza,
que a Natureza sou eu,
e as forças da Natureza
nunca ninguém as venceu.Com licença! Com licença!
Que a barca se fez ao mar.
Não há poder que me vença.
Mesmo morto hei-de passar.
Com licença!
Cada Leitura Ă© Ăšnica
Muitos autores sĂŁo ao mesmo tempo os seus prĂłprios leitores – Ă medida que escrevem -, e Ă© por isso que tantos vestĂgios do leitor aparecem nos seus escritos – tantas observações crĂticas – tanto que pertence Ă provĂncia do leitor e nĂŁo Ă do autor. Travessões – palavras em maiĂşsculas – passagens grifadas – tudo isso pertence Ă esfera do leitor. O leitor põe a ĂŞnfase como tem vontade – ele de facto faz de um livro o que deseja. NĂŁo Ă© todo o leitor um filĂłlogo? NĂŁo existe uma Ăşnica leitura válida somente, no sentido usual. A leitura Ă© uma operação livre. NinguĂ©m me pode prescrever como e o que lerei.
Todas as espĂ©cies de inclinações, de amizades, de amor sĂŁo, simultaneamente, fisiolĂłgicas. NinguĂ©m entre nĂłs consegue saber quais as profundezas e quais as alturas que a realidade fĂsica atinge.
Ninguém é bastante competente para se aconselhar a si mesmo.
É errado quando acreditas em cada um, mas também é errado quando não acreditas em ninguém.
Praticamente nĂŁo existe palavra nos dias de hoje que se tenha usado tĂŁo mal como a palavra ”livre” … NĂŁo confio nela porque ninguĂ©m quer a liberdade para todos; todos a querem para si.
Mas, no meio de tudo isso, também observou que ninguém respondia às galanterias de Porthos. Eram apenas quimeras e ilusões. Mas, para um amor verdadeiro, para um ciúme real, haverá outra realidade além de quimeras e ilusões?
As pessoas podem fazer o que quiserem, mas ninguĂ©m liga ao que elas fazem. Para os portugueses sĂł interessa a cara que tĂŞm. Pode ser-se arquitecto mas se calha ter «cara de quem nunca fez um desenho na vida» está lixado. Pode nunca ter provado uma pinga de vinho na vida mas se alguĂ©m afirma que Ă© alcoĂłlico e há outro que diz «Tem cara disso…» pode considerar-se bĂŞbado para todos os efeitos. Pode ser a pessoa mais amistosa e gregária do mundo, mas se tem «cara de pouco amigos» toda a gente foge dele.
Ninguém ainda sabe se tudo apenas vive para morrer ou se morre para renascer.
Estás Só
Estás só. Ninguém o sabe. Cala e finge.
Mas finge sem fingimento.
Nada ‘speres que em ti já nĂŁo exista,
Cada um consigo Ă© triste.
Tens sol se há sol, ramos se ramos buscas,
Sorte se a sorte Ă© dada.
Ninguém se faz amar pela força ou pela violência.
Conta Comigo Sempre
Conta comigo sempre. Desde a sĂlaba inicial atĂ© Ă Ăşltima gota de sangue. Venho do silĂŞncio incerto do poema e sou, umas vezes constelação e outras vezes árvore, tantas vezes equilĂbrio, outras tantas tempestade. A nossa memĂłria Ă© um mistĂ©rio, recordo-me de uma mĂşsica maravilhosa que nunca ouvi, na qual consigo distinguir com clareza as flautas, os violinos, o oboĂ©.
O sonho Ă©, e será sempre e apenas, dos vivos, dos que mastigam o pĂŁo amadurecido da dĂşvida e a carne deslumbrada das pupilas. Estou entre vazios e plenitudes, encho as mĂŁos com uma fragilidade que Ă© um pássaro sábio e distraĂdo que se aninha no coração e se alimenta de amor, esse amor acima do desejo, bem acima do sofrimento.
Conta comigo sempre. Piso as mesmas pedras que tu pisas, ergo-me da face da mesma moeda em que te reconheço, contigo quero festejar dias antigos e os dias que hĂŁo-de vir, contigo repartirei tambĂ©m a minha fome mas, e sobretudo, repartirei atĂ© o que Ă© indivisĂvel. Tu sabes onde estou.
Sabes como me chamo. Estarei presente quando já mais ninguém estiver contigo, quando chegar a hora decisiva e não encontrares mais esperança, quando a tua antiga coragem vacilar.