Despondency
Deixá-la ir, a ave, a quem roubaram
Ninho e filhos e tudo, sem piedade…
Que a leve o ar sem fim da soledade
Onde as asas partidas a levaram…Deixá-la ir, a vela, que arrojaram
Os tufões pelo mar, na escuridade,
Quando a noite surgiu da imensidade,
Quando os ventos do Sul levantaram…Deixá-la ir, a alma lastimosa,
Que perdeu fé e paz e confiança,
Ă€ morte queda, Ă morte silenciosa…Deixá-la ir, a nota desprendida
D’um canto extremo… e a Ăşltima esperança…
E a vida… e o amor… Deixá-la ir, a vida!
Passagens sobre Noite
1300 resultadosO Amor nĂŁo Acontece. Decide-se.
Há quem julgue que o amor Ă© alheio Ă vontade humana, algo superior que elege, embala e conduz… e que quase nada se pode fazer perante tamanha força. Isso Ă© uma mera paixĂŁo no seu sentido menos nobre. E, nesse caso, sim, o amor acontece… Ao contrário, amar Ă© estar acima das paixões e dos apetites. Mesmo quando o amor nasce de uma espontaneidade, resulta de um claro discernimento.
O amor decorre de uma decisĂŁo. De um compromisso. ConstrĂłi-se de forma consciente. AtravĂ©s do heroĂsmo de alguĂ©m livre que decide ser o que poucos ousam. Escolhe para fim de si mesmo ser o meio para a felicidade daquele a quem ama. Sim, decide-se amar e, sim, decide-se a quem amar.
O amor autĂŞntico Ă© raro e extraordinário, embora o seu nome sirva para quase tudo… a maior parte das vezes designa egoĂsmos entrelaçados, cada vez mais comuns. SĂŁo poucos os que se aventuram, os que arriscam tudo, os que se dispõem a amar mesmo quando sabem que poucos sequer perceberĂŁo o que fazem, o seu porquĂŞ e o para quĂŞ.
O amor nĂŁo supõe reciprocidade. Amar Ă© dar-se por completo e aceitar tudo… nĂŁo se contabilizam ganhos e perdas,
A esperança se adquire. Chega-se à esperança através da verdade, pagando o preço de repetidos esforços e de uma longa paciência. Para encontrar a esperança é necessário ir além do desespero. Quando chegamos ao fim da noite, encontramos a aurora.
É preciso ver o que nĂŁo foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na Primavera o que se vira no VerĂŁo, ver de dia o que se viu de noite, com Sol onde primeiramente a chuva caĂa, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui nĂŁo estava.
Meus pais sacrificaram toda a vida por mim. Nunca vou esquecer isso. Minha mãe era tão boa, e à noite quando fecho os olhos posso sentir a presença dela. E quando volto para casa, Graceland, sei que ela está lá. Posso sentir
A Graça
Que harmonia suave
É esta, que na mente
Eu sinto murmurar,
Ora profunda e grave,
Ora meiga e cadente,
Ora que faz chorar?
Porque da morte a sombra,
Que para mim em tudo
Negra se reproduz,
Se aclara, e desassombra
Seu gesto carrancudo,
Banhada em branda luz?
Porque no coração
NĂŁo sinto pesar tanto
O férreo pé da dor,
E o hino da oração,
Em vez de irado canto,
Me pede Ăntimo ardor?És tu, meu anjo, cuja voz divina
Vem consolar a solidĂŁo do enfermo,
E a contemplar com placidez o ensina
De curta vida o derradeiro termo?Oh, sim!, és tu, que na infantil idade,.
Da aurora Ă frouxa luz,
Me dizias: «Acorda, inocentinho,
Faz o sinal da Cruz.»
És tu, que eu via em sonhos, nesses anos
De inda puro sonhar,
Em nuvem d’ouro e pĂşrpura descendo
Coas roupas a alvejar.
És tu, és tu!, que ao pôr do Sol, na veiga,
Junto ao bosque fremente,
Me contavas mistérios, harmonias
Dos Céus,
Quem me Dera que a Minha Vida Fosse um Carro de Bois
Quem me dera que a minha vida fosse um carro de bois
Que vem a chiar, manhĂŁzinha cedo, pela estrada,
E que para de onde veio volta depois
Quase Ă noitinha pela mesma estrada.
Eu não tinha que ter esperanças — tinha só que ter rodas
…
A minha velhice nĂŁo tinha rugas nem cabelo branco…
Quando eu já não servia, tiravam-me as rodas
E eu ficava virado e partido no fundo de um barranco.
A Noite Suavemente Descia
A noite
Suavemente descia;
E eu nos teus braços deitádo
Até sonhei que morria.E via
Goivos e cravos aos mĂłlhos;
Um Christo crucificado;
Nos teus olhos,
Suavidade e frieza;
Damasco rĂ´xo, cinzento,
Rendas, velludos puĂdos,
Perfumes caros entornados,
RumĂ´r de vento em surdina,
Insenso, rézas, brocados;
Penumbra, sinos dobrando;
Vellas ardendo;
Guitarras, soluços, pragas,
E eu… devagar morrendo.O teu rosto moreninho,
Eu achei-o mais formoso,
Mas, sem lagrimas, enxuto;
E o teu corpo delgado,
O teu corpo gracioso,
Estava todo coberto de lucto.Depois, anciosamente,
Procurei a tua boca,
A tua boca sadĂa;
Beijámo-nos doidamente…
– Era dia!E os nossos corpos unidos,
Como corpos sem sentidos,
No chĂŁo rolaram… e assim ficaram!…
Tudo isto Ă© fado
Perguntaste-me outro dia
Se eu sabia o que era o fado
Eu disse que nĂŁo sabia
Tu ficaste admirado
Sem saber o que dizia
Eu menti naquela hora
E disse que nĂŁo sabia
Mas vou-te dizer agoraAlmas vencidas
Noites perdidas
Sombras bizarras
Na mouraria
Canta um rufia
Choram guitarras
Amor ciĂşme
Cinzas e lume
Dor e pecado
Tudo isto existe
Tudo isto Ă© triste
Tudo isto Ă© fadoSe queres ser meu senhor
E teres-me sempre a teu lado
NĂŁo me fales sĂł de amor
Fala-me também do fado
É canção que é meu castigo
SĂł basceu p’ra me perder
O fado Ă© tudo o que eu digo
Mais o que eu nĂŁo sei dizer
Vibra o Passado em Tudo o que Palpita
Vibra o passado em tudo o que palpita
qual dança em coração de bailarino
ao regressar já mudo o violino
e há nuvens sobre o bosque em que transitaĂ€ paz dos seres a morte em seu contĂnuo
crescer em ramos de coral incita
a bem da noite negra e infinita
ser um raro instrumento Ă© seu destino:O ceptro dos eleitos que nĂŁo cansam
o corpo que este tempo já não quebra
é como a cruz que os astros quando avançamsobre o sul traçam por medida e regra
Os deuses tĂŞm-no em suas mĂŁos cativo
risĂvel Ă© quem eles mandam vivo.Tradução de Vasco Graça Moura
insinceridade
quis-nos aos dois enlaçados
meu amor ao lusco-fusco
mas sem saber o que busco:
há poentes desolados
e o vento Ă s vezes Ă© brusconem o cheiro a maresia
a rebate nas marés
na costa de lés a lés
mais tempo nos duraria
do que a espuma a nossos pésa vida no sol-poente
fica assim num triste enleio
entre melindre e receio
de que a sombra se acrescente
e nĂłs perdidos no meiosem perdĂŁo e sem disfarce,
sem deixar uma pegada
por sobre a areia molhada,
a ver o dia apagar-se
e a noite feita de nadapor isso afinal nĂŁo quero
ir contigo ao lusco-fusco,
meu amor, nem Ă© sincero
fingir eu que assim te espero,
sem saber bem o que busco.
Consulta
Chamei em volta do meu frio leito
As memĂłrias melhores de outra idade,
Formas vagas, que Ă s noites, com piedade,
Se inclinam, a espreitar, sobre o meu peito…E disse-lhes: No mundo imenso e estreito
Valia a pena, acaso, em ansiedade
Ter nascido? Dizei-mo com verdade,
Pobres memĂłrias que eu ao seio estreito.Mas elas perturbaram-se – coitadas!
E empalideceram, contristadas,
Ainda a mais feliz, a mais serena…E cada uma delas, lentamente,
Com um sorriso mĂłrbido, pungente,
Me respondeu: – NĂŁo, nĂŁo valia a pena!
Esta Noite Morrerás
Esta noite morrerás.
Quando a lua vier tocar-me o rosto
terás partido do meu leito
e aquele que procurar a marca dos teus passos
encontra urtigas crescendo
por sobre o teu nome.
Esta noite morrerás.
Quando a lua vier tocar-me o rosto
terás partido do meu leito
e uma gota de sangue ressequido
Ă© a marca dos teus passos.
No coração do tempo pulsa um maquinismo Ănscio
e na casa do tempo a hora Ă© adorno.
Quando a lua vier tocar-me o rosto a tua sombra extinta marca
o fim de um eclipse horário de uma partida iminente e o tempo
apaga a marca dos teus passos sobre o meu nome.
Constante.
O mar Ă© isso.
A lua vir tocar-me o rosto e encontrar urtigas crescendo
por sobre o teu nome.
O mar Ă© tu morreste.
O mar Ă© ser noite e vir a lua tocar-me o rosto quando tu par-
tiste e no meu leito crescem folhas sangue.
A febre Ă© uma pira incompreensĂvel como a aparição da lua
e a opacidade do mar.
No meu leito a lua vai tocar-me o rosto e a tua ausĂŞncia Ă© um
prisma,
Vozes da Noite
Vozes na Noite! Quem fala
Com tanto ardor, tanto afĂŁ?
Falou o Grilo primeiro,
Logo depois foi a RĂŁ.Pobre loucura dos homens
Quando julgam entendê-las…
SĂł eles pasmam os olhos
Neste encanto das estrelas…Lá no silêncio dos campos
Ou no mais ermo da serra,
Na voz das rĂŁs dala a Ă gua,
Na voz dos grilos a Terra.SĂł eles cantam a vida
Com amor e singeleza,
Por ser descuidada, alegre;
Por ser simples, com beleza.Pudesse agora dizer-te,
Sem ser por palavras vĂŁs,
O que diz a voz dos grilos,
O que diz a voz das rĂŁs.
Poema Final
Ó cores virtuais que jazeis subterrâneas,
_ Fulgurações azuis, vermelhos de hemoptise,
Represados clarões, cromáticas vesânias,
No limbo onde esperais a luz que vos batize,As pálpebras cerrai, ansiosas não veleis.
Abortos que pendeis as frontes cor de cidra,
TĂŁo graves de cismar, nos bocais dos museus,
E escutando o correr da água na clepsidra,Vagamente sorris, resignados e ateus,
Cessai de cogitar, o abismo nĂŁo sondeis.
Gemebundo arrulhar dos sonhos nĂŁo sonhados,Que toda a noite errais, doces almas penando,
E as asas lacerais na aresta dos telhados,
E no vento expirais em um queixume brando,
Adormecei. NĂŁo suspireis. NĂŁo respireis.
A notĂcia de que ela vivia alegre, quando eu chorava todas as noites, produziu-me aquele efeito, acompanhado de um bater de coração, tĂŁo violento, que ainda agora cuido ouvi-lo.
O Socorro
Ele foi cavando, foi cavando, cavando, pois sua profissĂŁo – coveiro – era cavar. Mas, de repente, na distracção do ofĂcio que amava, percebeu que cavara de mais. Tentou sair da cova e nĂŁo conseguiu. Levantou o olhar para cima e viu que, sozinho, nĂŁo conseguiria sair. Gritou. NinguĂ©m atendeu. Gritou mais forte. NinguĂ©m veio. Enlouqueceu de gritar, cansou de esbravejar, desistiu com a noite. Sentou-se no fundo da cova, desesperado. A noite chegou, subiu, fez-se o silĂŞncio das horas tardas. Bateu o frio da madrugada e, na noite escura, nĂŁo se ouvia mais um som humano, embora o cemitĂ©rio estivesse cheio dos pipilos e coaxares naturais dos matos. SĂł pouco depois da meia-noite Ă© que lá vieram uns passos. Deitado no fundo da cova o coveiro gritou. Os passos se aproximaram. Uma cabeça Ă©bria apareceu lá em cima, perguntou o que havia: «O que Ă© que há?»
O coveiro entĂŁo gritou, desesperado: «Tire-me daqui, por favor. Estou com um frio terrĂvel!». «Mas coitado!» – condoeu-se o bĂŞbado. – «Tem toda razĂŁo de estar com frio.
Alguém tirou a terra toda de cima de você, meu pobre mortinho!». E, pegando na pá, encheu-a de terra e pôs-se a cobri-lo cuidadosamente.
Como a Noite Ă© Longa!
Como a noite Ă© longa!
Toda a noite Ă© assim…
Senta-te, ama, perto
Do leito onde esperto.
Vem p’r’ao pĂ© de mim…Amei tanta coisa…
Hoje nada existe.
Aqui ao pé da cama
Canta-me, minha ama,
Uma canção triste.Era uma princesa
Que amou… Já nĂŁo sei…
Como estou esquecido!
Canta-me ao ouvido
E adormecerei…Que Ă© feito de tudo?
Que fiz eu de mim?
Deixa-me dormir,Dormir a sorrir
E seja isto o fim.
Par Constante
Dia dois… uma festa… Era o mĂŞs de janeiro…
Festa da minha vida… A noite azul, brilhante…
Chegaste… E eu fui teu par… fui o teu par primeiro…
Dançamos… (como Ă© bom lembrar aquele instante!)Tu, tĂŁo linda, nem sei… Eu, feliz, petulante,
um pouco petulante, sim… mas cavalheiro…
Dançamos toda a noite… E fui teu par constante…
Nem sĂł teu par constante… Eu fui teu par primeiro…Quantas cousas te disse… E assim juntos, os dois,
com os meus olhos nos teus – afinal, quem diria
o mundo que ainda havia de surgir depois?Quem diria ao nos ver, talvez, aquele instante,
que o nosso par feliz, constante aquele dia,
seria a vida inteira e sempre um par constante!
Nenhuma Morte Apagará os Beijos
Nenhuma morte apagará os beijos
e por dentro das casas onde nos amámos ou pelas ruas
[clandestinas da grande cidade livre
estarĂŁo para sempre vivos os sinais de um grande amor,
esses densos sinais do amor e da morte
com que se vive a vida.AĂ estarĂŁo de novo as nossas mĂŁos.
E nenhuma dor será possĂvel onde nos beijámos.
Eternamente apaixonados, meu amor. Eternamente livres.
Prolongaremos em todos os dedos os nossos gestos e,
profundamente, no peito dos amantes, a nossa alma lĂquida
[e atormentadadesvenderá em cada minuto o seu segredo
para que este amor se prolongue e noutras bocas
ardam violentos de paixĂŁo os nossos beijos
e os corpos se abracem mais e se confundam
mutuamente violando-se, violentando a noite
para que outro dia, afinal, seja possĂvel.