Passagens sobre Obras

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O Espírito Negativo dos Filósofos

Ficam reduzidos a uma única frase bem sucedida os nossos grandes filósofos, os nossos maiores poetas, dizia ele, é essa a verdade, lembramo-nos muitas vezes apenas daquilo a que se chama uma tonalidade filosófica e mais nada, dizia ele, pensei. Estudamos uma obra grandiosa, a obra de Kant por exemplo, e essa obra fica, com o correr do tempo, reduzida à pequena cabeça de prussiano oriental, que é a de Kant, e a um universo inteiramente vago, feito de noite e de névoa, que vai dar à mesma incapacidade de todos os outros, dizia ele, pensei, Pretendia ser um universo de grandiosidade, e dele não restou mais do que um pormenor risível, assim dizia ele, pensei, e assim acontece com tudo. Aquilo a que chamamos grandeza não passa, afinal, de algo que apenas nos comove por provocar o riso e a compaixão. O próprio Shakespeare confrange-nos com o seu ridículo se tivermos um momento de lucidez, dizia ele, pensei. Já há muito que os deuses figuram nas nossas canecas de cerveja adornados apenas duma barba, dizia ele, pensei. Só o imbecil é que venera, dizia ele, pensei. O chamado homem de espírito consome-se a produzir uma obra que ele considera digna de marcar uma época,

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A Inocência

Caminhando no mundo vai segura
A Inocência, com grave firme passo.
Sem temor de cair no infame laço
Que arma a traidora mão, a mão perjura.

Como não obra mal, nem mal procura
Para os seus semelhantes, corre o espaço
Sem lança, sem arnês, sem peito de aço,
Armada só de consciência pura.

Pois que ofensa não faz, não teme ofensa
E por isso passeia, satisfeita,
Sem as feras temer na selva densa.

Traições, ódios, vinganças não espreita.
Certa no bem que faz, só nele pensa:
Quem remorsos não tem, mal não suspeita.

O Valor da Obra de Arte

A fonte imediata da obra de arte é a capacidade humana de pensar, da mesma forma que a «propensão para a troca e o comércio» é a fonte dos objectos de uso. Tratam-se de capacidades do homem, e não de meros atributos do animal humano, como sentimentos, desejos e necessidades, aos quais estão ligados e que muitas vezes constituem o seu conteúdo.
Estes atributos humanos são tão alheios ao mundo que o homem cria como seu lugar na terra, como os atributos correspondentes de outras espécies animais; se tivessem de constituir um ambiente fabricado pelo homem para o animal humano, esse ambiente seria um não mundo, resultado de emanação e não de criação. A capacidade de pensar relaciona-se com o sentimento, transformando a sua dor muda e inarticulada, do mesmo modo que a troca transforma a ganância crua do desejo e o uso transforma o anseio desesperado da necessidade – até que todos se tornem dignos de entrar no mundo transformados em coisas, reificados. Em cada caso, uma capacidade humana que, por sua própria natureza, é comunicativa e voltada para o mundo, transcende e transfere para o mundo algo muito intenso e veemente que estava aprisionado no ser.

A ciência humana de maneira nenhuma nega a existência de Deus. Quando considero quantas e quão maravilhosas coisas o homem compreende, pesquisa e consegue realizar, então reconheço claramente que o espírito humano é obra de Deus, e a mais notável.

Em toda a obra de criação há um fio condutor, nem sempre facilmente discernível, que lhe dá unidade – um fio discreto ou evidente, da maior importância, pois é um dos sinais da sua autenticidade.

A Variedade é a Única Desculpa da Abundância

A variedade é a única desculpa da abundância. Ninguém deveria deixar vinte livros diferentes, a menos que seja capaz de escrever como vinte homens diferentes. As obras de Victor Hugo enchem cinquenta grossos volumes, mas cada volume, cada página quase, contém todo o Victor Hugo. As outras páginas somam-se como páginas, não como génio. Nele não existia produtividade, mas prolixidade. Desperdiçou o seu tempo como génio, por pouco que o tivesse desperdiçado como escritor. A opinião de Goethe a seu respeito continua a ser suprema, apesar de ter sido precocmente emitida, e uma grande lição para todos os artistas: «Deveria escrever menos e trabalhar mais», disse ele. Este parecer, na sua distinção entre o trabalho a sério, que não se espraia, e o trabalho fictício, que ocupa espaço (pois as páginas nada mais são do que espaço), é uma das grandes opiniões críticas do mundo.
Se conseguir escrever como vinte homens diferentes, é vinte homens diferentes, seja lá como for, e os seus vinte livros têm justificação.

Tenta viver em contínua vertigem apaixonada; só os apaixonados levam a cabo obras verdadeiramente duradouras e fecundas.

Mas se os bois, os cavalos e os leões tivessem mãos,
ou pudessem desenhar com as mãos e fazer obras como as dos homens,
representariam os deuses, o cavalo semelhante aos cavalos,
o boi aos bois, e fariam corpos
como os seus próprios.

O Elogio do Trabalho

Há no trabalho, segundo a natureza da obra e a capacidade do trabalhador, todas as gradações, desde o simples alívio do tédio às satisfações mais profundas. Na maior parte dos casos, o trabalho que as pessoas têm de executar não é interessante, mas ainda em tais circunstâncias oferece grandes vantagens. Em primeiro lugar, preenche uma boa parte do dia sem haver necessidade de decidir sobre o que se há-de fazer. A maioria das pessoas, quando estão em condições de escolher livremente o emprego do seu tempo, têm dificuldade em encontrar o que quer que seja suficientemente agradável para as ocupar. E tudo o que decidam deixa-as atormentadas pela ideia de que qualquer outra coisa seria mais agradável.
Ser capaz de utilizar inteligentemente os momentos de lazer é o último degrau da civilização, mas presentemente muito poucas pessoas o atingiram. Além disso, a acção de escolher é fatigante. Excepto para os indivíduos dotados de extraordinário espírito de iniciativa, é muito cómodo ser-se informado do que se tem a fazer em cada hora do dia, desde que tais ordens não sejam desagradáveis em demasia.

A maior parte dos ricos occiosos sofrem de um inexprimível aborrecimento em paga de se terem libertado dum trabalho penoso.

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A Estranheza dá Crédito

O verdadeiro campo e assunto da impostura são as coisas desconhecidas. Isso porque em primeiro lugar a própria estranheza dá crédito; e depois, não estando sujeitas às nossas reflexões habituais, elas tiram-nos os meios de as combater. Por causa disso, diz Platão, é muito mais fácil satisfazer ao falar da natureza dos deuses do que da natureza dos homens, porque a ignorância dos ouvintes abre um belo e amplo caminho e toda a liberdade para o manejo de uma matéria secreta.
Advém daí que nada é aceite tão firmemente como aquilo que menos se sabe, nem há pessoas tão seguras como as que nos contam fábulas, como alquimistas, prognotiscadores, astrólogos, quiromantes, médicos, toda a gente dessa espécie (Horácio). A eles eu acrescentaria de bom grado, se ousasse, um bando de pessoas, intérpretes e controladores habituais dos desígnios de Deus, que têm a pretensão de descobrir as causas de cada acontecimento e de ver nos segredos da vontade divina os incompreensíveis motivos das suas obras; e, embora a variedade e a disparidade contínua dos factos os lance de um canto para o outro e do ocidente para o oriente, não deixam entretanto de persistir no que é seu e com o mesmo lápis pintar o preto e o branco.

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A dificuldade em adquirir a glória por obras é inversamente proporcional ao número daqueles que constituem o público de tais obras.

A Obra e o Eco da Obra

São complementares, não a obra e a crítica, mas a obra e o eco da obra. E o crítico é apenas uma forma de eco entre outras; certamente é em geral a mais forte, mas raramente é a mais pura e é sempre aquela que se apaga mais depressa.
Sobretudo nem uma palavra, caro autor – nenhuma resposta! A única que podes opor a todos os ataques, já a pronunciaste: – a tua obra. Se ela perdurar, venceste.

O homem caminha em meio as suas próprias obras, portanto se o caminho se encontra áspero, não adianta reclamar a Deus.

O homem, em sua arrogância, pensa de si mesmo como uma grande obra, merecedora da intervenção de uma divindade.

São os Sentimentos que Conduzem as Sociedades, não as Ideias

As sociedades são conduzidas por agitadores de sentimentos, não por agitadores de ideias. Nenhum filósofo fez caminho senão porque serviu, em todo ou em parte, uma religião, uma política ou outro qualquer modo social do sentimento.
Se a obra de investigação, em matéria social, é portanto socialmente inútil, salvo como arte e no que contiver de arte, mais vale empregar o que em nós haja de esforço em fazer arte, do que em fazer meia arte.