Passagens sobre Ódio

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Compreensão Sábia e Activa

A primeira condição para libertar os outros é libertar-se a si próprio; quem apareça manchado de superstição ou de fanatismo ou incapaz de separar e distinguir ou dominado pelos sentimentos e impulsos, não o tomarei eu como guia do povo; antes de tudo uma clara inteligência, eternamente crítica, senhora do mundo e destruidora das esfinges; banirá do seu campo a histeria e a retórica; e substituirá a musa trágica por Platão e os geómetras.
Hei-de vê-lo depois de despido de egoísmo, atente somente aos motivos gerais; o seu bem será sempre o bem alheio; terá como inferior o que se deleita na alegria pessoal e não põe sobre tudo o serviço dos outros; à sua felicidade nada falta senão a felicidade de todos; esquecido de si, batalhará, enquanto lhe restar um alento, para destruir a ignorância e a miséria que impedem os seus irmãos de percorrer a ampla estrada em que ele marcha.
Nenhuma vontade de domínio; mandar é do mundo das aparências, tornar melhor de um sólido universo de verdades; se tiver algum poder somente o veja como um indício de que estão ainda muito baixos os homens que lho dão; incite-o o sentir-se superior a mais nobre e rude esforço para que se esbatam e percam as diferenças;

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O ódio é de longe o mais longo dos prazeres: amamos depressa mas detestamos com vagar.

Entender os Nossos Impulsos

O domínio de si próprio, embora eu não negue de forma alguma a sua necessidade em muitas circunstâncias, não é a melhor forma de conseguir que um ser humano se conduza bem. Tem o inconveniente de diminuir a energia e as faculdades criadoras. É como uma pesada armadura que ao mesmo tempo que impede o vosso braço de bater nos vossos vizinhos, o torna igualmente incapaz de um movimento útil. Os que não têm outro apoio além da disciplina que se impõem a si próprios, tornam-se obstinados e timoratos com receio de si próprios.
Mas os impulsos aos quais eles não permitem qualquer saída, continuam a existir neles a tal como os rios represados, cedo ou tarde transbordarão. As forças a que nós contrariamos a função natural que é o desabrochar da nossa própria vida, ou se atrofiam ou acabam por ter uma saída perturbando a vida de outrem. Elas procurarão qualquer saída do género das que não representam nenhum perigo para nós, por exemplo, a tirania doméstica. Se essa saída não for suficiente, há outras que o podem ser. Há sempre condenados e párias a quem a sociedade permite torturar e isso não comporta nenhum risco.
Esses párias,

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Alguns reprimem com tanta veemência a ponto de impelirem muitos a se tornarem partícipes, por ódio a eles. Na verdade, um círculo imaginado pelo demônio. Que Deus nos livre.

Não Amar nem Odiar

Se possível, não devemos alimentar animosidade contra ninguém, mas observar bem e guardar na memória os procedimentos de cada pessoa, para então fixarmos o seu valor, pelo menos naquilo que nos concerne, regulando, assim, a nossa conduta e atitude em relação a ela, sempre convencidos da imutabilidade do carácter. Esquecer qualquer traço ruim de uma pessoa é como jogar fora dinheiro custosamente adquirido. No entanto, se seguirmos o presente conselho, estaremos a proteger-nos da confiabilidade e da amizade tolas.
«Não amar, nem odiar», eis uma sentença que contém a metade da prudência do mundo; «nada dizer e em nada acreditar» contém a outra metade. Decerto, daremos de bom grado as costas a um mundo que torna necessárias regras como estas e como as seguintes.
Mostrar cólera e ódio nas palavras ou no semblante é inútil, perigoso, imprudente, ridículo e comum. Nunca se deve revelar cólera ou ódio a não ser por actos; e estes podem ser praticados tanto mais perfeitamente quanto mais perfeitamente tivermos evitado os primeiros. Apenas animais de sangue frio são venenosos.
Falar sem elevar a voz: essa antiga regra das gentes do mundo tem por alvo deixar ao entendimento dos outros a tarefa de descobrir o que dissemos.

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Contra Os Plebeus E Néscios Do Brasil.

Que me quer o Brasil, que me persegue?
Que me querem pasguates, que me invejam?
Não vêem que os entendidos me cortejam?
E que os nobres é gente que me segue?

Com seu ódio a canalha que consegue?
Com sua inveja os néscios que motejam?
Se quando os néscios por meu mal mourejam,
fazem os sábios que a meu mal me entregue?

Isto posto, ignorantes e canalha,
se ficam por canalha, e ignorantes
no rol das bestas a roerem palha.

E se os senhores nobres e elegantes
não querem que o soneto vá de valhas,
não vá, que tem terríveis consoantes.

Explicação da Eternidade

devagar, o tempo transforma tudo em tempo.
o ódio transforma-se em tempo, o amor
transforma-se em tempo, a dor transforma-se
em tempo.

os assuntos que julgámos mais profundos,
mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis,
transformam-se devagar em tempo.

por si só, o tempo não é nada.
a idade de nada é nada.
a eternidade não existe.
no entanto, a eternidade existe.

os instantes dos teus olhos parados sobre mim eram eternos.
os instantes do teu sorriso eram eternos.
os instantes do teu corpo de luz eram eternos.

foste eterna até ao fim.

O homem mata o homem, quando odeia, quer o ódio seja inspirado pela rapina ou pela vingança; os povos matam e roubam colectivamente, chamando conquista ao roubo e guerra ao assassinato em grande escala.

Não odeies o próximo. Se odeias, é porque temes algum sofrimento. Quando te tornares capaz de agradecer aos sofrimentos, ficarás livre do teu sentimento de ódio.

Há pessoas más cujo ódio nos louva. Somos diferentes delas, e ainda bem. Mas importa que nunca as levemos ao desespero… aceitando com paciência a sua existência.

Palavras

As palavras do amor expiram como os versos,
Com que adoço a amargura e embalo o pensamento:
Vagos clarões, vapor de perfumes dispersos,
Vidas que não têm vida, existências que invento;

Esplendor cedo morto, ânsia breve, universos
De pó, que o sopro espalha ao torvelim do vento,
Raios de sol, no oceano entre as águas imersos
-As palavras da fé vivem num só momento…

Mas as palavras más, as do ódio e do despeito,
O “não!” que desengana, o “nunca!” que alucina,
E as do aleive, em baldões, e as da mofa, em risadas,

Abrasam-nos o ouvido e entram-nos pelo peito:
Ficam no coração, numa inércia assassina,
Imóveis e imortais, como pedras geladas.

Fatos empíricos:
Um: Todos nós somos capazes de sentir amor por outros seres humanos.
Dois: Impomos limitações a esse amor.
Três: Podemos transcender a todas essas limitações – se nos aprouver. (É uma questão de observação que, quem quer que o deseje, poderá vencer a repugnância pessoal, o sentimento de classe, o ódio nacional, o preconceito de cor. Não é coisa fácil; mas podemos conseguir, se tivermos vontade e soubermos pôr em prática as nossas boas intenções.)
Quatro: Amor que se manifesta em bom tratamento cria amor. Ódio que se manifesta em mau tratamento cria ódio.
À luz desses fatos é óbvio quais deveriam ser os comportamentos políticos entre pessoas, entre classes, entre nações. Mas, ainda uma vez, o saber não basta. Saber, todos nós sabemos; onde quase todos nós fracassamos é em fazer. E a questão está, habitualmente, em achar os melhores métodos de dar cumprimento às intenções. Entre outras coisas, a propaganda da paz deve consistir numa série de instruções para a arte de modificar o caráter.