Ă€s vezes no amor ilĂcito está toda a pureza do corpo e alma, nĂŁo abençoado por um padre, mas abençoado pelo prĂłprio amor.
Passagens sobre Padres
83 resultadosRespondiam-lhe que durante muitos anos tinham ficado sem padre, arranjando os negĂłcios da alma diretamente com Deus, e haviam perdido a malĂcia do pecado mortal.
Enterro de Ophelia
Morreu, Vae a dormir, vae a sonhar… Deixal-a!
(Fallae baixinho: agora mesmo se ficou…)
Como padres orando, os choupos formam ala,
Nas margens do ribeiro onde ella se afogou…Toda de branco vae, n’esse habito de opala,
Para um convento: nĂŁo o que o Hamlet lhe indicou,
Mas para um outro, horror! que tem por nome Valla,
D’onde jamais saiu quem, lá, uma vez entrou!…O lindo Por-do-Sol, que era doido por ella,
Que a perseguia sempre, em palacio e na rua,
Vede-o, coitado! mal pode suster a vela…Como damas de honor, nymphas seguem-lhe os rastros,
E, assomando no céu, sua Madrinha, a Lua,
Por ella vae desfiando as suas contas, Astros!
NĂŁo Creio nesse Deus
I
NĂŁo sei se Ă©s parvo se Ă©s inteligente
— Ao disfrutares vida de nababo
Louvando um Deus, do qual te dizes crente,
Que te livre das garras do diabo
E te faça feliz eternamente.II
NĂŁo vĂŞs que o teu bem-estar faz d’outra gente
A dor, o sofrimento, a fome e a guerra?
E tu nĂŁo queres p’ra ti o cĂ©u e a terra..
— NĂŁo te achas egoĂsta ou exigente?III
NĂŁo creio nesse Deus que, na igreja,
Escuta, dos beatos, confissões;
NĂŁo posso crer num Deus que se maneja,
Em troca de promessas e orações,
P’ra o homem conseguir o que deseja.IV
Se Deus quer que vivamos irmĂŁmente,
Quem cumpre esse dever por que receia
As iras do divino padre eterno?…
P’ra esses Ă© o cĂ©u; porque o inferno
É p’ra quem vive a vida Ă custa alheia!
A Esperança é o Bordão da Vida
A esperança Ă© o bordĂŁo da vida. Há uma coisa do Padre Vieira, muito bonita, em que ele fala do Non. TerrĂvel palavra Ă© o non, de qualquer lado por onde se pegue, Ă© sempre Non – isto aparece no meu filme “Non ou a vĂŁ glĂłria de mandar”, dito por esse grande actor, o Ruy de Carvalho. A Ăşltima palavra do Vieira sobre Non Ă©: “O Non tira a esperança, que Ă© a Ăşltima coisa que a natureza deixou ao homem”. Sem esperança nĂŁo se pode viver.
[A esperança e o desejo sĂŁo o que nos impele a fazer, prosseguir. Mas nĂŁo Ă© supremamente difĂcil mantĂŞ-los vivos?]
O desejo nĂŁo nos impele para existir. O desejo impele para a continuidade da espĂ©cie. O que nos impele Ă existĂŞncia Ă© o que diz o maia, “come para viveres”, e isso Ă© a fome. A fome Ă© o que nos garante a subsistĂŞncia. Se nĂŁo tivĂ©ssemos fome, nĂŁo comĂamos, nĂŁo comendo, nĂŁo sobrevivĂamos. Se nĂŁo tivĂ©ssemos o desejo, nĂŁo terĂamos a relação sexual e a relação sexual Ă© que garante a continuidade da espĂ©cie. O desejo Ă© uma coisa, a fome Ă© outra. SĂŁo os dois para a continuidade: um para a continuidade do indivĂduo,
Essas injĂşrias passavam despercebidas tanto pelo padre como pelo corcunda. QuasĂmodo era surdo demais e Cláudio pensador demais.
A Minha Lista dos Grandes Autores
Uma revista espanhola teve a ideia de pedir a uns quantos escritores que elaborassem a sua árvore genealĂłgica literária, isto Ă©, a que outros autores consideravam eles como avoengos seus, directos ou indirectos, excluindo-se do inventado parentesco, obviamente, qualquer presunção de relações ou equivalĂŞncias de mĂ©rito que a realidade, pelo menos no meu caso, logo se encarregaria de desmentir. TambĂ©m se pedia que, em brevĂssimas palavras, fosse dada a justificação dessa espĂ©cie de adopção ao contrário, em que era o «descendente» a escolher o «ascendente». A cada escritor consultado foi entregue o desenho de uma árvore com onze molduras dispersas pelos diferentes ramos, onde suponho que hĂŁo-de vir a aparecer os retratos dos autores escolhidos. A minha lista, com a respectiva fundamentação, foi esta: LuĂs de Camões, porque, como escrevi no «Ano da Morte de Ricardo Reis», todos os caminhos portugueses a ele vĂŁo dar; Padre AntĂłnio Vieira, porque a lĂngua portuguesa nunca foi mais bela que quando ele a escreveu; Cervantes, porque sem ele a PenĂnsula IbĂ©rica seria uma casa sem telhado; Montaigne, porque nĂŁo precisou de Freud para saber quem era; Voltaire, porque perdeu as ilusões sobre a humanidade e sobreviveu a isso; Raul BrandĂŁo, porque demonstrou que nĂŁo Ă© preciso ser-se gĂ©nio para escrever um livro genial,
Convém ter uma religião e não crer nos padres, assim como convém fazer um regime e não crer nos médicos.
Vazias as veias, o nosso sangue se arrefece, indispostos ficamos desde cedo, incapazes de dar e de perdoar. Mas quando enchemos os canais e as calhas de nosso sangue com comida e vinho, fica a alma muito mais maleável do que durante esses jejuns de padre.
A infidelidade Ă©, na mulher, o que Ă© no padre a incredulidade – a Ăşltima baliza das prevaricações humanas.
A vaidade é uma doença espiritual muito grave. É significativo que os Padres do Deserto tenham dito que a vaidade é uma tentação contra a qual devemos lutar toda a vida, porque volta sempre para nos roubar a verdade.
Os Comunistas
… Passaram bastantes anos desde que ingressei no Partido… Estou contente… Os comunistas constituem uma boa famĂlia… TĂŞm a pele curtida e o coração valoroso… Por todo o lado recebem pauladas… Pauladas exclusivamente para eles… Vivam os espiritistas, os monárquicos, os aberrantes, os criminosos de vários graus… Viva a filosofia com fumo mas sem esqueletos… Viva o cĂŁo que ladra e que morde, vivam os astrĂłlogos libidinosos, viva a pornografia, viva o cinismo, viva o camarĂŁo, viva toda a gente menos os comunistas… Vivam os cintos de castidade, vivam os conservadores que nĂŁo lavam os pĂ©s ideolĂłgicos há quinhentos anos… Vivam os piolhos das populações miseráveis, viva a força comum gratuita, viva o anarco-capitalismo, viva Rilke, viva AndrĂ© Gide com o seu coribantismo, viva qualquer misticismo… Tudo está bem… Todos sĂŁo herĂłicos… Todos os jornais devem publicar-se… Todos devem publicar-se, menos os comunistas… Todos os polĂticos devem entrar em SĂŁo Domingos sem algemas… Todos devem festejar a morte do sanguinário Trujillo, menos os que mais duramente o combateram… Viva o Carnaval, os derradeiros dias do Carnaval… Há disfarces para todos… Disfarces de idealistas cristĂŁos, disfarces de extrema-esquerda, disfarces de damas beneficentes e de matronas caritativas… Mas, cuidado, nĂŁo deixem entrar os comunistas…
Noite Trágica
O pavor e a angĂşstia andam dançando…
Um sino grita endechas de poentes…
Na meia-noite d´hoje, soluçando,
Que presságios sinistros e dolentes!…Tenho medo da noite!… Padre nosso
Que estais no cĂ©u… O que minh´alma teme!
Tenho medo da noite!… Que alvoroço
Anda nesta alma enquanto o sino geme!Jesus! Jesus, que noite imensa e triste!
A quanta dor a nossa dor resiste
Em noite assim que a prĂłpria dor parece…Ă“ noite imensa, Ăł noite do Calvário,
Leva contigo envolto no sudário
Da tua dor a dor que me não ´squece!
A Senhora de Brabante
Tem um leque de plumas gloriosas,
na sua mĂŁo macia e cintilante,
de anéis de pedras finas preciosas
a Senhora Duquesa de Brabante.Numa cadeira de espaldar dourado,
Escuta os galanteios dos barões.
— É noite: e, sob o azul morno e calado,
concebem os jasmins e os corações.Recorda o senhor Bispo acções passadas.
Falam damas de jĂłias e cetins.
Tratam barões de festas e caçadas
à moda goda: — aos toques dos clarins!Mas a Duquesa é triste. — Oculta mágoa
vela seu rosto de um solene véu.
— Ao luar, sobre os tanques chora a água…
— Cantando, os rouxinĂłis lembram o cĂ©u…Dizem as lendas que SatĂŁ vestido
de uma armadura feita de um brilhante,
ousou falar do seu amor florido
à Senhora Duquesa de Brabante.Dizem que o ouviram ao luar nas águas,
mais louro do que o sol, marmĂłreo, e lindo,
tirar de uma viola estranhas mágoas,
pelas noites que os cravos vĂŞm abrindo…Dizem mais que na seda das varetas
do seu leque ducal de mil matizes…
Amigo de Deus, inimigo do padre.
A clérigo feito frade (padre), não confies tua comadre.
Há quem procure o padre, outros refugiam-se na poesia, eu procuro os meus amigos.
NĂŁo me ajeito com os padres, os crĂticos e os canudinhos de refresco: nĂŁo há nada que substitua o sabor da comunicação direta.
Vazias as veias, nosso sangue se arrefece, indispostos ficamos desde cedo, incapazes de dar e de perdoar. Mas quando enchemos os canais e as calhas de nosso sangue com comida e vinho, fica a alma muito mais maleável do que durante esses jejuns de padre.
Amor E ReligiĂŁo
Conheci-o: era um padre, um desses santos
Sacerdotes da Fé de crença pura,
Da sua fala na eternal doçura
Falava o coração. Quantos, oh! QuantosOuviram dele frases de candura
Que d’infelizes enxugavam prantos!
E como alegres nĂŁo ficaram tantos
Corações sem prazer e sem ventura!No entanto dizem que este padre amara.
Morrera um dia desvairado, estulto,
Su’alma livre para o CĂ©u se alara.E Deus lhe disse: “És duas vezes santo,
Pois se da ReligiĂŁo fizeste culto,
Foste do amor o mártir sacrossanto.”