SacrifĂcio nĂŁo significa nem amputação nem penitĂȘncia. (…) Ele Ă© uma oferta de nĂłs prĂłprios ao Ser a que recorremos.
Passagens sobre PenitĂȘncia
23 resultadosInstinto de Sociabilidade
O instinto de sociabilidade de cada um estĂĄ na proporção inversa da sua idade. A criancinha solta gritos de medo e de dor, lamentando ter sido deixada sozinha por alguns minutos. Para jovens rapazes, estar sozinho Ă© uma grande penitĂȘncia. Os adolescentes reunem-se com facilidade: sĂł os mais nobres e mais dotados de espĂrito jĂĄ procuram, Ă s vezes, a solidĂŁo. Contudo, passar um dia inteiro sozinhos ainda lhes Ă© penoso. Para o homem adulto, todavia, isso Ă© fĂĄcil: ele consegue passar bastante tempo sozinho, e tanto mais quanto mais avança nos anos. O anciĂŁo, Ășnico sobrevivente de geraçÔes desaparecidas, encontra na solidĂŁo o seu elemento prĂłprio, em parte porque jĂĄ ultrapassou a idade de sentir os prazeres da vida, em parte porque jĂĄ estĂĄ morto para eles. Entretanto, em cada indivĂduo, o aumento da inclinação para o isolamento e a solidĂŁo ocorrerĂĄ em conformidade com o seu valor intelectual.
Pois tal tendĂȘncia, como dito, nĂŁo Ă© puramente natural, produzida directamente pela necessidade, mas, antes, sĂł um efeito da experiĂȘncia vivida e da reflexĂŁo sobre ela, sobretudo da intelecção adquirida a respeito da miserĂĄvel Ăndole moral e intelectual da maioria dos homens. O que hĂĄ de pior nesse caso Ă© o facto de as imperfeiçÔes morais e intelectuais do indivĂduo conspirarem entre si e trabalharem de mĂŁos dadas,
O prazer que se extrai de certos pecados vale bem a penitĂȘncia futura.
Soneto XXXXVI
Tanto que sente enfraquecer o alento,
Quebrado o brio e jĂĄ menos ligeira
Co’ a longa idade e vida derradeira,
[A] Ăguia a presa siguir cortar o vento.Levanta o mais que pode o vĂŽo isento
E, firida do Sol desta maneira
Då no mar, recobrando a força inteira
E, com novo vigor, novo ornamento.Quem nĂŁo vĂȘ figurada a grande glĂłria
De ua alma, cuja vida mal gastada
Com nova penitĂȘncia se melhora.Ao alto se levanta co’a memĂłria,
E no divino amor toda abrasada
Cai no mar das lĂĄgrimas que chora.
Sonho Vago
Um sonho alado que nasceu um instante,
Erguido ao alto em horas de demĂȘncia…
Gotas de ĂĄgua que tombam em cadĂȘncia
Na minh’alma tristĂssima, distante…Onde estĂĄ ele, o Desejado? O Infante?
O que hĂĄ-de vir e amar-me em doida ardĂȘncia?
O das horas de mĂĄgoa e penitĂȘncia?
O PrĂncipe Encantado? O Eleito? O Amante?E neste sonho eu jĂĄ nem sei quem sou…
O brando marulhar dum longo beijo
Que nĂŁo chegou a dar-se e que passou…Um fogo-fĂĄtuo rĂștilo, talvez…
E eu ando a procurar-te e jĂĄ te vejo!
E tu jĂĄ me encontraste e nĂŁo me vĂȘs!…
A. S. Francisco Tomando O Poeta O Habito De Terceyro
Ă magno serafim, que a Deus voaste
Com asas de humildade, e paciĂȘncia,
E absorto jĂĄ nessa divina essĂȘncia
Logras o eterno bem, a que aspiraste:Pois o caminho aberto nos deixaste,
Para alcançar de Deus tambĂ©m clemĂȘncia
Na ordem singular de penitĂȘncia
Destes Filhos Terceiros, que criaste.A Filhos, como Pai, olha queridos,
E intercede por nĂłs, Francisco Santo,
Para que te sigamos, e imitemos.E assim desse teu hĂĄbito vestidos
Na terra blasonemos de bem tanto,
E depois para o CĂ©u juntos voemos.
InocĂȘncia
Vou aqui como um anjo, e carregado
De crimes!
Com asas de poeta voa-se no cĂ©u…
De tudo me redimes,
PenitĂȘncia
De ser artista!
Nada sei,
Nada valho,
Nada faço,
E abre-se em mim a força deste abraço
Que abarca o mundo!Tudo amo, admiro e compreendo.
Sou como um sol fecundo
Que adoça e doira, tendo
Calor apenas.
Puro,
Divino
E humano como os outros meus irmĂŁos,
Caminho nesta ingénua confiança
De criança
Que faz milagres a bater as mĂŁos.
A pecado velho, penitĂȘncia nova.
A pecado novo, penitĂȘncia nova.
A uma Mulher que Sendo Velha se Enfeitava
Escuta, Ăł Sara, pois te falta espelho
Para ver tuas faltas,
NĂŁo quero que te falte meu conselho
Em presunçÔes tão altas;
Lembro-te agora sĂł, que Ă©s terra, e lodo,
E em terra hĂĄs de tornar-te deste modo,
Mas nĂŁo te digo, nem te lembro nada,
Porque hĂĄ muito, que em terra estĂĄs tornada.Que importa, que algum tempo a prata pura
De tuas mĂŁos nascesse,
E que de teus cabelos a espessura
As minas de ouro desse,
Se o tempo vil, que tudo troca, e muda,
Somente de ouro pĂŽs por mais ajuda
Em tuas mĂŁos de prata o amarelo,
E a prata de tuas mĂŁos em teu cabelo.Se um tempo foram de marfim brunido
No século dourado,
NĂŁo vĂȘs, que o tempo as tem jĂĄ consumido?
NĂŁo vĂȘs, que as tem gastado?
Deixa, Senhora, deixa os vĂŁos enredos,
Pois quando toco teus nodosos dedos,
Me parece, que apalpo sem enganos
Cinco cordÔes de frades Franciscanos.Viciando a natureza com tuas tintas,
Com pincéis delicados
Jasmins, e rosas em teu rosto pintas,
HĂĄ uma necessidade de oração e penitĂȘncia para implorar a graça da conversĂŁo e o fim de tantas guerras no mundo.
Viver do prĂłprio a pĂŁo e ĂĄgua Ă© a maior penitĂȘncia: viver do alheio, ainda que seja a pĂŁo e ĂĄgua, Ă© grande regalo. TĂŁo saboroso bocado Ă© o alheio!
Nao hå Virtude sem Agitação Desordenada
Os choques e abalos que a nossa alma recebe pelas paixĂ”es corporais muito podem sobre ela; porĂ©m podem mais ainda as suas prĂłprias, pelas quais estĂĄ tĂŁo fortemente dominada que talvez possamos afirmar que nĂŁo tem nenhuma outra velocidade e movimento que nĂŁo os do sopro dos seus ventos, e que, sem a agitação destes, ela permaneceria sem acção, como um navio em pleno mar e que os ventos deixassem sem ajuda. E quem sustentasse isso, seguindo o partido dos peripatĂ©ticos, nĂŁo nos causaria muito dano, pois Ă© sabido que a maior parte das mais belas acçÔes da alma procedem desse impulso das paixĂ”es e necessitam dele. A valentia, diz-se, nĂŁo se pode cumprir sem a assistĂȘncia da cĂłlera.
Ajax sempre foi valente, mas nunca o foi tanto como na sua loucura (CĂcero)
Nem investimos contra os maus e os inimigos com tanto vigor se nĂŁo estivermos encolerizados; e pretende-se que o advogado inspire a cĂłlera nos juĂzes para deles obter justiça. As paixĂ”es excitaram TemĂstocles, excitaram DemĂłstenes e impeliram os filĂłsofos para trabalhos, vigĂlias e peregrinaçÔes; conduzem-nos Ă honra, Ă ciĂȘncia, Ă saĂșde – fins Ășteis. E essa falta de vigor da alma para suportar o sofrimento e os desgostos serve para alimentar na consciĂȘncia a penitĂȘncia e o arrependimento,
Ăvora
Ao amigo vindo da luminosa ItĂĄlia, a minha cidade, como eu soturno e triste…
Ăvora! Ruas ermas sob os cĂ©us
Cor de violetas roxas…Ruas frades
Pedindo em triste penitĂȘncia a Deus
Que nos perdoe as mĂseras vaidades!Tenho corrido em vĂŁo tantas cidades!
E sĂł aqui recordo os beijos teus,
E sĂł aqui eu sinto que sĂŁo meus
Os sonhos que sonhei noutras idades!Ăvora!…O teu olhar…o teu perfil…
Tua boca sinuosa, um mĂȘs de Abril,
Que o coração no peito me alvoroça!…Em cada viela o vulto dum fantasma…
E a minh’alma soturna escuta e pasma…
E sente-se passar menina e moça…
A vigĂlia Ă© a penitĂȘncia maior; por isso foi escolhida a insĂŽnia para companheira do remorso
NĂŁo ofereça a Deus apenas a dor de suas penitĂȘncias, ofereça tambĂ©m suas alegrias.
Se Tomar Minha Pena Em PenitĂȘncia
Se tomar minha pena em penitĂȘncia
do erro em que caiu o pensamento,
nĂŁo abranda, mas dobra meu tormento,
a isto, e a mais, obriga a paciĂȘncia.E se ĂŒa cor de morto na aparĂȘncia,
um espalhar suspiros vĂŁos ao vento,
em vĂłs nĂŁo faz, Senhora, movimento,
fique meu mal em vossa consciĂȘncia.E se de qualquer ĂĄspera mudança
toda a vontade isenta Amor castiga
(como eu vi bem no mal que me condena);e se em vĂłs nĂŁo s’entende haver vingança,
serå forçado (pois Amor me obriga)
que eu sĂł de vossa culpa pague a pena.
Se Ă© um pecado sonhar
Tenho um pecado na vida,
Peço a Deus por tal pecado
A penitĂȘncia merecida.Quando o meu sonho morrer
(Que penitĂȘncia tĂŁo dura!)
VĂĄ encontrar em teu peito
Carinhosa sepultura.
Ă graves e insofrĂveis acidentes
Da Fortuna e do Amor! que penitĂȘncia
TĂŁo grave dais aos peitos inocentes!
Na religiĂŁo do estado a penitĂȘncia chama-se multa, e nĂŁo hĂĄ indulgĂȘncia.