Passagens sobre PĂ©s

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Frases sobre pés, poemas sobre pés e outras passagens sobre pés para ler e compartilhar. Leia as melhores citaçÔes em Poetris.

Trågica Recordação

Meu Deus! meu Deus! quando me lembro agora
De o ver brincar, e avisto novamente
Seu pequenino Vulto transcendente,
Mas tĂŁo perfeito e vivo como outrora!

Julgo que ele ainda vive; e que, lĂĄ fĂłra,
Fala em voz alta e brinca alegremente,
E volve os olhos verdes para a gente,
Dois berços de embalar a luz da aurora!

Julgo que ele ainda vive, mas jĂĄ perto
Da Morte: sombra escura, abysmo aberto…
PesadĂȘlo de treva e nevoeiro!

Ó visĂŁo da Creança ao pĂ© da Morte!
E a da MĂŁe, tendo ao lado a negra sorte
A calcular-lhe o golpe traiçoeiro!

Paz

Calado ao pé de ti, depois de tudo,
Justificado
Como o instinto mandou,
Ouço, nesta mudez,
A força que te dobrou,
Serena, dizer quem Ă©s
E quem sou.

O degrau da escada não foi inventado para repousar, mas apenas para sustentar o pé o tempo necessårio para que o homem coloque o outro pé um pouco mais alto.

Desconfia da Ideia de Homem Feliz

Verifica que homem feliz nĂŁo Ă© aquele que o vulgo entende por tal, ou seja, um homem de grandes recursos monetĂĄrios; Ă©, sim, aquele para quem todo o bem reside na prĂłpria alma, Ă© o homem sereno, magnĂąnimo, que pisa aos pĂ©s os interesses vulgares, que sĂł admira no homem aquilo que faz a sua qualidade de homem, que segue as liçÔes da natureza, se conforma com as suas leis, e vive segundo o que ela prescreve; Ă© o homem a quem força alguma despojarĂĄ dos seus bens prĂłprios, o homem capaz de fazer do prĂłprio mal um bem, seguro do seu pensamento, inabalĂĄvel, intrĂ©pido; Ă© o homem a quem a força pode abalar, mas nunca desviar da sua rota; a quem a fortuna, apontando contra ele as mais duras armas com a maior violĂȘncia, pode arranhar, mas nunca ferir, e mesmo assim raramente, porquanto os dardos da sorte, que afligem em geral a humanidade, fazem ricochete contra ele Ă  maneira do granizo que, batendo no tecto, salta e se derrete sem causar qualquer dano ao ocupante da casa.

Os Cinco Sentidos

SĂŁo belas – bem o sei, essas estrelas,
Mil cores – divinais tĂȘm essas flores;
Mas eu nĂŁo tenho, amor, olhos para elas:
Em toda a natureza
NĂŁo vejo outra beleza
SenĂŁo a ti – a ti!

Divina – ai! sim, serĂĄ a voz que afina
Saudosa – na ramagem densa, umbrosa.
serĂĄ; mas eu do rouxinol que trina
Não oiço a melodia,
Nem sinto outra harmonia
SenĂŁo a ti – a ti!

Respira – n’aura que entre as flores gira,
Celeste – incenso de perfume agreste,
Sei… nĂŁo sinto: minha alma nĂŁo aspira,
NĂŁo percebe, nĂŁo toma
SenĂŁo o doce aroma
Que vem de ti – de ti!

Formosos – sĂŁo os pomos saborosos,
É um mimo – de nĂ©ctar o racimo:
E eu tenho fome e sede… sequiosos,
Famintos meus desejos
EstĂŁo… mas Ă© de beijos,
É sĂł de ti – de ti!

Macia – deve a relva luzidia
Do leito – ser por certo em que me deito.
Mas quem, ao pé de ti, quem poderia
Sentir outras carĂ­cias,

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Alimentar o Ego

Para quem faz do sonho a vida, e da cultura em estufa das suas sensaçÔes uma religiĂŁo e uma polĂ­tica, para esse primeiro passo, o que acusa na alma que ele deu o primeiro passo, Ă© o sentir as coisas mĂ­nimas extraordinĂĄria — e desmedidamente. Este Ă© o primeiro passo, e o passo simplesmente primeiro nĂŁo Ă© mais do que isto. Saber pĂŽr no saborear duma chĂĄvena de chĂĄ a volĂșpia extrema que o homem normal sĂł pode encontrar nas grandes alegrias que vĂȘm da ambição subitamente satisfeita toda ou das saudades de repente desaparecidas, ou entĂŁo nos actos finais e carnais do amor; poder encontrar na visĂŁo dum poente ou na contemplação dum detalhe decorativo aquela exasperação de senti-los que geralmente sĂł pode dar, nĂŁo o que se vĂȘ ou o que se ouve, mas o que se cheira ou se gosta — essa proximidade do objecto da sensação que sĂł as sensaçÔes carnais — o tacto, o gosto, o olfacto – esculpem de encontro Ă  consciĂȘncia; poder tornar a visĂŁo interior, o ouvido do sonho — todos os sentidos supostos e do suposto — recebedores e tangĂ­veis como sentidos virados para o externo: escolho estas, e as anĂĄlogas suponham-se,

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Por Cima Destas Águas, Forte E Firme

Por cima destas ĂĄguas, forte e firme,
irei por onde as sortes ordenaram,
pois, por cima de quantas me choraram
aqueles claros olhos, pude vir me.

JĂĄ chegado era o fim de despedir me,
jĂĄ mil impedimentos se acabaram,
quando rios de amor se atravessaram
a me impedir o passo de partir me.

Passei os eu com Ăąnimo obstinado,
com que a morte forçada e gloriosa
faz o vencido jĂĄ desesperado.

Em que figura, ou gesto desusado,
pode jĂĄ fazer medo a morte irosa,
a quem tem a seus pés rendido e atado?

Descalça Vai para a Fonte

Descalça vai para a fonte,
Leanor pela verdura;
Vai fermosa, e nĂŁo segura.

A talha leva pedrada,
Pucarinho de feição,
Saia de cor de limĂŁo,
Beatilha soqueixada;
Cantando de madrugada,
Pisa as flores na verdura:
Vai fermosa, e nĂŁo segura.

Leva na mĂŁo a rodilha,
Feita da sua toalha;
Com uma sustenta a talha,
Ergue com outra a fraldilha;
Mostra os pés por maravilha,
Que a neve deixam escura:
Vai fermosa, e nĂŁo segura.

As flores, por onde passa,
Se o pé lhe acerta de pÎr,
Ficam de inveja sem cor,
E de vergonha com graça;
Qualquer pegada que faça
Faz florescer a verdura:
Vai formosa, e nĂŁo segura.

NĂŁo na ver o Sol lhe val,
Por nĂŁo ter novo inimigo;
Mas ela corre perigo,
Se na fonte se vĂȘ tal;
Descuidada deste mal,
Se vai ver na fonte pura:
Vai fermosa, e nĂŁo segura.

Também nós imos jå perto da Fonte;
E, Em quanto no cantar nos entretemos,
Temo que a vinda cĂĄ pouco nos monte.

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Sou um homem que um dia, ao abrir a janela, descobriu esta coisa importantĂ­ssima: que a natureza existe. Verifiquei que as ĂĄrvores, os rios, as pedras sĂŁo coisas que verdadeiramente existem. Nunca ninguĂ©m tinha pensado nisto. NĂŁo pretendo ser mais que o maior poeta do mundo. Fiz a maior descoberta que nenhum antes fez e ao pĂ© da qual todas as outras descobertas sĂŁo entretimentos de crianças estĂșpidas. Dei pelo universo. Os gregos, com toda a sua nitidez visual, nĂŁo fizeram tanto.

O degrau de uma escada não serve simplesmente para que alguém permaneça em cima dele, destina-se a sustentar o pé de um homem pelo tempo suficiente para que ele coloque o outro um pouco mais alto.

Raios não Peço ao Criador do Mundo

LX

Raios não peço ao Criador do Mundo,
Tormentas nĂŁo suplico ao Rei dos Mares,
VulcÔes à terra, furacÔes aos ares,
Negros monstros ao bĂĄratro profundo:

NĂŁo rogo ao deus de amor que furibundo
Te arremesse do pé de seus altares;
Ou que a peste mortal voe a teus lares,
E murche o teu semblante rubicundo.

Não imploro em teu dano, ainda que os laços
Urdidos pela fé, com vil mudança
Fizeste, ingrata Nise, em mil pedaços:

Não quero outro despique, outra vingança,
Mais que ver-te em poder de indignos braços,
E dizer quem te perde, e quem te alcança.

Conchita

Adeus aos filtros da mulher bonita;
A esse rosto espanhol, pulcro e moreno;
Ao pĂ© que no bolero… ao pĂ© pequeno;
PĂ© que, alĂ­gero e cĂ©lere, saltita…

Lira do amor, que o amor nĂŁo mais excita,
A um silĂȘncio de morte eu te condeno;
Despede-te; e um adeus, no Ășltimo treno,
Soluça às graças da gentil Conchita:

A esses, que em ondas se levantam, seios
Do mais cheiroso jambo; a esses quebrados
Olhos meridionais de ardĂȘncia cheios;

A esses lĂĄbios, enfim, de nĂĄcar vivo,
Virgens dos lĂĄbios de outrem, mas corados
Pelos beijos de um sol quente e lascivo.

Alucinação À Beira-Mar

Um medo de morrer meus pés esfriava.
Noite alta. Ante o telĂșrico recorte,
Na diuturna discĂłrdia, a equĂłrea coorte
Atordoadoramente ribombava!

Eu, ególatra céptico, cismava
Em meu destino!… O vento estava forte
E aquela matemĂĄtica da Morte
Com os seus nĂșmeros negros me assombrava!

Mas a alga usufructuĂĄria dos oceanos
E os malacopterĂ­gios subraquianos
Que um castigo de espécie emudeceu,

No eterno horror das convulsÔes marítimas
Pareciam também corpos de vítimas
Condenadas Ă  Morte, assim como eu!

A Negra FĂșria CiĂșme

Morre a luz, abafa os ares
Horrendo, espesso negrume,
Apenas surge do Averno
A negra fĂșria CiĂșme.

Sobre um sĂłlio cor da noite
Jaz dos Infernos o Nurne,
E a seus pés tragando brasas
A negra fĂșria CiĂșme.

Crespas vĂ­boras penteia,
Dos olhos dardeja lume,
Respira veneno e peste
A negra fĂșria CiĂșme.

Arrancando Ă  Morte a fouce
De buĂ­do, ervado gume,
Vem retalhar coraçÔes
A negra fĂșria CiĂșme.

Ao cruel sĂłcio de Amor
Escapar ninguém presume,
Porque a tudo as garras lança
A negra fĂșria CiĂșme.

Todos os males do Inferno
Em si guarda, em si resume
O mais horrĂ­vel dos monstros,
A negra fĂșria CiĂșme.

Amor inda Ă© mais suave,
Que das rosas o perfume,
Mas envenena-lhe as graças
A negra fĂșria CiĂșme.

Nas asas de Amor voamos
Do prazer ao ĂĄureo cume,
Porém de lå nos arroja
A negra fĂșria CiĂșme.

Do férreo cålix da Morte
Prova o funesto azedume
Aquele a quem ferve n’alma
A negra fĂșria CiĂșme.

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Os Meus Pensamentos são Todos SensaçÔes

Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho Ă© os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensaçÔes.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor Ă© vĂȘ-la e cheirĂĄ-la
E comer um fruto Ă© saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozĂĄ-lo tanto.
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.