Passagens sobre Pés

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Frases sobre pés, poemas sobre pés e outras passagens sobre pés para ler e compartilhar. Leia as melhores citaçÔes em Poetris.

Alimentar o Ego

Para quem faz do sonho a vida, e da cultura em estufa das suas sensaçÔes uma religiĂŁo e uma polĂ­tica, para esse primeiro passo, o que acusa na alma que ele deu o primeiro passo, Ă© o sentir as coisas mĂ­nimas extraordinĂĄria — e desmedidamente. Este Ă© o primeiro passo, e o passo simplesmente primeiro nĂŁo Ă© mais do que isto. Saber pĂŽr no saborear duma chĂĄvena de chĂĄ a volĂșpia extrema que o homem normal sĂł pode encontrar nas grandes alegrias que vĂȘm da ambição subitamente satisfeita toda ou das saudades de repente desaparecidas, ou entĂŁo nos actos finais e carnais do amor; poder encontrar na visĂŁo dum poente ou na contemplação dum detalhe decorativo aquela exasperação de senti-los que geralmente sĂł pode dar, nĂŁo o que se vĂȘ ou o que se ouve, mas o que se cheira ou se gosta — essa proximidade do objecto da sensação que sĂł as sensaçÔes carnais — o tacto, o gosto, o olfacto – esculpem de encontro Ă  consciĂȘncia; poder tornar a visĂŁo interior, o ouvido do sonho — todos os sentidos supostos e do suposto — recebedores e tangĂ­veis como sentidos virados para o externo: escolho estas, e as anĂĄlogas suponham-se,

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Por Cima Destas Águas, Forte E Firme

Por cima destas ĂĄguas, forte e firme,
irei por onde as sortes ordenaram,
pois, por cima de quantas me choraram
aqueles claros olhos, pude vir me.

JĂĄ chegado era o fim de despedir me,
jĂĄ mil impedimentos se acabaram,
quando rios de amor se atravessaram
a me impedir o passo de partir me.

Passei os eu com Ăąnimo obstinado,
com que a morte forçada e gloriosa
faz o vencido jĂĄ desesperado.

Em que figura, ou gesto desusado,
pode jĂĄ fazer medo a morte irosa,
a quem tem a seus pés rendido e atado?

Descalça Vai para a Fonte

Descalça vai para a fonte,
Leanor pela verdura;
Vai fermosa, e nĂŁo segura.

A talha leva pedrada,
Pucarinho de feição,
Saia de cor de limĂŁo,
Beatilha soqueixada;
Cantando de madrugada,
Pisa as flores na verdura:
Vai fermosa, e nĂŁo segura.

Leva na mĂŁo a rodilha,
Feita da sua toalha;
Com uma sustenta a talha,
Ergue com outra a fraldilha;
Mostra os pés por maravilha,
Que a neve deixam escura:
Vai fermosa, e nĂŁo segura.

As flores, por onde passa,
Se o pé lhe acerta de pÎr,
Ficam de inveja sem cor,
E de vergonha com graça;
Qualquer pegada que faça
Faz florescer a verdura:
Vai formosa, e nĂŁo segura.

NĂŁo na ver o Sol lhe val,
Por nĂŁo ter novo inimigo;
Mas ela corre perigo,
Se na fonte se vĂȘ tal;
Descuidada deste mal,
Se vai ver na fonte pura:
Vai fermosa, e nĂŁo segura.

Também nós imos jå perto da Fonte;
E, Em quanto no cantar nos entretemos,
Temo que a vinda cĂĄ pouco nos monte.

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Sou um homem que um dia, ao abrir a janela, descobriu esta coisa importantĂ­ssima: que a natureza existe. Verifiquei que as ĂĄrvores, os rios, as pedras sĂŁo coisas que verdadeiramente existem. Nunca ninguĂ©m tinha pensado nisto. NĂŁo pretendo ser mais que o maior poeta do mundo. Fiz a maior descoberta que nenhum antes fez e ao pĂ© da qual todas as outras descobertas sĂŁo entretimentos de crianças estĂșpidas. Dei pelo universo. Os gregos, com toda a sua nitidez visual, nĂŁo fizeram tanto.

O degrau de uma escada não serve simplesmente para que alguém permaneça em cima dele, destina-se a sustentar o pé de um homem pelo tempo suficiente para que ele coloque o outro um pouco mais alto.

Raios não Peço ao Criador do Mundo

LX

Raios não peço ao Criador do Mundo,
Tormentas nĂŁo suplico ao Rei dos Mares,
VulcÔes à terra, furacÔes aos ares,
Negros monstros ao bĂĄratro profundo:

NĂŁo rogo ao deus de amor que furibundo
Te arremesse do pé de seus altares;
Ou que a peste mortal voe a teus lares,
E murche o teu semblante rubicundo.

Não imploro em teu dano, ainda que os laços
Urdidos pela fé, com vil mudança
Fizeste, ingrata Nise, em mil pedaços:

Não quero outro despique, outra vingança,
Mais que ver-te em poder de indignos braços,
E dizer quem te perde, e quem te alcança.

Conchita

Adeus aos filtros da mulher bonita;
A esse rosto espanhol, pulcro e moreno;
Ao pĂ© que no bolero… ao pĂ© pequeno;
PĂ© que, alĂ­gero e cĂ©lere, saltita…

Lira do amor, que o amor nĂŁo mais excita,
A um silĂȘncio de morte eu te condeno;
Despede-te; e um adeus, no Ășltimo treno,
Soluça às graças da gentil Conchita:

A esses, que em ondas se levantam, seios
Do mais cheiroso jambo; a esses quebrados
Olhos meridionais de ardĂȘncia cheios;

A esses lĂĄbios, enfim, de nĂĄcar vivo,
Virgens dos lĂĄbios de outrem, mas corados
Pelos beijos de um sol quente e lascivo.

Alucinação À Beira-Mar

Um medo de morrer meus pés esfriava.
Noite alta. Ante o telĂșrico recorte,
Na diuturna discĂłrdia, a equĂłrea coorte
Atordoadoramente ribombava!

Eu, ególatra céptico, cismava
Em meu destino!… O vento estava forte
E aquela matemĂĄtica da Morte
Com os seus nĂșmeros negros me assombrava!

Mas a alga usufructuĂĄria dos oceanos
E os malacopterĂ­gios subraquianos
Que um castigo de espécie emudeceu,

No eterno horror das convulsÔes marítimas
Pareciam também corpos de vítimas
Condenadas Ă  Morte, assim como eu!

A Negra FĂșria CiĂșme

Morre a luz, abafa os ares
Horrendo, espesso negrume,
Apenas surge do Averno
A negra fĂșria CiĂșme.

Sobre um sĂłlio cor da noite
Jaz dos Infernos o Nurne,
E a seus pés tragando brasas
A negra fĂșria CiĂșme.

Crespas vĂ­boras penteia,
Dos olhos dardeja lume,
Respira veneno e peste
A negra fĂșria CiĂșme.

Arrancando Ă  Morte a fouce
De buĂ­do, ervado gume,
Vem retalhar coraçÔes
A negra fĂșria CiĂșme.

Ao cruel sĂłcio de Amor
Escapar ninguém presume,
Porque a tudo as garras lança
A negra fĂșria CiĂșme.

Todos os males do Inferno
Em si guarda, em si resume
O mais horrĂ­vel dos monstros,
A negra fĂșria CiĂșme.

Amor inda Ă© mais suave,
Que das rosas o perfume,
Mas envenena-lhe as graças
A negra fĂșria CiĂșme.

Nas asas de Amor voamos
Do prazer ao ĂĄureo cume,
Porém de lå nos arroja
A negra fĂșria CiĂșme.

Do férreo cålix da Morte
Prova o funesto azedume
Aquele a quem ferve n’alma
A negra fĂșria CiĂșme.

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Os Meus Pensamentos são Todos SensaçÔes

Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho Ă© os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensaçÔes.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor Ă© vĂȘ-la e cheirĂĄ-la
E comer um fruto Ă© saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozĂĄ-lo tanto.
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.

Poema do SilĂȘncio

Sim, foi por mim que gritei.
Declamei,
Atirei frases em volta.
Cego de angĂșstia e de revolta.

Foi em meu nome que fiz,
A carvĂŁo, a sangue, a giz,
SĂĄtiras e epigramas nas paredes
Que nĂŁo vi serem necessĂĄrias e vĂłs vedes.

Foi quando compreendi
Que nada me dariam do infinito que pedi,
– Que ergui mais alto o meu grito
E pedi mais infinito!

Eu, o meu eu rico de baixas e grandezas,
Eis a razão das épi trågi-cómicas empresas
Que, sem rumo,
Levantei com sarcasmo, sonho, fumo…

O que buscava
Era, como qualquer, ter o que desejava.
Febres de Mais. Ăąnsias de Altura e Abismo,
Tinham raĂ­zes banalĂ­ssimas de egoĂ­smo.

Que sĂł por me ser vedado
Sair deste meu ser formal e condenado,
Erigi contra os céus o meu imenso Engano
De tentar o ultra-humano, eu que sou tĂŁo humano!

Senhor meu Deus em que nĂŁo creio!
Nu a teus pés, abro o meu seio
Procurei fugir de mim,
Mas sei que sou meu exclusivo fim.

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Soneto da Nudez

HĂĄ um misto de azul e trevas agitadas
Nesse felino olhar de lĂșbrica bacante.
Quando lhe cai aos pés a roupa flutuante,
Contemplo, mudo e absorto, as formas recatadas.

Nessa mulher esplende um poema deslumbrante
De volĂșpia e langor; em noites tresloucadas
Que suave nĂŁo Ă© nas rosas perfumadas
De seus lĂĄbios beber o aroma inebriante!

Fascina, quando a vejo Ă  noite seminua,
Postas as mĂŁos no seio, onde o desejo estua,
A boca descerrada, amortecido o olhar…

Fascina, mas sua alma Ă© lodo, onde nĂŁo pousa
Um raio dessa aurora, o amor, sublime cousa!
Raio de luz perdido em tormentoso mar!

O Deus Mal Informado

No caminho onde pisou um deus
hĂĄ tanto tenpo que o tempo nĂŁo lembra
resta o sonho dos pés
sem peso
sem desenho.

Quem passe ali, na fracção de segundo,
em deus se erige, insciente, deus faminto,
saudoso de existĂȘncia.

Vai seguindo em demanda de seu rastro,
Ă© um tremor radioso, uma opulĂȘncia
de impossĂ­veis, casulos do possĂ­vel.

Mas a estrada se parte, se milparte,
a seta nĂŁo aponta
a destino algum, e o traço ausente
ao homem torna homem, novamente.

Sou fundamentalmente um optimista. Que isso venha da Natureza ou do ambiente, não sei dizer. Parte de ser optimista é manter a cabeça virada para o sol, os pés a andar para a frente.