Passagens sobre PĂ©s

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Frases sobre pés, poemas sobre pés e outras passagens sobre pés para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

Poema do SilĂŞncio

Sim, foi por mim que gritei.
Declamei,
Atirei frases em volta.
Cego de angĂşstia e de revolta.

Foi em meu nome que fiz,
A carvĂŁo, a sangue, a giz,
Sátiras e epigramas nas paredes
Que não vi serem necessárias e vós vedes.

Foi quando compreendi
Que nada me dariam do infinito que pedi,
– Que ergui mais alto o meu grito
E pedi mais infinito!

Eu, o meu eu rico de baixas e grandezas,
Eis a razão das épi trági-cómicas empresas
Que, sem rumo,
Levantei com sarcasmo, sonho, fumo…

O que buscava
Era, como qualquer, ter o que desejava.
Febres de Mais. ânsias de Altura e Abismo,
Tinham raĂ­zes banalĂ­ssimas de egoĂ­smo.

Que sĂł por me ser vedado
Sair deste meu ser formal e condenado,
Erigi contra os céus o meu imenso Engano
De tentar o ultra-humano, eu que sou tĂŁo humano!

Senhor meu Deus em que nĂŁo creio!
Nu a teus pés, abro o meu seio
Procurei fugir de mim,
Mas sei que sou meu exclusivo fim.

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Soneto da Nudez

Há um misto de azul e trevas agitadas
Nesse felino olhar de lĂşbrica bacante.
Quando lhe cai aos pés a roupa flutuante,
Contemplo, mudo e absorto, as formas recatadas.

Nessa mulher esplende um poema deslumbrante
De volĂşpia e langor; em noites tresloucadas
Que suave nĂŁo Ă© nas rosas perfumadas
De seus lábios beber o aroma inebriante!

Fascina, quando a vejo Ă  noite seminua,
Postas as mĂŁos no seio, onde o desejo estua,
A boca descerrada, amortecido o olhar…

Fascina, mas sua alma Ă© lodo, onde nĂŁo pousa
Um raio dessa aurora, o amor, sublime cousa!
Raio de luz perdido em tormentoso mar!

O Deus Mal Informado

No caminho onde pisou um deus
há tanto tenpo que o tempo não lembra
resta o sonho dos pés
sem peso
sem desenho.

Quem passe ali, na fracção de segundo,
em deus se erige, insciente, deus faminto,
saudoso de existĂŞncia.

Vai seguindo em demanda de seu rastro,
Ă© um tremor radioso, uma opulĂŞncia
de impossĂ­veis, casulos do possĂ­vel.

Mas a estrada se parte, se milparte,
a seta nĂŁo aponta
a destino algum, e o traço ausente
ao homem torna homem, novamente.

Sou fundamentalmente um optimista. Que isso venha da Natureza ou do ambiente, não sei dizer. Parte de ser optimista é manter a cabeça virada para o sol, os pés a andar para a frente.

Sátira aos Penteados Altos

Chaves na mĂŁo, melena desgrenhada,
Batendo o pé na casa, a mãe ordena
Que o furtado colchĂŁo, fofo e de pena,
A filha o ponha ali ou a criada.

A filha, moça esbelta e aperaltada,
Lhe diz coa doce voz que o ar serena:
– «Sumiu-se-lhe um colchĂŁo? É forte pena;
Olhe nĂŁo fique a casa arruinada…»

– «Tu respondes assim? Tu zombas disto?
Tu cuidas que, por ter pai embarcado,
Já a mãe não tem mãos?» E, dizendo isto,

Arremete-lhe Ă  cara e ao penteado.
Eis senĂŁo quando (caso nunca visto!)
Sai-lhe o colchĂŁo de dentro do toucado!…

Vem Sentar-te Comigo, LĂ­dia, Ă  Beira do Rio

Vem sentar-te comigo, LĂ­dia, Ă  beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mĂŁos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e nĂŁo fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mĂŁos, porque nĂŁo vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer nĂŁo gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassosegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dĂŁo movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento —
Este momento em que sossegadamente nĂŁo cremos em nada,

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Precisava ser apenas – terra. E quanto a esta, todos a tĂŞm sob os pĂ©s. Era tĂŁo estranho sentir-se viver sobre uma coisa viva.

Mimos para Elisa

elisa. elisa tem ancas gordas e beiços carnudos.
elisa gosta de telefonar ao noivo. sentada no so
fá, com o joãozinho à beira, marca o número e diz:
elisa sim meu bem. entretanto o joĂŁozinho mete o
s dedos por baixo da saia de elisa, mete as mĂŁos,
mete os braços. elisa diz: sim meu bem. enquanto
elisa se recosta, joãozinho mete a cabeça debai
xo das saias de elisa, e faz que sim, faz vivamen
te que sim, enquanto elisa diz: sim meu bem. sim.
estes telefonemas com o noivo sĂŁo tĂŁo longos! se
pararam-se há pouco tempo. o noivo suplica: não
chores elisa. não suspires. a separação não será
eterna. elisa acalma-se. joãozinho sai cá para fo
ra. elisa chega-se muito a ele. joãozinho está ag
ora de pé. o noivo fala fala fala. pergunta: elisa
já comeste os bombons todos que te mandei minha
gulosa? elisa não responde. está com a boca cheia
. mesmo na conchinha do ouvido, muito suavemente,
o noivo chama-lhe gulosa. e outros mimos. outros.

Ă€ Minha Morte

Sei, que um dia fatal me espera, e talha
A minha vida o estame:
Nem Prosérpina evita uma só frente.
Sei que vivi: mas quando
Tem de soltar-se, ignoro, o vivo laço;
E se claros, ou turvos
Se hão-de erguer para mim os sóis vindouros. —
Pois, que ao sevo Destino
Me Ă© vedado fugir, fugi ao longe
Roazes Amarguras,
Que estes permeios anos minar vĂ­nheis.
Rir quero — e mui folgado,
De vos ver ir correndo, de encolhidas,
Escondendo na fuga,
As caudas dos medonhos ameaços.
Quero, entre mil saĂşdes,
De vermelha, faustĂ­ssima alegria
Ir passando em resenha,
Taça após taça, a lista dos amigos,
E o coro das formosas,
Que a vida me entreteram com agrado.
E reforçado e lesto
C’o nĂ©ctar da videira, as mĂŁos travando
Co’as engraçadas Musas,
Em dança festival, com pé ligeiro,
Na matizada relva,
Cansar de tanto jĂşbilo o meu sp’rito,
Que se vá (sem que o sinta)
Continuar o baile nos ElĂ­sios)
Entre o Garção e Horácio.
De lá, em novas Odes,

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2A Sombra – Bárbara

Erguendo o cálix que o Xerez perfuma.
Loura a trança alastrando-lhe os joelhos,
Dentes níveos em lábios tão vermelhos,
Como boiando em purpurina escuma;

Um dorso de ValquĂ­ria… alvo de bruma,
Pequenos pés sob infantis artelhos,
Olhos vivos, tĂŁo vivos, como espelhos,
Mas como eles também sem chama alguma;

Garganta de um palor alabastrino,
Que harmonias e mĂşsicas respira…
No lábio – um beijo… no beijar – um hino;

Harpa eĂłlia a esperar que o vento a fira,
– Um pedaço de mármore divino…
– É o retrato de Bárbara – a Hetaira.

Saudade

Magoa-me a saudade
do sobressalto dos corpos
ferindo-se de ternura
dói-me a distante lembrança
do teu vestido
caindo aos nossos pés

Magoa-me a saudade
do tempo em que te habitava
como o sal ocupa o mar
como a luz recolhendo-se
nas pupilas desatentas

Seja eu de novo tua sombra, teu desejo
tua noite sem remédio
tua virtude, tua carĂŞncia
eu
que longe de ti sou fraco
eu
que já fui água, seiva vegetal
sou agora gota trémula, raiz exposta

Traz
de novo, meu amor,
a transparência da água
dá ocupação à minha ternura vadia
mergulha os teus dedos
no feitiço do meu peito
e espanta na gruta funda de mim
os animais que atormentam o meu sono

O Belo é Necessário

Neste mundo o lindo Ă© necessário. Há mui poucas funções tĂŁo importantes como esta de ser encantadora. Que desespero na floresta se nĂŁo houvesse o colibri! Exalar alegrias, irradiar venturas, possuir no meio das coisas sombrias uma transmudação de luz, ser o dourado do destino, a harmonia, a gentileza, a graça, Ă© favorecer-te. A beleza basta ser bela para fazer bem. Há criatura que tem consigo a magia de fascinar tudo quanto a rodeia; Ă s vezes nem ela mesmo o sabe, e Ă© quando o prestĂ­gio Ă© mais poderoso; a sua presença ilumina, o seu contato aquece; se ela passa, ficas contente; se pára, Ă©s feliz; contemplá-la Ă© viver; Ă© a aurora com figura humana; nĂŁo faz nada, nada que nĂŁo seja estar presente, e Ă© quanto basta para edenizar o lar domĂ©stico; de todos os poros sai-lhe um paraĂ­so; Ă© um ĂŞxtase que ela distribui aos outros, sem mais trabalho que o de respirar ao pĂ© deles. Ter um sorriso que – ninguĂ©m sabe a razĂŁo – diminui o peso da cadeia enorme arrastada em comum por todos os viventes, que queres que te diga? Ă© divino.

homenagem a cesário verde

Aos pés do burro que olhava para o mar
depois do bolo-rei comeram-se sardinhas
com as sardinhas um pouco de goiabada
e depois do pudim, para um Ăşltimo cigarro
um feijĂŁo branco em sangue e rolas cozidas

Pouco depois cada qual procurou
com cada um o poente que convinha.
Chegou a noite e foram todos para casa ler Cesário Verde
que ainda há passeios ainda há poetas cá no país!

SĂŁo Leonardo da Galafura

Ă€ proa dum navio de penedos,
A navegar num doce mar de mosto,
CapitĂŁo no seu posto
De comando,
S. Leonardo vai sulcando
As ondas
Da eternidade,
Sem pressa de chegar ao seu destino.
Ancorado e feliz no cais humano,
É num antecipado desengano
Que ruma em direcção ao cais divino.

Lá não terá socalcos
Nem vinhedos
Na menina dos olhos deslumbrados;
Doiros desaguados
SerĂŁo charcos de luz
Envelhecida;
Rasos, todos os montes
DeixarĂŁo prolongar os horizontes
Até onde se extinga a cor da vida.

Por isso, Ă© devagar que se aproxima
Da bem-aventurança.
É lentamente que o rabelo avança
Debaixo dos seus pés de marinheiro.
E cada hora a mais que gasta no caminho
É um sorvo a mais de cheiro
A terra e a rosmaninho!

Ficar incomodado implica mexer-se; e ser valente é enfrentar o inimigo, firme, teso, de pé; portanto, se ficas incomodado, não ficas parado e foges.

Pense que eu cheguei de leve, machuquei você de leve, e me retirei com pés de lã. Sei que o seu caminho amanhã, será tudo de bom, mas não me leve