Passagens sobre PĂ©s

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A Superficialidade dos Grandes EspĂ­ritos

NĂŁo hĂĄ nada de mais perigoso para o espĂ­rito do que a sua relação com as grandes coisas. AlguĂ©m deambula por uma floresta, sobe a um monte e vĂȘ o mundo estendido a seus pĂ©s, olha para um filho que lhe colocam pela primeira vez nos braços, ou desfruta da felicidade de assumir uma posição invejada por todos. Perguntamos: o que se passa nele em tais momentos? Ele prĂłprio certamente pensa que sĂŁo muitas coisas, profundas e importantes; mas nĂŁo tem presença de espĂ­rito suficiente para, por assim dizer, as tomar Ă  letra. O que hĂĄ de admirĂĄvel, diante dele e fora dele, que o encerra numa espĂ©cie de gaiola magnĂ©tica, arranca os pensamentos do seu interior. O seu olhar perde-se em mil pormenores, mas ele tem a secreta sensação de ter esgotado todas as muniçÔes. LĂĄ fora, esse momento inspirado, solar, profundo, essa grande hora, recobre o mundo com uma camada de prata galvanizada que penetra todas as folhinhas e veias; mas na outra extremidade em breve se começa a notar uma certa falta de substĂąncia interior, e nasce aĂ­ uma espĂ©cie de grande «O», redondo e vazio. Este estado Ă© o sintoma clĂĄssico do contacto com tudo o que Ă© eterno e grande,

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Serei sempre o que nĂŁo nasceu para isso; Serei sempre sĂł o que tinha qualidades; Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pĂ© de uma parede sem porta…

Responso

I
Num castelo deserto e solitĂĄrio,
Toda de preto, Ă s horas silenciosas,
Envolve-se nas pregas dum sudĂĄrio
E chora como as grandes criminosas.

Pudesse eu ser o lenço de Bruxelas
Em que ela esconde as lĂĄgrimas singelas.

II
É loura como as doces escocesas,
Duma beleza ideal, quase indecisa;
Circunda-se de luto e de tristezas
E excede a melancĂłlica Artemisa.

Fosse eu os seus vestidos afogados
E havia de escutar-lhe os seu pecados.

III
Alta noite, os planetas argentados
Deslizam um olhar macio e vago
Nos seus olhos de pranto marejados
E nas ĂĄguas mansĂ­ssimas do lago.

Pudesse eu ser a Lua, a Lua terna,
E faria que a noite fosse eterna.

IV
E os abutres e os corvos fazem giros
De roda das ameias e dos pegos,
E nas salas ressoam uns suspiros
Dolentes como as sĂșplicas dos cegos.

Fosse eu aquelas aves de pilhagem
E cercara-lhe a fronte, em homenagem.

V
E ela vaga nas praias rumorosas,
Triste como as rainhas destronadas,

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Só às vezes piso com os dois pés na terra do presente, em geral um pé resvala para o passado, outro pé resvala para o futuro E fico sem nada

Elegia

Vae em seis mezes que deixei a minha terra
E tu ficaste lĂĄ, mettida n’uma serra,
Boa velhinha! que eras mais uma criança…
Mas, tĂŁo longe de ti, n’este Payz de França,
Onde mal viste, entĂŁo, que eu viesse parar,
Vejo-te, quanta vez! por esta sala a andar…
Bates. Entreabres de mansinho a minha porta.
VirĂĄs tratar de mim, ainda depois de morta?
Vens de tĂŁo longe! E fazes, sĂł, essa jornada!
Ajuda-te o bordĂŁo que te empresta uma fada.
Altas horas, emquanto o bom coveiro dorme,
Escapas-teĂŁda cova e vens, Bondade enorme!
Atravez do MarĂŁo que a lua-cheia banha,
Atravessas, sorrindo, a mysteriosa Hespanha,
Perguntas ao pastor que anda guardando o gado,
(E as fontes cantam e o cĂ©u Ă© todo estrellado…)
Para que banda fica a França, e elle, a apontar,
Diz: «Vå seguindo sempre a minha estrella, no Ar!»
E ha-de ficar scismando, ao ver-te assim, velhinha,
Que Ă©s tu a Virgem disfarçada em probrezinha…
Mas tu, sorrindo sempre, olhando sempre os céus,
Deixando atraz de ti, os negros Pyrineus,
Sob os quaes rola a humanidade,

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Hino Ă  SolidĂŁo

Diz-se que a solidĂŁo torna a vida um deserto;
Mas quem sabe viver com a sua alma nunca
Se encontra sĂł; a Alma Ă© um mundo, um mundo
[aberto
Cujo åtrio, a nossos pés, de pétalas se junca.

Mundo vasto que mil existĂȘncias povoam:
Imagens, concepçÔes, formas do sentimento,
— Sonhos puros que nele em beleza revoam
E ficam a brilhar, sĂłis do seu firmamento.

Dia a dia, hora a hora, o Pensamento lavra
Esse fecundo chĂŁo onde se esconde e medra
A semente que vai germinar na Palavra,
Cantar no Som, flores na Cor, sorrir na Pedra!

Basta que certa luz de seus raios aqueça
A semente que jaz na sua leiva escondida,
Para que ela, a sorrir, desabroche e floresça,
De perfumes enchendo as estradas da Vida.

Sei que embora essa luz nem para todos tenha
O mesmo brilho, o mesmo impulso criador,
Da GlĂłria, sempre vĂŁ, todo o asceta desdenha,
Vivendo como um deus no seu mundo interior.

E que mundo sublime, esse em que ele se agita!
Mundo que de si mesmo e em si mesmo criou,

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Stabat Mater

(Stabat Mater)

Estava a mãe de pé, jå sem o filho
que fora a razĂŁo de ter aceite
um quotidiano rasteiro e o prodĂ­gio:
entre ambos, nĂŁo ousava distingui-los.

Traspassara-se quando o viu deixar a casa
para se completar longe das mĂŁos
que o receberam e fizeram crescer,
– nela sempre menino, e tĂŁo inerme
que de si nunca o desprenderia.

Soubera que ele fora domado, escarnecido,
mais bem pago para ser mais proveitoso,
soldado em guerras de outros
em que sempre foi um derrotado;
traĂ­do por mulheres de uma beleza
nĂŁo somente fascĂ­nio e um ardil,
mas perdĂŁo para quem por elas se jogasse.
Mais que ninguĂ©m, ela sofrera-o sem dizĂȘ-lo.

Devolveram-lho por fim, jĂĄ sĂł em parte,
para uni-lo na cama onde nascera.

Tudo nela ruiu, os seus escombros
sĂŁo o mais intenso tĂșmulo,
sem ter onde vå sorver a força
para sumir-se no apagamento
de si mesma e de tudo,
até da manhã que a saudou a anunciar-lhe
o fruto que sua flor tinha alcançado.

E pede que nenhuma luz venha acordĂĄ-la.

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Como, Morte, Temer-te?

Como, morte, temer-te?
NĂŁo estĂĄs aqui comigo, a trabalhar?
NĂŁo te toco em meus olhos; nĂŁo me dizes
que nĂŁo sabes de nada, que Ă©s vazia,
inconsciente e pacĂ­fica? NĂŁo gozas,
comigo, tudo: glĂłria, solidĂŁo,
amor, até tuas entranhas?
NĂŁo me estĂĄs a sustentar,
morte, de pé, a vida?
NĂŁo te levo e trago, cego,
como teu guia? NĂŁo repetes
com tua boca passiva
o que quero que digas? NĂŁo suportas,
escrava, a gentileza com que te obrigo?

Tradução de José Bento

O Que Eu Sou

Nocturna e dubia luz
Meu sĂȘr esboça e tudo quanto existe…
Sou, num alto de monte, negra cruz,
Onde bate o luar em noite triste…

Sou o espirito triste que murmura
Neste silencio lĂșgubre das Cousas…
Eu Ă© que sou o Espectro, a Sombra escura
De falecidas formas mentirosas.

E tu, Sombra infantil do meu AmĂŽr,
És o SĂȘr vivo, o SĂȘr Espiritual,
A Presença radiosa…
Eu sou a DĂŽr,
Sou a tragica Ausencia glacial…

Pois tu vives, em mim, a vida nova,
E eu jĂĄ nĂŁo vivo em ti…
Mas quem morreu?
FĂŽste tu que baixaste ĂĄ fria cova?
Oh, nĂŁo! Fui eu! Fui eu!

Horrivel cataclismo e negra sorte!
Tu fĂŽste um mundo ideal que se desfez
E onde sonhei viver apoz a morte!
Vendo teus lindos olhos, quanta vez,
Dizia para mim: eis o logar
Da minha espiritual, futura imagem…
E viverei ĂĄ luz daquele olhar,
Divino sol de mistica Paisagem.

Era minha ambição primordial
Legar-lhe a minha imagem de saudade;
Mas um vento cruel de temporal,

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Jatir E Coema

JATIR

Desprezo-te, Coema, a velha usança
Que entre nĂłs se pratica… desprezaste:
O bem-vindo estrangeiro abandonaste
Que em mole rede o corpo seu descansa.

Desprezo-te, Coema, bem criança
Em meus braços de ferro te criaste
E neles sempre firme abrigo achaste
Mas pede a tua ação pronta vingança.

COEMA

Senhor das matas, meu Jatir valente,
Tu desconheces este amor ardente,
Choro embalde a teus pés mísera louca!

Afoga-me em teus braços musculosos.
Antes isso, que os beijos asquerosos
Do bem-vindo estrangeiro em minha boca!

A condescendĂȘncia, com o que tinha de indiferença e de mentira, era a grande inimiga da intimidade. A verdade podia fazer muita mossa. Estava longe de ser um valor absoluto. Mas, se ruĂ­a a intimidade, restava o quĂȘ? Sustinha-se de pĂ© o quĂȘ? Sustinha-nos de pĂ© o quĂȘ?

Novas da Corte

As damas nunca parecem
os galantes poucos sĂŁo
cousas de prazer esquecem
os negĂłcios vĂȘm e vĂŁo
nunca minguam, sempre crescem.
NĂŁo hĂĄ jĂĄ nenhum folgar
nem manhas exercitar
Ă© tanto o requerimento
que ninguém não traz o tento
senĂŁo em querer medrar.

Mil pessoas achareis
menos das que cĂĄ leixastes
doutras vos espantareis
porque vĂȘ-las nĂŁo cuidastes
da maneira que vereis.
Uns acabam outros vem
e uns tem outros nĂŁo tem
e os mais polo geral
folgam muito d’ouvir mal
e pouco de dizer bem.

Se cĂĄ sois bem ensinado
cada feira valeis menos
e se mal sois estranhado
dous dias e logo vemos
ficardes mais estimado.
E vai isto de maneira
que na capela cadeira
d’espaldas tem escudeiros
e consentem-lh’os porteiros
estarem na dianteira.

Anda tudo tĂŁo danado
que o que menos merece
se mostra mais agravado
e d’homens que nĂŁo conhece
Ă© el rei emportunado.
E estes que Deos padeça
hão de cobrir a cabeça
perant’ele no serĂŁo
e sĂł por isso lĂĄ vĂŁo
sem haver quem os conheça.

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A uma Mulher

Para tristezas, para dor nasceste.
Podia a sorte pÎr-te o berço estreito
N’algum palĂĄcio e ao pĂ© de rĂ©gio leito,
Em vez d’este areal onde cresceste:

Podia abrir-te as flores — com que veste
As ricas e as felizes — n’esse peito:
Fazer-te… o que a Fortuna hĂĄ sempre feito…
Terias sempre a sorte que tiveste!

Tinhas de ser assim… Teus olhos fitos,
Que nĂŁo sĂŁo d’este mundo e onde eu leio
Uns mistérios tão tristes e infinitos,

Tua voz rara e esse ar vago e esquecido,
Tudo me diz a mim, e assim o creio,
Que para isto sĂł tinhas nascido!

Acho tĂŁo Natural que nĂŁo se Pense

Acho tĂŁo natural que nĂŁo se pense
Que me ponho a rir Ă s vezes, sozinho,
NĂŁo sei bem de quĂȘ, mas Ă© de qualquer cousa
Que tem que ver com haver gente que pensa …
Que pensarĂĄ o meu muro da minha sombra?
Pergunto-me às vezes isto até dar por mim
A perguntar-me cousas. . .
E entĂŁo desagrado-me, e incomodo-me
Como se desse por mim com um pé dormente. . .
Que pensarĂĄ isto de aquilo?
Nada pensa nada.
TerĂĄ a terra consciĂȘncia das pedras e plantas que tem?
Se ela a tiver, que a tenha…
Que me importa isso a mim?
Se eu pensasse nessas cousas,
Deixaria de ver as ĂĄrvores e as plantas
E deixava de ver a Terra,
Para ver sĂł os meus pensamentos …
Entristecia e ficava Ă s escuras.
E assim, sem pensar tenho a Terra e o CĂ©u.

Encontro-me de pé sob um céu estrelado E sinto como o mundo rasteja no meu sobretudo, para fora e para dentro, qual um formigueiro